Odair

Ex-lateral do Palmeiras
por Rogério Micheletti

Odair Patriarca, o Odair, ex-lateral direito do Palmeiras, mora em Sorocaba (SP), no bairro Trujilo, e garante ter idade física de 20 anos. "Mas hoje sou treinador de futebol e aguardo oportunidades no futebol paulista", conta Odair, que nasceu no dia 18 de abril de 1963, em Itaporanga (SP). Como técnico, ele já comandou as equipes do Pinhalense e do Guaçuano.

Em 1º de outubro de 2012 começou a trabalhar no XV de Piracicaba, com os sub-20 do clube do interior paulista.

Como jogador, Odair começou a carreira no São Bento, em 1975. Jogou pela equipe de Sorocaba até 1985, ano em que atuou também pelo Flamengo (PI). "Fizemos uma excelente campanha pelo Flamengo do Piauí. Terminamos o Campeonato Brasileiro à frente da Portuguesa. O time era bom e tinha jogadores como o César (ex-goleiro do Corinthians) e o Sena (ex-Palmeiras).

No mesmo ano, o lateral voltou ao São Bento de Sorocaba para disputar o Campeonato Paulista. Mas não para atuar pelo lado direito, mas sim pelo esquerdo. "Soube que o Nelsinho (Baptista) tinha sido contratado. Não sabia que ele seria o técnico. Pensei que tinha sido contratado para atuar na lateral-direita. Eu pensei que não teria chance. Mas o Nelsinho foi apresentado como treinador e me testou na lateral-esquerda porque tinha dois para a direita, o Vargas (ex-Palmeiras) e o Paulinho", lembra Odair.

No ano seguinte, ele foi contratado pela Ponte Preta. Na Macaca, atuou ao lado do goleiro Sérgio, do centroavante Chicão, do volante Régis, do meia Valmir, do ponta-esquerda Mauro entre outros. "Tinha feito um bom Campeonato Paulista pelo São Bento. Alguns times como o Santos e o Palmeiras também demonstraram interesse na minha contratação. Mas o Nelsinho e o Dicá (que trabalhava na Ponte) me convenceram a pular um degrau de cada vez. Fui para a Macaca e não me arrependi", comenta.
 
Após dois anos no Majestoso, Odair deixou a Ponte para atuar no Figueirense. "Joguei no Figueira com grandes jogadores, entre eles o Vilson Taddei, o Daniel Frasson e o saudoso Sérgio Gil. E depois fui para o Rio Branco, de Americana, por indicação do preparador físico Flávio Trevisan", fala o ex-lateral.

Em 90, Odair foi o lateral-direito do Novorizontino, vice-campeão paulista. O Tigre tinha vários jogadores que ganhariam destaque no cenário futebolístico brasileiro, entre eles o goleiro Maurício, o zagueiro Márcio Santos, o volante Luís Carlos Goiano e o ponta Paulo Sérgio. O time dirigido por Nelsinho Baptista perdeu na final para o Bragantino, que tinha como técnico Vanderlei Luxemburgo. No primeiro jogo, em Novorizonte, empate por 1 a 1. Na partida de volta, em Bragança, outro empate por 1 a 1 (tempo normal e prorrogação).

"Cheguei ao clube um pouco antes do Nelsinho, com quem já tinha trabalhado no São Bento e na Ponte, ser contratado. Sou grato ao Novorizontino. No mesmo ano fui convocado para a seleção brasileira pelo Falcão. O curioso é que o meu passe era do Rio Branco (SP). Então, sou o único jogador da história a ser convocado para a seleção brasileira tendo o passe preso a um time da divisão intermediária do Paulistão", orgulha-se.

No segundo semestre daquele ano, ele foi negociado para o Palmeiras. Odair jogou dois anos no time de Palestra Itália e como jogador do alviverde chegou a ser convocado para a seleção brasileira pelo técnico Paulo Roberto Falcão.

"Estava na equipe que disputou a Copa América, em 91. Tive a oportunidade de jogar duas vezes pela seleção: contra o México, em Los Angeles, e contra a Bulgária, em Uberlândia", lembra Odair, que depois do Palmeiras atou pelo Sport Recife (1992), Marília (1993), Juventude (1993 a 1995), Bragantino (1996), Vila Nova-GO (1996) e Montes Claros-MG, onde encerrou a carreira em 1997.

Começou a nova carreira lá de baixo. Em 2003 e 2004 foi técnico da Pinhalense e depois dirigiu o Clube Atlético Guaçuano, de Mogi Guaçu-SP, na série B-3 (quinta divisão do campeonato paulista).

Recentemente, ele fez um estágio de técnico no Bayern de Munique, por indicação de seu amigo Paulo Sérgio. "Também fiz estágios na Roma (Itália) e no Bayer Leverkusen (Alemanha)", revela.
 
Presente do Mestre

Telê Santana é um exemplo para Odair. O ex-lateral se lembra até hoje das recomendações do ex-treinador, que o indicou para o Palmeiras. "Logo em meu primeiro dia de treinos físicos, no Parque do Piqueri (perto do Corinthians), o Telê me disse que eu jogaria como titular. Ele deslocou o Édson Abobrão para o meio de campo e eu fui para o jogo", conta.

Odair também chegou a ser indicado por Telê Santana para defender o São Paulo. "Estava emprestado ao Palmeiras. E assim que os dirigentes do Palmeiras souberam do interesse do São Paulo, eles compraram o meu passe", fala.

O lateral-direito revela que recebeu um presente especial de Telê. "Ele me deu um apito. E ainda me disse que eu deveria ser um técnico melhor do que ele. Isso vai ser difícil. Mas tenho muitos sonhos", fala Odair.

A saída do Palmeiras

Odair garante não ter nenhuma mágoa de Vanderlei Luxemburgo por ter saído do Palmeiras, mas admite que o técnico lhe desmotivou. "Quando o Luxemburgo chegou para dirigir o Palmeiras me falou para não criar muitas esperanças, já que ele pretendia usar outros jogadores na minha posição. Então, eu disse que aceitaria o convite de jogar no Juventude. Fui para Caxias junto com o Galeano (volante) e o César (goleiro)", diz Odair.

O ex-lateral também lembra que o título paulista conquistado pelo Palmeiras em 1993 tem muito do trabalho de Otacílio Gonçalves, o Chapinha. "O Luxemburgo ficou com os méritos da conquista. Mas quem montou aquele time foi o Chapinha", fala. Clique aqui e veja mais fotos de Odair Patriarca no site pessoal do ex-jogador.
 
Abaixo, confira a belíssima entrevista com Odair publicada pelo Portal UOL em 21 de outubro de 2018. Matéria assinada pelos jornalistas Arthur Sandes e Vanderlei Lima:
 
Ex-lateral da seleção lembra agressão na Lituânia: "Apanhei por 20 minutos"
 
Arthur Sandes e Vanderlei Lima
Do UOL, em São Paulo
 
Odair Patriarca mostra marcas de sangue após ter sido espancado na Lituânia
 
O torcedor alviverde talvez se lembre do lateral direito pequeno, de cabelos loiros ao estilo `He-Man´, que chegou à Academia de Futebol pouco depois da Copa do Mundo de 1990. Odair Patriarca apareceu no Novorizontino, jogou no Palmeiras e na seleção brasileira; mas sua melhor história é sobre a tentativa de ser treinador na Lituânia, que terminou antes mesmo de começar.

Após pendurar as chuteiras no final dos anos 90, Odair foi à Alemanha fazer um curso de treinador. De volta ao Brasil, trabalhou em categorias de base de clubes pequenos por mais de uma década até ser convidado, em 2015, a treinar uma equipe da Lituânia — o FC Nevézis, que atualmente disputa a segunda divisão. Chegou a acertar o contrato de dois anos, mas não deu sequer o primeiro treino: foi espancado por policiais horas antes de conhecer a equipe.

"Foi bem na minha chegada. Eu tinha acabado de descer do avião, então fui dar uma volta no quarteirão. Os caras chegaram batendo e eu falei`please, please´, mas que `please´ que nada: apanhei uns 20 minutos, chutes e mais chutes. Eram cinco contra mim, eu caí na neve e eles ficaram batendo, chutando com o coturno", conta Odair. O motivo das agressões só lhe foi explicado depois de interrogatório e detenção: os policiais alegaram ter confundido o homem ao lado de Odair com um ladrão de joias romeno.

O homem em questão era Armandinho, o jogador da equipe lituana que o tinha indicado ao clube. "Fomos para a delegacia de camburão, algemados. Chegando lá eles olharam o vídeo, e o ladrão não tinha nada a ver com o Armandinho", conta Odair. "A comandante veio pedir desculpas, mas aí eu já tinha apanhado. Falei para eles que se acertassem com o pessoal do clube, porque eu estava indo embora. Com essa recepção... Eu tinha acabado de chegar", reclama.

O episódio o abalou, e ele resolveu romper o acordo e voltar ao Brasil. "O contrato era de dois anos, e eu não recebi nada, fui embora. O clube queria que eu ficasse, mas eu não quis. Fechava os olhos e via os caras me batendo. Hoje eu dou risada, mas na hora não foi brincadeira", relembra. Três anos após o ocorrido, ele não tem qualquer sequela e até cogita um dia voltar à Lituânia, mas só como turista. "Posso até passar, mas ficar não (risos). Fiquei traumatizado porque apanhei muito."

Odair Patriarca seguiu treinando categorias de base até 2016, quando trocou o Novorizontino por um cargo na secretaria de esportes da cidade de Riversul, que fica no interior paulista, a 17km de sua cidade-natal Itaporanga. Ele é treinador de futebol e faz parte do projeto `Quem Ama, educa´.

Da caixa de sapato à seleção brasileira

Nascido em 1963, o ex-jogador quase morreu na infância. Foi diagnosticado com o chamado `mal de simioto´, nome popular dado aos casos de desnutrição de bebês que têm alergia ao leite de vaca. No caso de Odair, a alergia era ao leite de sua mãe. Ele chegou a ser desenganado pelos médicos, mas foi salvo pelo leite de uma tia. "Eu nasci com 600 gramas, praticamente cabia em uma caixa de sapato. Me deram 40 dias de vida, e meus pais já tinham preparado o óbito, mas minha tia ainda tinha leite pois meu primo acabara de nascer", conta.

Odair acredita que, pelas condições da sua infância, o fato de ter virado atleta profissional "foi um milagre". Ele começou na base do São Bento-SP, subiu ao time principal e, na década de 1980, passou a rodar por clubes como Ponte Preta, Figueirense e Rio Branco-SP. O empréstimo ao Novorizontino em 1990 foi o que impulsionou sua carreira. "Despontei por causa da `final caipira´ contra o Bragantino, no Paulistão. Aí o Telê Santana me levou ao Palmeiras; depois o Falcão me convocou para a seleção brasileira. Tudo isso no mesmo ano", relembra o ex-lateral.

Odair estreou com a amarelinha em um amistoso contra o México, em dezembro de 90. Depois, jogou contra a Bulgária, em maio de 1991, e sacramentou sua ida à Copa América daquele ano. "Estar entre os 22 melhores do teu país em uma Copa América foi um presente por tudo pelo que passei", celebra.

Mas o prestígio de ir à seleção brasileira não foi suficiente para mantê-lo no Palmeiras. Com a chegada da Parmalat ao clube em 1992, Vanderlei Luxemburgo optou por dispensá-lo para contratar Gil Baiano, lateral que havia vencido duas Bolas de Prata e que o técnico já havia treinado no Bragantino. "Não tenho nenhuma mágoa dele [Luxemburgo]. A escolha era dele, só que naquele momento foi errada", critica Odair. "Ele queria trazer o jogador dele, tudo bem, mas naquele momento praticamente me tirou de uma Copa do Mundo. Eu estava no grupo da Copa América e tinha a possibilidade de ir para a Copa de 94, como foram Márcio Santos e Paulo Sergio [todos ex-Novorizontino]."

Odair saiu do Palmeiras para o Juventude-RS, e ainda passou por Vila Nova e Bragantino antes de encerrar a carreira como jogador em 1997, no Montes Claros.

Foto: Arquivo Pessoal
 
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Pelo Palmeiras:

Pelo Verdão, ele atuou em 85 partidas, sendo 42 vitórias, 24 empates, 19 derrotas. Marcou quatro gols.

Fonte: Almanaque do Palmeiras, de Celso Unzelte e Mário Sérgio Venditti.

Pela Seleção Brasileira:


Como jogador, Odair chegou a ter oportunidade na Seleção Brasileira em 90 e 91, quando Paulo Roberto Falcão era o treinador. Ele disputou duas partidas pelo time canarinho (uma vitória sobre a Bulgária, por 3 a 0, e empate contra o México, por 0 a 0).

Fonte: Seleção Brasileira - 90 Anos, de Antonio Carlos Napoleão e Roberto Assaf.


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