Júlio César, goleiro do Corinthians, exibe suas medalhas

Júlio César, goleiro do Corinthians, exibe suas medalhas

Marcello De Vico e Vanderlei Lima
Do UOL, em Santos e São Paulo

Revelado nas categorias de base do Corinthians e bicampeão da Copa São Paulo de Juniores, em 2004 e 2005, Júlio César deixou seu nome marcado na história alvinegra. Longe de `casa´ desde 2014, quando foi para o Náutico, ainda é dele a marca de jogador com mais títulos pelo clube de Parque São Jorge desde que este foi criado, em 1910.

O goleiro esteve no elenco nas 11 conquistas do clube entre 2004 e 2014, incluindo as duas Copinhas, seja como titular, como na conquista do Brasileirão de 2011, ou como terceiro goleiro, como a Copa do Brasil de 2009. Em cinco desses títulos, o atleta esteve em campo pelo alvinegro.

Apesar da fase complicada que viveu após uma atuação infeliz na derrota por 3 a 2 para a Ponte Preta, que provocou a eliminação precoce do Corinthians no Campeonato Paulista de 2012, a identificação do goleiro com o clube não foi abalada. O carinho segue o mesmo e, apesar de não ver possibilidade em voltar ao time como jogador, Júlio César ainda sonha em dar sequência a sua história no Timão, mas de outra forma: fora das quatro linhas.

"Para ser sincero... Para jogar é bem mais complicado, mas eu quero, quando parar de jogar, continuar no futebol, não sei em que área ainda, mas quero trabalhar no Corinthians, sim, porque acho que tem muita coisa em que posso ajudar", disse Júlio César em entrevista exclusiva ao UOL Esporte. O goleiro tem no currículo dois Brasileiros (2005 e 2011), dois Paulistas (2009 e 2013), Série B (2008), Copa do Brasil (2009), Libertadores da América (2012), Mundial de Clubes (2012) e Recopa Sul-Americana (2013).

Júlio iniciou sua história no Corinthians em julho de 2000, aos 15 anos. Hoje aos 34, Júlio César é grato a inúmeras pessoas que fizeram parte de sua ainda ativa carreira. A primeira delas é Adailton Ladeira, ex-técnico das categorias de base do Corinthians e campeão da Copinha em 2004, 2005 e 2009. "Ele tem importância demais na minha carreira porque foi quem me colocou para jogar uma Taça São Paulo, o cara que me deu dicas e conselhos. Quando eu estreei no profissional, liguei para ele para agradecer. É um cara por quem tenho muito carinho e consideração", declarou Júlio César, que desde pequeno já sabia o que queria ser.

"Sempre quis ser goleiro, é paixão da infância. Meus ídolos eram o Ronaldo Giovanelli e o Zetti, foram nestes dois que mais me inspirei", conta o arqueiro, que depois de estrear em 2005, quando Fábio Costa era o titular, precisou de mais cinco anos `esquentando o banco´ de Johnny Herrera, Silvio Luiz, Jean e Felipe até finalmente ganhar a posição, em 2010. O auge, segundo o próprio goleiro, foi alcançado no fim de 2011, com o título brasileiro. O jogo que determinou a conquista - empate sem gols com o Palmeiras, pela última rodada - teve Júlio César como principal destaque. Fechou o gol no Pacaembu e confirmou o penta brasileiro ao Timão.

"É impossível esquecer. Foi um título muito importante. Claro que não era um mata-mata, mas fomos campeões brasileiros, e era a última partida, contra o rival, tudo aquilo envolvido, então para mim foi muito especial. Eu fui o titular, foi o jogo em que homenageamos o Sócrates, mesmo dia do falecimento dele, então esse jogo não esqueço de jeito nenhum. Teve o Mundial, impossível esquecer também, foi um dos momentos mais marcantes da minha carreira, viver a grandeza de ser campeão mundial... Só depois que você para pra pensar e as pessoas falam com você na rua, reconhecem que você foi campeão mundial, que você vê o tamanho do feito que a gente conseguiu fazer", destaca o arqueiro.

"Para mim é um orgulho ter participado de tantas conquistas no clube onde fui criado e que amo. É motivo de um orgulho enorme. Foram 11 títulos contando a Copa São Paulo".

O início da queda no Corinthians e a sinceridade de Tite

Meses depois, a lua de mel com a torcida corintiana chegou ao fim. E com Tite também. Uma atuação para ser esquecida contra a Ponte Preta, pelas quartas de final do Paulistão de 2012, fez Júlio César ir do céu ao inferno. Foi o princípio de uma fase ruim que perdurou basicamente até a sua saída do clube, em 2014. Momentos que hoje já são encarados com mais naturalidade pelo goleiro, mas que na época machucaram. Ao menos, ele pôde contar com o apoio do próprio treinador que lhe tirou a posição de titular do gol corintiano. Sinceridade não faltou a Tite.

"Foi bem natural. Ele foi bem sincero e franco, como o Tite sempre foi comigo e com todos os atletas com quem trabalhou. Ele me disse que tinha que tomar uma decisão, que era um momento importante, que ele ia fazer uma troca e estava me comunicando, mas que queria continuar contando comigo no plantel porque eu tinha minha importância. Foi sincero, precisava falar a verdade, tomar uma decisão como treinador, e eu, como comandado, apenas compreendi. Claro que você não gosta, mas você aceita, e continuei trabalhando. Mas o Tite sempre conversou comigo, sempre tive uma relação muito boa com ele, é um cara muito bacana, nunca me deixou de lado, nunca deixou que eu me sentisse abandonado, então isso para mim foi importante porque eu me senti dentro do processo, mesmo não jogando", lembra.

A ida de Júlio César para o banco de reservas abriu caminho para outro jogador da mesma posição brilhar. Hoje considerado por muitos o `melhor goleiro da história do Corinthians´, Cássio tomou conta do gol alvinegro e foi uma das principais peças do time nos títulos da Libertadores e do Mundial, logo em seu primeiro ano no clube, em 2012. Além disso, já é o segundo goleiro que mais vestiu a camisa da equipe alvinegra, atrás apenas de Ronaldo Giovanelli.

"É mais do que merecido por tudo que ele fez, pela qualidade que tem, pelos títulos que ganhou. Ele tem muito potencial para alcançar outras marcas ainda. Entendo que, quando eu saí, foi o momento de sair. Tudo tem um começo e um fim, e ele entrou e agarrou a oportunidade. O Cássio é um cara que tem muita qualidade, só tenho coisas boas para falar dele", disse.

Em baixa no Corinthians, Júlio César resolveu que havia chegado a hora de mudar de ares. E assim foi. Em 2014, foi emprestado ao Náutico e por lá ficou por mais de dois anos. Em 2017, defendeu o rival Santa Cruz, e desde o começo do ano passado veste as cores do Red Bull.

"Em 2013 eu já não estava jogando, e em 2014 eu saí. Foi quando já não tinha mais espaço. Quando saí do time era reserva, depois comecei a revezar banco com o Danilo Fernandes, e depois comecei a revezar banco com o Walter. Aí, quando tive a oportunidade de jogar, não joguei, então estava na hora de procurar algum outro lugar. Faltavam seis meses para vencer meu contrato e fui emprestado para o Náutico", recorda o arqueiro de 34 anos.

"Foi uma experiência totalmente nova porque eu nunca tinha saído daqui, nunca tinha saído de perto da família. Foi um momento novo da minha carreira, inédito, experiências novas não só minha, como da minha família também. Eu sempre brinco com os outros que o futebol no Corinthians é uma bolha; você vive totalmente fora do que é a realidade do futebol, pela grandeza, por tudo que tem, pela organização, pela estrutura. Então, quando você sai e vai para um clube que não tem essa estrutura, é bom porque você tem aprendizado", acrescenta.
Red Bull e Júlio César em grande fase

Atual time de Júlio César, o Red Bull Brasil é a grande surpresa do Campeonato Paulista. "O time está jogando muito bem, estamos conseguindo resultados expressivos e é bom porque todo mundo está no mesmo sentido, todos buscando as mesmas conquistas, fazer com que o clube cresça, seja grande, esse é objetivo deles. E está sendo mesmo uma fase muito maravilhosa na minha carreira, e de aprendizado também", disse.

Pelo Red Bull, Júlio César já encarou o Corinthians em duas oportunidades. Em ambas, não saiu derrotado. Mas ele não esconde: enfrentar o clube de coração é algo que mexe com ele.

"Foram duas vezes pelo Red Bull. Nós empatamos no ano passado e ganhamos esse ano. E é especial pela lembrança, por tudo que envolve, por estar jogando perto do torcedor, isso é importante. O jogo em si acaba sendo normal, mas a ansiedade que antecede a partida é um pouco diferente", admite Júlio César, que tem contrato com o Red Bull até o fim do ano e ainda espera atuar por mais um bom tempo no futebol.

"Pretendo jogar mais uns cinco anos ainda, até os 39, 40. Tenho muita lenha para queimar. Estou me cuidando bastante para sempre me manter em alto nível e poder estar fazendo bons jogos. Quero voltar a jogar a Série A do Campeonato Brasileiro, se Deus quiser. Se eu puder participar do processo do Red Bull até chegar na Série A, quem sabe", completou.

Foto: Leonardo Soares/UOL

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