Os ídolos no Santos costumam vestir as camisas 7, 10, 11. Mas a partir de 2002, o meu ídolo era o que usava a camisa 3

Os ídolos no Santos costumam vestir as camisas 7, 10, 11. Mas a partir de 2002, o meu ídolo era o que usava a camisa 3

Dizem que jornalista tem que ser imparcial e, que no momento de analisar e opinar sobre um fato, é preciso se manter neutro, colocar o profissionalismo acima de tudo. Quando a editoria é a de esportes, e o assunto é especificamente o futebol, surgem milhares de gritos dizendo que jornalista não pode torcer. Peço licença àqueles que ditam as regras para vestir a camisa de um clube, e falar de um jogador em especial.

Em 2002 eu tinha 11 anos de idade, um moleque na quinta série do ensino fundamental. Apaixonadíssimo por futebol. Apaixonadíssimo pelo meu time, um time que até então eu nunca tinha visto ser campeão. Nasci e cresci santista, e não me pergunte o motivo. Não sou de Santos, nos anos 90 o time da Vila Belmiro não montou grandes elencos, não conquistou títulos e não foi nem de perto o time da moda. Por influência do meu pai, aconteceu. Cresci sem ter um amigo santista na escola, aliás, cresci sem ir para a escola, para uma festa ou para um parque vestindo a camisa do meu time. Talvez por vergonha, talvez porque o time não gerava orgulho naquele pequeno torcedor que eu era. Mas isso mudou. E mudou depois de um chute de pé direito dado, curiosamente, por um canhoto.

Morumbi, dia 15 de dezembro de 2002, 47 minutos do segundo tempo, final do campeonato brasileiro daquele ano, Santos contra Corinthians, 2 a 2 no placar. Naquele momento, com aquele placar, o Santos conquistava seu primeiro Brasileiro. Já era suficiente para acabar com uma fila de 18 anos, mas faltava a cereja do bolo. Eu estava assistindo ao jogo na casa dos meus primos. Meu primo mais novo, também santista, não parava quieto, já comemorava; já eu estava tenso, nervoso, ansioso. Pela primeira vez nós tínhamos a oportunidade de ver nosso time campeão. Emoção nunca antes sentida. Até que Robinho (nome mais marcante daquela conquista ao lado de Diego) pegou uma bola pelo lado esquerdo do ataque santista, entrou na área, entortou Kléber e Vampeta, voltou em direção ao meio e espetou a bola para Léo. O lateral esquerdo, então com 27 anos, dominou, passou por Anderson, puxou a bola para o pé direito e bateu...

Golaço... Santos campeão. O primeiro título que eu vi o Santos conquistar foi sacramentado com um golaço de pé direito do canhoto Léo. Aquilo me marcou. Aquele gol me marcou mais do que as pedaladas do Robinho, mais do que Diego pisando sobre o símbolo do São Paulo, mais do que o gol de bicicleta do Aberto. Foi como se Léo me olhasse e dissesse: pronto, garoto, você já pode comemorar! A partir daquele petardo de pé direito, Léo se tornou ídolo. Meu ídolo.

Os ídolos no Santos costumam vestir as camisas 7, 10, 11. Mas a partir daquele momento o meu ídolo era o que usava a camisa 3. E Léo foi 10, mesmo usando a 3. Doze anos depois a história desse camisa 3 no futebol de encerra (pelo menos como jogador). Ele agora é ex-jogador, mas essa não é uma aposentadoria qualquer.

Léo é o maior vencedor com a camisa santista depois da Era Pelé. Depois daquele Brasileiro de 2002 foram mais 7 títulos com a camisa do Peixe. Saiu em 2005, retornou em 2009. Abriu mão de salário quando não conseguia entrar em campo enquanto esteve machucado. Deu o sangue quando vestiu a camisa. Como todo lateral deve ser, foi eficiente na marcação, e excelente no ataque. Foi gigante com apenas 1 metro e 69 centímetros de altura.

Léo foi ídolo, foi líder, foi autêntico, foi polêmico, mas acima de tudo, Léo foi campeão. Um grande lateral, um grande profissional, um grande santista. Merece os parabéns pela carreira. Merece uma festa de despedida (que a princípio não acontecerá). Se não o melhor lateral esquerdo da história do Santos, certamente está entre os três melhores. E, sem a menor dúvida, está entre os melhores jogadores que eu vi jogar com a camisa santista.

Aquele chute de pé direito que selou o título Brasileiro em 2002 marcou a vida de todo santista. Marcou a vida deste santista que vos escreve. Mas ele foi além daquele gol. Léo marcou pelos títulos, pela vontade, pela garra. Obrigado, Léo, Obrigado, Guerreiro.

No Twitter: @lucas_creis

Foto: UOL

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