Nascido em Lodz, na Polônia, em 11 de dezembro de 1924, Henry Nekrycz foi um escritor e historiador naturalizado brasileiro.

Mais conhecido pelo pseudônimo de Ben Abraham, o polonês sobreviveu ao terror da ocupação alemã em seu país natal durante a Segunda Guerra Mundial.

Após perder o pai em um gueto em Lodz, Abraham passou pelo campo de Auschwitz, onde perdeu também a mãe. Passou também pelos campos de concentração de Brauschweig, Watenstadt e Ravensbruck, até ser libertado na noite de 1° para 2° de maio de 1945, pesando apenas 28 kg e com os dois pulmões tomados pela tuberculose. Dentre 100 familiares, somente Abraham e um primo sobreviveram.

Após dois anos sendo transferido em hospitais norte-americanos na Alemanha, Abraham, segundo ele próprio, se curou da tuberculose por um milagre: "foi milagre; naquela época sequer existia cura para a doença".

Jornalista autodidata, cobriu a Guerra de Independência do Estado de Israel, em 1947.

Chegou ao Brasil em 21 de janeiro de 1955, em Santos, mas mudou-se para São Paulo onde casou-se com Miriam Dvora Bryk. No início, trabalhou como metalúrgico na fábrica de brinquedos "Estrela" e alimentava-se basicamente de bananas, segundo revelado pela filha Edith à Folha de S.Paulo.

Angustiado com tantas lembranças, Nekrycz resolveu colocá-las no papel e em 1972 publicou seu primeiro livro "...E o Mundo Silenciou", sob o pseudônimo Ben Abraham, nome pelo qual tornou-se conhecido até o fim da vida. Abraham adotou o nome por não querer transformar em pessoal uma história que, segundo ele, pertencia a todo o povo judeu.  Escreveu outras 14 obras sobre o tema.

Ao longo da vida, tornou-se reconhecido dentro e fora do círculo judaico. Manteve, inclusive, uma coluna sobre política internacional na "Folha da Tarde".

Realizou um dos maiores sonhos de infância: ser aviador. Ao que consta, era  o melhor aluno da turma no aeroclube paulista.

Morreu aos 90 anos, em São Paulo, no dia 9 de outubro de 2015, após complicações pulmonares. Deixou a mulher, uma filha (o primogênito faleceu anos antes) e netos.

No dia da morte de Ben Abraham, o jornalista Marc Tawil enviou o seguindo texto ao portal Terceiro Tempo, em homenagem ao grande Ben Abraham.

"E o gigante silenciou

Hoje a grande História, escrita com H maiúsculo, perdeu um de seus personagens. E a vida, um de seus bravos defensores. Morreu, aos 91 anos, em São Paulo, Henry Nekrycz ou simplesmente Ben Abraham, jornalista e escritor nascido em Lodz, Polônia, e radicado no Brasil desde meados de 1950.

Abraham conheceu ainda jovem o horror provocado pelo nazismo na Europa. Passou pelos campos de Brauschweig, Watenstadt e Ravensbruck entre 1943 e 1945, e, por fim, Auschwitz, onde dentre mais de 100 familiares, apenas um primo e ele sobreviveram. Foi libertado em 1º de maio de 1945, pesando menos de 30 quilos, com tuberculose nos dois pulmões e doente. E jurou que, a partir dali, jamais se calaria diante da intolerância e da barbárie. E assim foi.

No Brasil se casou com Miriam Dvora Bryk, constituiu família, e escreveu 15 livros sobre o Holocausto. Enfrentou revisionistas, falou a jovens em universidades e congressos do mundo todo, foi homenageado, homenageou e passou seus ensinamentos a crianças e adolescentes em escolas judaicas. Como judeu, morador de São Paulo, e com 41 anos, cresci ouvindo e vendo Ben Abraham, o sábio.

Em 1989, com 16 anos, lá estava eu no saudoso Colégio Renascença do bairro do Bom Retiro a assisti-lo. E lá estava ele a relatar os dramas que viveu nos campos de concentração. Dizia ele: “Foram as piores atrocidades cometidas pelo homem contra o próprio homem”. Naquela manhã, tive a honra de receber um livro dele, E o Mundo Silenciou, em sala de aula, por “ter feito boas perguntas” na palestra.

Recentemente, fui novamente agraciado ter podido entrevistá-lo, a convite de sua filha e companheira de uma vida, Edith Nekrycz Wertzner, na Congregação Israelita Paulista, em São Paulo, perante dezenas de sobreviventes do Holocausto e a minha família. Tarde inesquecível.

Nos despedimos com um beijo afetuoso.

Ben Abraham é meu herói (e de muitos) não apenas por sobreviver à maior tragédia do homem, responsável pela porte de 50 milhões de pessoas, sendo 6 milhões de judeus. Mas por lutar digna e incansavelmente para evitar que ela se repita – dia após dia, ano após ano, até sua partida, aos 91 anos.

No judaísmo, mantemos a alma viva daqueles que amamos quando perpetuamos seus valores e ideais. Farei isso por você, Ben. Vou sentir demais a sua falta.

Do seu aprendiz,

Marc Tawil"

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