Curitiba, Aloísio e os Padilla

Curitiba, Aloísio e os Padilla

O rugby tem tradições únicas. Uma delas, a existência de um clube que na realidade não existe, os Barbarians, cuja missão é divulgar o rugby pelo mundo, e isso desde 1914.

Pois bem. Como parte dos amistosos de final de ano, em que as potências do Hamisfério Sul visitam o Norte, os Barbarians receberam os Wallabies no santuário de Twickenham, para um encontro que encheu os olhos de quem pôde acompanhar.

Com muitos neo-zelandeses e sul-africanos em sua formação, os Barbarians tiveram no jogo, vencido pelos australianos, três momentos excepcionais e diferentes, que merecem comentário aqui pelo inusitado.

Logo no início do jogo, um line-out para os Barbarians. Luatua assume a posição de hooker e simplesmente lança uma bomba de 40 metros, verdadeiro lançamento de quarter-back que por muito pouco não encontra um alucinado Nick Cummins, o ponta australiano que parece ter saído de um filme do período do flower power. Lance totalmente inesperado e incomum, de uma plasticidade e improviso raros.

Não muito depois, outro line-out para os Ba’abs, este já a cinco metros do in-goal de defesa dos Wallabies. Nada menos do que doze atletas perfilam-se para o lance, deixando apenas três, míseros três atletas em formação de backs. Perdido aquele line-out, o resultado seria necessariamente um contra-ataque mortal para os Wallabies.

Mas não. Bird, o segunda linha cujo nome não poderia ser mais adequado, sobe alto (ou teria sido o escocês Kellogg?), fica com a bola, e forma-se um grande maul em direção ao in-goal australiano.

Não foi try, mas foi outro lance inusitado e de arrancar sorrisos e aplausos de qualquer rugbier.

E, por fim, o penal que se seguiu. Ali, nos mesmos cinco metros do in-goal, o scrum-half argentino gesticula, como quem vai jogar om os forwards em movimento aberto, para simplesmente “pendurar” a bola, de costas, para dentro do in-goal Wallaby. Incrível.

Os Barbarians cumprem sua função: apresentam um rugby que encanta, improvisa, alegra. E mostram que tradição boa tem de ser mantida.

Enquanto isso, no Brasil, tradições foram quebradas e mantidas neste final de semana, na final do Super 10.

O Curitiba Rugby venceu o torneio pela primeira vez, fruto de um trabalho iniciado em 2010, conforme disse o Aloísio, nosso ex-presidente da ABR/CBRu, que iniciou o processo de desenvolvimento do esporte que hoje vivemos.

Com uma equipe consistente, bem executando os fundamentos – tackle, rucks, mauls, line-outs, passes e chutes – do jogo, o Curitiba mereceu vencer um São José que teve alguns desfalques importantes.

Mas o que mais me chamou a atenção no jogo foi a manutenção de uma tradição das mais importantes do nosso rugby: a presença de pelo menos um Padilla na equipe campeã.

Os Padilla dispensam apresentações no rugby nacional, todos os conhecem. Devo a eles o fato de ter iniciado cedo a prática do esporte. Por influência do Faco (Rodrigo Padilla), a quem já conhecia do bairro em que morávamos, é que comecei a jogar rugby quando o Colégio Visconde de Porto Seguro iniciou sua equipe, isso lá em 1980.

Ao longo de meus anos no Alphaville Rugby, não me lembro de um jogo importante sem a presença da Dona Teresita e Sr. Ricardo (Mami e Papi, assim os chamávamos), acompanhados de Teresita, a única filha dos seis, sempre apoiando os filhos, em campo ou fora dele.

Tive o privilégio de jogar com Diego, Javier, Faco e Fermin, e só não joguei com o Álvaro porque um acidente o tirou dos campos muito cedo.

Neste sábado, ao chegar ao estádio para a final do Super 10, ali estavam, como sempre, todos os Padilla, agora já com a terceira geração, os netos da Mami, correndo pelas arquibancadas.

E, em campo, pelo Curitiba, o Stefano Padilla. A sensação de ver, de novo, um Padilla campeão brasileiro, foi muito forte. No momento em que Stefano e Fermin se abraçaram, ao final do jogo, revivi cenas que remontam a 1984, e que se repetiram várias vezes ao longo do período transcorrido desde lá.

O rugby é mágico. Permeia a vida de quem se vincula ao esporte de forma intensa. E faz momentos como o de sábado valerem muito. Parabéns ao Curitiba, e obrigado aos Padilla, essa família incrível.

Foto: UOL

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