Zinho e o pai, Crizam, um dos motivos de sua recusa ao convite de Jorginho

Zinho e o pai, Crizam, um dos motivos de sua recusa ao convite de Jorginho

Marcello De Vico e Vanderlei Lima
Do UOL, em Santos e São Paulo

Foram mais de 20 anos de carreira, e apenas sete clubes defendidos: Flamengo, Palmeiras, Yokohama Flugels-JAP, Grêmio, Cruzeiro, Nova Iguaçu e Miami-EUA. Zinho era desses jogadores, que construía uma identidade e preferia dar sequência em uma equipe só. Neste período, teve a oportunidade de jogar ao lado de grandes craques, em times inesquecíveis, e mesmo não sendo uma missão muito fácil, revelou em papo exclusivo com o UOL Esporte - escalando de 1 a 11 - quais foram suas ´seleções´ preferidas: Flamengo de 1987 e Palmeiras de 1993.

"Eu colocaria dois: o Flamengo de 87, Zé Carlos goleiro, Jorginho, Leandro, Edinho e Leonardo. Andrade, Ailton e Zico. Bebeto, Renato Gaúcho e Zinho. E o outro time é o Velloso, Marcão era banco, Cláudio Guadagno, Antônio Carlos, Cléber e Roberto Carlos. César Sampaio, Mazinho, Zinho e Rivaldo. Edmundo e Evair. Foram os dois melhores times que eu joguei", afirma o ex-jogador, que completa 50 anos de idade justamente neste sábado, dia 17 de junho.

Campeão do mundo em 1994, Zinho aponta o título conquistado com a seleção como o mais marcante da carreira. Mas não deixa de citar outros ´fundamentais´ como o Paulista de 1993 pelo Palmeiras, a Copa do Brasil de 2001 pelo Grêmio e o polêmico Brasileiro de 1987 pelo Fla.

"Ah, a Copa do Mundo de 94, marca na história do futebol mundial, mas eu tive títulos fundamentais: o de 93 do Palmeiras, o clube saiu da fila; o do Grêmio, Copa do Brasil de 2001, foi no dia do meu aniversário; o meu primeiro título pelo Flamengo, em 87, que muita gente contesta na Justiça, mas em campo o Flamengo foi campeão, e eu estava ao lado do Zico, do Leandro, do Edinho, com os meus irmãos Jorginho, Bebeto e Leonardo... Enfim, eu era garoto, tinha 20 anos, então o primeiro título marca. E claro que o título brasileiro pelo Cruzeiro de 2003... Foi o meu quinto título brasileiro, fiz gol que foi decisivo contra o Paysandu", recorda.

Bahia: Zinho disse ´não´ a Jorginho para ficar perto do pai

Depois de auxiliar Jorginho no retorno do Vasco à elite do futebol brasileiro, no ano passado, Zinho foi convidado pelo amigo e técnico há cerca de duas semanas para novamente acompanha-lo, agora em um trabalho no Bahia. Desta vez, porém, optou por recusar a proposta por um motivo justo: ficar mais perto do pai em datas especiais para os dois.

Crizam César de Oliveira Filho, mais conhecido como Zinho, completa exatos 50 anos justamente neste sábado, dia 17 de junho, dois dias depois de o pai, Crizam César de Oliveira, chegar aos 80. E além de ficar mais perto da família, Zinho alega outros motivos que o fizeram permanecer no Rio, como dar continuidade ao trabalho como comentarista na Fox Sports.

"Eu não queria me ausentar, queria ficar perto do meu pai. Tenho que cuidar dele na questão de saúde, então eu preferi ficar por aqui [no Rio de Janeiro]. O mês de junho é muito importante: aniversário do seu Crizam dia 15, aniversário meu, dia 17, e comemorações de títulos importantíssimos [Paulista pelo Palmeiras: 12 de junho de 1993, e Copa do Brasil pelo Grêmio, 17 de junho de 2001]", diz o ex-jogador.

Zinho conta ainda que conversou com Jorginho para esclarecer os motivos que o fizeram recusar o convite. E disse ter sido muito bem compreendido pelo ´irmão´.

"O Jorginho me convidou quando foi para o Bahia, mas, como era um contrato curto - só até o final do ano - e financeiramente não era uma proposta tentadora, eu não vi como um projeto bom para o meu futuro. O Jorginho entendeu isso. E também tenho algumas coisas particulares: eu não queria me ausentar aqui do Rio de Janeiro. Se fosse um projeto mais compensador financeiramente e também mais longo eu poderia até acompanha-lo. A gente tem essa parceria, e pode ser que no futuro a gente volte a trabalhar juntos, mas no momento eu não poderia ir, o Jorginho  entendeu isso. Eu me preocupei com isso, pela amizade que eu tenho com ele, nós somos irmãos, então eu quis deixar isso bem claro. Mas ao mesmo tempo eu também queria continuar esse projeto aqui com o pessoal da Fox, que é uma coisa que eu estou gostando de fazer, então eu preferi permanecer no Rio de Janeiro e fazer o meu trabalho como comentarista. Mas eu vou continuar me qualificando, continuar fazendo os meus cursos", acrescenta Zinho.

Comentarista x jornalista

Hoje comentarista no canal Fox Sports, Zinho deixa claro que não pretende tomar o espaço ocupado pelos jornalistas, até por entender que suas funções completamente distintas.

"As coisas na minha vida vão acontecendo. Acho que, por me expressar bem e ter uma boa aceitação por todos os torcedores, uma imagem boa, o convite aparece. Aí o convite apareceu, mas eu não fiz curso de jornalismo, é o meu conhecimento de futebol. Eu não sou jornalista, eu sou comentarista de futebol, é diferente uma coisa da outra. Eu não vou fazer uma matéria, uma entrevista, isso é para o jornalista, como também é mais difícil para o jornalista ficar comentando jogo, porque ele não jogou, não entrou em campo, não conhece o vestiário. O jornalista tem aquela capacidade de buscar história, de estudar a história dos times, mas parte tática, técnica, física, o dia a dia do jogador... Eu acho que é isso que me preparou para eu ser comentarista. É o que eu vivi no dia a dia do atleta", diz Zinho.

Sem citar exemplos de inspirações para a nova profissão, Zinho deixa claro o tipo de postura que jamais irá adotar em seus comentários: ofender algum técnico ou jogador.

"Eu admiro os caras que são coerentes, são éticos, que não entram em polêmicas. Eu não concordo assim: você falar que o cara não jogou bem é uma coisa, agora, falar que o jogador é uma bosta, que é uma droga, eu não concordo muito, porque o profissional, para chegar aonde chegou, ele teve algum mérito, teve algum talento, ele pode não estar desempenhando o melhor naquele momento, não jogou bem, não fez um bom jogo, não está se encaixando no esquema... Isso eu vou comentar, aí é diferente. Então eu procuro seguir o meu coração e a experiência que eu tive nesses 30 anos que estou dentro do futebol... Ou mais, né? Eu entrei no futebol com 11 anos de idade, vou fazer 50. Pô, são 39 anos", revela.

A maior decepção da carreira...

Apesar do título mundial em 1994, Zinho queria mais. E acha que tinha condições de ter participado de pelo menos mais uma Copa do Mundo: em 1998, com Zagallo, ou em 2002, com Luiz Felipe Scolari. Essa, aliás, é apontada por ele como a maior decepção de sua carreira.

"Não ter ido pra Copa do Mundo de 2002... Aliás, de 2002 e de 98, principalmente a de 98. Eu estava ali com a medida de terno, com tudo esperando só a última convocação, e fui cortado. E na de 2002 eu vivia o meu melhor momento no Grêmio, até a imprensa pedia a minha convocação. Eu nunca tive a oportunidade de conversar com o Zagallo e com o Felipão sobre isso, porque eu penso assim: ´ah, não fui convocado, eu vou falar o quê´? Eu prefiro carregar a amizade deles do que ficar constrangendo: ´Pô, por que tu não me levou em 98? Por que tu não me levou em 2002´? Opção do treinador, acontece, isso é normal, cada um tem um pensamento na hora", analisa o ex-jogador.

"Mas acho que eu poderia ter jogado uma das duas Copas do Mundo a mais. Eu estava no Grêmio em 2002, o Felipão tinha sido treinador lá, e eu estava na minha melhor fase. Ele levou o Anderson Polga, o Marcelinho Paraíba, o Tinga, levou tanta gente para os amistosos, e eu não fui em nenhum com ele, sendo que eu era o camisa 10 do Grêmio, capitão e o destaque do time, mas é opção", acrescenta.

Torcida por quem? Flamengo, Palmeiras ou Grêmio?

Por conta da profissão (ex-técnico e auxiliar e hoje comentarista), Zinho não consegue ´entregar´ por qual time torce. Mas não esconde o carinho que tem por três equipes em especial.

"É aquele negócio: hoje em dia eu, como profissional do futebol, trabalhei como treinador, auxiliar técnico, agora estou como comentarista da Fox, você tem que ficar um pouco isento. É difícil, eu tenho mais carinho, é claro, pelo Palmeiras, Flamengo e Grêmio, são times que eu tenho uma afinidade, uma identificação maior com os torcedores porque eu fiquei muito mais tempo nestes times; o Cruzeiro eu fiquei só um ano, foi maravilhoso, foi ótimo, mas é claro: se você perguntar na história desses times, esses torcedores têm mais lembranças", diz.

"Isso não quer dizer que só torço para esses três times. Hoje em dia eu olho o futebol como um apaixonado e como um profissional. Eu gosto de ver um bom jogo, gosto de analisar o jogo, eu sou apaixonado pelo futebol, mas é difícil você priorizar, falar: ´ah, quando eu não estou trabalhando em lugar nenhum eu vou assistir ao jogo do Flamengo´, e boto a camisa e vou lá torcer, não dá mais para fazer isso. Mas isso não quer dizer que eu não tenha uma gratidão, sem dúvida, e a própria imprensa e os torcedores me identificam com esses clubes. Mas sou profissional do futebol e não posso mais ficar torcendo", acrescenta.

Tite, Luxa... Quem foi importante em sua carreira?

Desde o início da carreira, ainda na base, até o fim dela, Zinho aproveitou ainda para recordar as pessoas mais importantes que fizeram parte dos mais de 20 anos em que jogou futebol. Entre elas, Parreira, Vanderlei Luxemburgo e até Tite, atual técnico da seleção brasileira.

"Eu queria destacar a pessoa que me viu jogando na minha rua, em Nova Iguaçu, o professor Paulo César, quem me levou para o Flamengo; o meu primeiro treinador, que foi o professor Carlinhos, que faleceu há pouco tempo; o Lazaroni, quem me levou pela primeira vez à seleção brasileira e que me deu a primeira chance no time titular do Flamengo; o Parreira, quem me levou para uma Copa do Mundo; o Vanderlei Luxemburgo, dos meus cinco títulos brasileiros, três foram com ele; o Tite foi um cara que até hoje, quando me encontra, acho até engraçado o nível que ele atingiu, e ele me agradece porque o inicio todo foi comigo, com a gente lá no Grêmio, e o título da Copa do Brasil em 2001 consolidou a carreira dele e ele ganhou experiência com a gente ali. E, claro, o meu, o seu Crizam, Eu tenho o mesmo nome, e ele viveu tudo isso junto comigo. Meu pai é o meu grande parceiro", completa.

Foto: Arquivo pessoal

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