Um mimoso elétrico autônomo e um endiabrado puro-sangue. Fotos: Marcos Júnior Micheletti/Portal TT

Um mimoso elétrico autônomo e um endiabrado puro-sangue. Fotos: Marcos Júnior Micheletti/Portal TT

Deve ter sido em 1978 a minha primeira visita a um Salão do Automóvel, no Pavilhão de Exposições do Anhembi.

Falo isso porque lembro bem do alvoroço em torno do Corcel II, lançado no final do ano anterior.

Eu era leitor assíduo de "Quatro Rodas", em especial dos testes capitaneados por Claudio Carsughi; reportagens completas, detalhadas, beirando a perfeição.

O Salão, em si, servia apenas para que eu sentisse o cheiro do estofamento e simulasse trocas marchas, afinal, quase todos os carros tinham câmbios manuais.

Eu sabia exatamente quantos cavalos cada motor desenvolvia, quantos litros o porta-malas comportava, o consumo médio na cidade e na estrada, etc.

O Anhembi deixou de sediar o evento. Em 2016 as montadoras trocaram a zona norte pela zona sul da cidade, para o São Paulo Expo, na Imigrantes.

Há um estacionamento coberto a R$ 45,00 (preço fixo, sem fracionamento, tanto faz se você passar duas ou 12 horas...). Dele é possível acessar o pavilhão por uma passarela coberta. Todo conforto tem seu preço...

No Anhembi, estacionar era uma aventura. A avenida Olavo Fontoura, via de acesso ao estacionamento, ficava travada. Custava bem menos, é verdade, mas em dia de chuva as poças obrigavam os visitantes a saltos que normalmente resultavam em sapatos encharcados.

Aqui, uma curiosidade: nos tempos do Anhembi eu morava por aqueles lados. E, hoje, também moro perto do São Paulo Expo.

O Salão me persegue...

Os estandes ficaram menores, e não poderia ser diferente, uma vez que o espaço atual é bem menor que o do Anhembi.

Caminhar pelo antigo Salão era tarefa para semi-maratonista.

Hoje é fácil varrer todo o espaço por duas vezes durante um único período do dia, sem cansar. O ar-condicionado também ajuda, outro item inexistente no Anhembi.

Porém, o que me chama mais atenção no atual modelo de Salão do Automóvel de São Paulo, desde o anterior e este, é com relação aos carros.

A preocupação dos fabricantes, e de grande parte do público, se volta às centrais multimídias dos veículos...

A tal da interatividade...

Pouquíssimos expositores abrem os cofres dos motores.

Muitos visitantes "dão de ombros" à motorização, pois estão mais interessados em saber o tamanho da tela que há a bordo, bluetooth, compatibilidade para IOS, Android...

Exceto pela obsessão, quase tara, que alguns têm em relação à expressão "quilos de torque", isso sem ao menos terem noção de como se chega a um determinado valor nesse quesito.

Aliás, vejo alguns vídeos curiosos na internet, em que sinto a chamada "vergonha alheia".

Apresentadores que sentam-se ao volante e usam expressões como "puta" carro, essa roda é muito f*..., e essa cor é do c*...

Outro dia, um extremo, em um vídeo de um grande site: o moço guiava um utilitário 4x4 e criticava os "degrais" existentes na base da alavanca do câmbio automático...

Outro apresentador, de outro "canal", sugeria que seus espectadores vissem as "fotinhas" de um carro em seu Instagram. O diminutivo de foto é fotinho ou fotozinha. "Fotinha" não existe.

Quando ouço "pérolas" deste naipe me embrenho no site do Carsughi, onde os termos técnicos são esmiuçados por um engenheiro de formação e jornalista de primeira.

Sem palavrões, e de forma simples e ao mesmo tempo elegante, o Mestre traduz a linguagem técnica para a coloquial, a exemplo do que fazia Joelmir Beting com a economia.

Voltando ao Salão...

Neste ano, o apelo aos veículos elétricos ganhou um espaço ainda maior, quando comparado à exposição de 2016.

Os fabricantes exaltam o progresso na autonomia, "Calcanhar de Aquiles" dos modelos que necessitam de uma carga na tomada.

Aliás, falando em carga na tomada, em um país como o Brasil, tão vulnerável na questão energética, com sua matriz hidrelétrica, dependente do regime de chuvas, imagino o desastre que seria se a frota elétrica de veículos aumentasse.

Se hoje há "bandeira vermelha" na conta de luz toda vez que o nível das represas cai, o colapso será inevitável se além de chuveiros na posição "inverno" e chapinhas para moldar fios de cabelo, as pessoas ainda utilizarem a tomada de casa para recarregar o possante...

Os veículos elétricos, silenciosos, se fossem comestíveis seriam comparáveis àqueles doces sem graça que viraram modinha, os cupcakes. Prefiro nem mencionar os carros autônomos...

De qualquer forma, ainda há espaço, mesmo que reduzido, como sempre foi, para travessos motores de 8, 10 ou 12 cilindros.

Entre doçuras e travessuras automobilísticas, a diferença é bem grande...

Dispenso, obviamente, as doçuras...

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