Revelado pelo Verdão, ele foi o sucessor de "São Marcos"

Revelado pelo Verdão, ele foi o sucessor de "São Marcos"

Aos 33 anos de idade e com passagens por Palmeiras, equipes do interior de São Paulo e nordeste do Brasil, Eliton Deola, o Deola, está à procura de um clube. Seu contrato com o Palmeiras acabou em dezembro de 2015 e não foi renovado. Deola foi revelado pelo Alviverde e defendeu o time por mais de 100 jogos, nos quais realizou um ótimo trabalho tendo conquistado um título, a Copa do Brasil de 2012.

Além do Palmeiras, o goleiro fez sucesso no Vitória. Emprestado ao clube baiano, Deola fez parte do elenco rubro-negro que se classificou em quarto lugar na Série B de 2012, condição que levou o time de volta à elite do Campeonato Brasileiro. E no final da temporada, teve seu contrato renovado por empréstimo por mais um ano e ainda recebeu a faixa de capitão da equipe, que na época, era treinada por Caio Júnior. Fez duelos contra o rival Bahia que entraram para a história. Sempre com um resultado positivo a seu favor, participou daquela vitória por 2 a 1 no Barradão, conhecida como a “Revolta das Caxirolas”; dos 5 a 1, na inauguração da Fonte Nova; e dos 7 a 3 na final do estadual, tendo se sagrado campeão baiano de 2013.

Mas não só de glórias viveu o goleiro. Deola teve seus altos e baixos na carreira e ele revelou em entrevista exclusiva ao Portal Terceiro Tempo fatos que muitos desconhecem, como por exemplo, a difícil tarefa em substituir o ídolo palmeirense São Marcos.

Abaixo, confira essa entrevista:

Terceiro Tempo: como foi a adaptação em São Paulo longe da família no início da sua carreira?
Deola: é difícil ficar longe da família. Saí de casa eu não tinha 15 anos para Sorocaba, onde eu comecei. Bate saudade, eu era moleque, assim como todos os outros jogadores que começaram, tem que abrir mão logo cedo da família. Com exceção de quem já mora na própria cidade, mas a maioria dos jogadores têm que sair de um estado e ir para outro. Então você acaba adquirindo um estilo de vivência, você acaba ficando um pouco mais duro na questão de sentimento e tudo mais. Você tem que suportar a falta da família. Isso é algo assim, ou você aprende logo a lidar com essa situação, ou você não aguenta. Conviver com essa falta dos pais, dos amigos, muitos não aguentaram. Muita gente boa abandou o futebol por conta disso.

TT: a escola de goleiros do Palmeiras é lendária. Como é saber que faz parte dela e como foi o caminho até ela?
D: em 1999 eu jogava no Atlético Sorocaba e nós estávamos em um campeonato juvenil. Aí fomos fazer um jogo no CT do Palmeiras e eu fiz um jogo fora de série, umas 30 defesas. Bolas que até hoje eu não sei como é que eu defendi. Felipão e Carlos Pracidelli estavam assistindo e gostaram muito do meu desempenho. A partir daí começou conversas com a diretoria do Atlético Sorocaba e em janeiro de 2000, após um mês de testes no Palmeiras, eu entrei. Essa escola de goleiros do Palmeiras é uma potência pela cumplicidade que os goleiros e treinadores têm. São pessoas que se dão bem, um quer ajudar o outro. Não é porque um é reserva e o outro titular, que o reserva vai olhar de cara feia. Pelo contrário, ele está lá, de olho, avaliando, o que o titular pode melhorar. Entendeu? É uma cumplicidade que fez e ainda faz muitos resultados, porque hoje o Fernando Prass está sendo um dos destaques da equipe.

1TT: qual foi sua primeira partida como titular e qual foi o tamanho da responsabilidade em substituir o Marcos?
D: eu saí emprestado em 2006 para jogar em outros clubes e voltei na metade de 2008, quando o Diego Cavalieri foi vendido. Então por conta de eu ter saído e depois voltado, pela hierarquia, eu acabei me tornando terceiro goleiro, sendo o Marcos, o Bruno e eu. Mas em 2009, foi um fato que marcou bastante, até porque foi quando minha filha nasceu e eu estreei. Foi em um jogo contra a Ponte Preta e eu fiz uma partida excelente, nós estávamos com o time reserva, porque o titular tinha viajado para disputar a Libertadores e ganhamos de 3 a 2. Foram 9 anos esperando essa oportunidade e ela chegou. Depois de 2009, eu só fui jogar em 2010. Eu continuava sendo o terceiro goleiro, mas o Marcão e o Bruno se machucaram na pré-temporada e eu comecei o campeonato como titular. E quanto a responsabilidade, em 2010 e 2011, enquanto era considerado o reserva, eu tinha o Marcos como blindagem. Quando era culpa minha, caia a culpa em cima de mim, mas tudo bem. Quando o Marcos encerrou em 2012, a maioria dos gols que não eram culpa minha, acabavam sobrando para mim. E eu não tinha mais o Marcos. Isso, no meu subconsciente, acabou me prejudicando muito e com o meu emocional enfraquecido, eu acabei ocasionando algumas falhas e perdi a titularidade.

TT: como foi a rivalidade pela posição com o Bruno?
D: desde que eu cheguei no Palmeiras no juvenil, o Bruno e eu disputamos a posição. Tinha campeonato que eu jogava, outro ele jogava. E isso foi primordial para o nosso crescimento e dedicação, porque nos estimulava ainda mais nos treinamentos. Então, quem ganhou com isso foi o Palmeiras, que teve dois goleiros que cresceram e evoluíram muito com isso.

TT: quais técnicos você trabalhou e qual foi o mais marcante?
D: é difícil eu dizer um nome porque cada um tem uma coisa boa para te passar, ou seja, você vai sugar de cada um, uma nova experiência e informação para formar uma boa linha de raciocínio. Mas assim, na época, o que mais me marcou foi o Vanderlei Luxemburgo. Porque em 2002, ele me levou para Teresina para disputar a Copa dos Campeões, que foi o meu primeiro campeonato. Mas não desmerecendo ninguém, Felipão, Celso Roth, Estevam Soares, todos com quem trabalhei foram ótimos.

TT: o Palmeiras te emprestou muitas vezes para times do interior de São Paulo. Você acha que valeu a pena a experiência adquirida?
D: na verdade, a maioria das vezes que eu fui emprestado, foi por eu mesmo ter solicitado. Porque na minha cabeça, por eu estar na reserva, eu não ajudava muito. Eu quero jogar e ajudar de alguma forma. E foram esses empréstimos que me ajudaram a crescer. Se eu consegui fazer a minha estreia em 2009 tranquilo e não senti o peso da camisa, foram esses empréstimos que me ajudaram. Eu passei por grandes equipes que ficaram gravadas em minha lembrança, como Guarani, Juventus e Barueri. Isso me deu maturidade para estrear pelo Palmeiras em 2009. E no Vitória em 2013, quando fui emprestado após uma falha minha no Paulistão, eu quis provar que só foi um momento. Lá, eu fui muito bem. Cheguei com gabarito de goleiro de primeira divisão e fiz um grande campeonato, com um título estadual e um acesso à Série A. Naquela época eu poderia ter continuado no Palmeiras, mas não ia me sentir útil na reserva. Financeiramente falando, pode não ter sido uma boa. Mas para o meu bem-estar profissional, foi espetacular.

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TT: no Palmeiras de 2012 você era o titular e muitos atribuíram a você aquela eliminação do Paulista para o Guarani. Você acha que isso atrapalhou a sua carreira no clube?

D: o goleiro é analisado pelo último jogo. Mas se você analisar todos os meus jogos, você vai encontrar muito mais acertos do que erros. Tanto que uma de minhas características, é a regularidade. Eu não sou um goleiro espetacular, mas eu me considero regular, que tem poucas falhas e quando tem, as mesmas não revertem em gol. E na minha carreira, eu tenho poucas falhas. Mas eu cheguei a ponto em 2012, que o meu psicológico não estava em boas condições e eu acabei falhando demais. E esse demais, foram apenas três vezes e que resultaram em gol. Mais gente falhou naquele jogo e eu também falhei, mas a culpa caiu sobre mim e eu perdi a posição.

TT: na época, o Felipão era técnico e na coletiva após o jogo contra o Guarani, ele afirmou que você falhou. Como você encarou isso?
D: ele não mentiu, ele disse a verdade. Essa é a questão, quando eu falho, eu assumo. Na saída do campo eu fui o primeiro a dizer que falhei. E o Felipão fez o mesmo, isso é natural. Na minha opinião, quando a pessoa erra e ela tem consciência que errou, é natural. Eu estou acostumado a lidar com esse tipo de situação e critica. Mas o que eu não estava acostumado e muito menos preparado na época, era por exemplo o atacante acertar um chute indefensável no ângulo e a culpa cair inteiramente sobre mim.

TT: no retorno ao Palmeiras em 2014, você acha que merecia ter tido mais oportunidades?
D: eu preciso tomar muito cuidado, porque do jeito que eu der a informação, vai parecer que estarei culpando alguém. Mas em 2014, eu voltei para o Palmeiras com problema sério de púbis e fiquei muito tempo no departamento médico. E esse problema não foi 100% sanado e eu voltei a jogar. Eu ainda sentia dores, no entanto, nada que me atrapalhasse nos jogos. Eu só não conseguia treinar, ou melhor, tinha parte dos treinamentos que eu não conseguia fazer. E na minha consciência, eu queria jogar, mas eu sabia que não estava 100% para jogar. Eu fiz grandes partidas na minha volta mesmo não estando 100%, me saí muito bem contra o Flamengo, Vitória e Figueirense. Só que na goleada contra o Goiás, acabou sendo fatídico e nós fomos muito mal. Eles eram e foram muito superiores a nós. Além disso, tínhamos a pressão de lutar contra o rebaixamento. E nesse jogo contra o Goiás, quando o goleiro leva seis gols, a culpa acabou sendo toda do goleiro.

TT: em 2014, Fernando Prass já era considerado ídolo pelo torcedor. Mesmo assim, você acha que tinha condições de brigar pela titularidade com ele?
D: o Prass resgatou a confiança que o torcedor não tinha mais. Ele veio de fora e a gente (Deola e Bruno), éramos prata da casa e com a saída do Marcos, a cobrança acabou caindo sobre nós dois. E como o Palmeiras gastou dinheiro para contratar o Prass, teve mais tolerância. Tanto é que no início, o Prass teve bastante erros. Estes, que o Bruno e eu cometemos também. Porém, foram bem mais tolerantes com ele. Então, ele aproveitou isso e foi ganhando confiança e acabou crescendo muito em um curto espaço de tempo. Daí ele acabou fazendo grandes jogos e eu, se tivesse ficado, acredito que não renderia o suficiente por conta da lesão.

TT: seu contrato acabou em dezembro de 2015 e o Palmeiras não renovou. Há alguma mágoa com o clube?
D: não, de maneira alguma. Já era certo que não ia renovar, não tinha o porquê. Nos últimos três anos, eu passei praticamente longe do Palmeiras. Eu só tenho que agradecer ao Palmeiras por ter me dado a oportunidade. Hoje, eu tenho um nome forte no futebol e isso graças ao Palmeiras. Então por onde eu passo, eu sempre sou lembrado como o sucessor do Marcos, o goleiro do Palmeiras.

TT: nesse meio tempo, você recebeu alguma proposta?
D: eu recebi algumas propostas no início do ano para disputar estaduais. Só que no ano passado, eu fiquei sócio de uma churrascaria em Fortaleza ("Churrascaria Boi Negro", na Av. Beira Mar, 2500, Meireles, Fortaleza-CE) e como eu já estou com 33 anos, eu peguei esse tempo para aprender mais. Ter mais noção de administração. Aproveitei também, para depois de 16 anos de competição, ficar mais presente com minha família. E assim, eu sigo treinando e apto para jogar em plenas condições físicas, só resta agora uma nova proposta porque eu quero voltar a jogar bola.

3TT: após a aposentadoria do Rogério Ceni, o São Paulo passa por um drama na posição semelhante ao do Palmeiras com a saída do Marcos. Você encararia a torcida são-paulina e aceitaria o desafio de um possível convite do Tricolor?
D: é óbvio! O São Paulo é um clube que todo mundo gostaria de jogar e lógico, eu por ter um vínculo muito grande com o Palmeiras, acaba criando um certo receio com isso na torcida. Mas eu vou defender o Dênis nessa questão, porque a mesma coisa que ele está passando no São Paulo com a aposentadoria do Rogério, eu passei no Palmeiras com a saída do Marcos, já que os dois são ícones do futebol e goleiros incomparáveis de qualidades extremamente superiores. E eu já sabia que o Dênis enfrentaria problemas com a aposentadoria do Rogério, não pela qualidade e nem pela maturidade, mas é que todo gol que o Dênis tomar, vai ser comparado com o Rogério. Pois os comentários “essa bola era defensável, essa o Rogério pegava” vão existir. Isso só vai acabar com uma contratação, igual a do Prass no Palmeiras. E tenho certeza que o Dênis sofre com relação a isso, com toda essa pressão e crítica que não deveria acontecer.

TT: sem contrato e treinando em separado, o que você espera para sua carreira?
D: eu ainda sou novo, tenho 33 anos. E quando eu optei por me afastar um pouco do futebol, eu sabia do risco que eu estava correndo, porque quem não é visto, não é lembrado. Quando vão fazer uma contratação, vão se questionar onde está o Deola. Se está parado ou jogando, se vai dar certo ou se não vai. Mas eu tenho consciência e convicção do meu trabalho, eu sei do meu potencial e eu acredito que dependendo da oportunidade, seja ela qual for, não importa o clube e a divisão, eu sei que eu posso realizar um ótimo trabalho. Hoje mais maduro, eu estou com a cabeça boa para poder focar exclusivamente no futebol. É que é diferente quando você tem 20 anos, né? Mas eu só estou aguardando essa oportunidade para eu provar esse meu potencial, essa minha qualidade.

Foto: Almeida Rocha/Folhapress - UOL

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