A rodada 'maluca' do Brasileirão nas frases que marcaram época na voz dos narradores esportivos. Foto: Paulo B. Whitaker/Folhapress

A rodada 'maluca' do Brasileirão nas frases que marcaram época na voz dos narradores esportivos. Foto: Paulo B. Whitaker/Folhapress

"Abrem-se as cortinas e começa o espetáculo, torcida brasileira". A frase do saudoso Fiori Gigliotti, um dos maiores narradores de todos os tempos, ilustra a única certeza de um jogo (e também da vida): o seu início. A rodada deste fim de semana do Brasileirão mostra, na voz dos narradores, como eu, a maior arma de sedução desse esporte maravilhoso, que é a imprevisibilidade.

Quem imaginaria que o Santos de Sampaoli, sensação do futebol brasileiro em 2019, levaria um chocolate tão magnânimo quanto foi o de sábado, contra o Palmeiras. Em pleno Pacaembu, a torcida viu “fogo no boné do guarda”, diria o genial Osmar Santos. O alviverde de Felipão teve uma atuação europeia, que não se teve registro desde a chegada do treinador, ano passado. Jogo digno de campeão brasileiro. Já o Peixe teve a noite ruim, a tempestade perfeita. Nada deu certo, lembrando o bordão de José Carlos Guedes, narrador da rádio Jovem Pan nos anos 90. “E nessa não teve jeito, Sampaoli. Meu filho, tá na fita! Levanta que vem mais!” O Santos é assim. Superlativo. Dá espetáculo quando ganha e também quando perde.

O torcedor do Athletico também foi surpreendido pelo roteiro tresloucado do chapeleiro futebol. Arena da Baixada com pouca gente, time em campo com formação reserva contra o Corinthians. O time conectado, jogando com a bola no pé. Dominante durante boa parte do jogo, em dois momentos cochilou. Não ouviram o ditado cunhado por Joseval Peixoto nos anos 1970. “Sai daí, que o jacaré te abraça!”. Resultado: Love e Pedrinho marcaram e, sem merecer, o Timão venceu por 2 a 0. “Doce mistério da vida esse Corinthians”, diria Osmar: o “Pai da Matéria”.

A lua cheia deu lugar ao sol das 11h no estádio do Morumbi e o São Paulo enfrentara o Bahia. Mais de 40 mil torcedores na “Casa Sacrossanta” com a esperança de vitória da molecada tricolor em ascensão. Os árbitros de campo e de vídeo não se entenderam e “azedou a maionese” de Toró, parafraseando o querido Sílvio Luiz. O atacante foi expulso aos 27 minutos do segundo tempo em lance polêmico. Com um a menos em campo e a língua de fora, não conseguiu vencer o 0 a 0 contra o valente esquadrão de Salvador. Empate amargo.

Amarga foi a derrota do Flamengo em Minas Gerais, também uma obra sorrateira e descaradamente abusada do deus da bola. Atlético Mineiro, com um homem expulso, perdia o jogo. Cazares com a frieza de um sueco descamba a defesa rubro-negra. Chará, o outro gringo “virou a mesa”, como costumo dizer nas minhas narrações. Três gols e uma virada inesquecível. “É disso que o povo gosta, Ádison”, gritaria Januário de Oliveira. Cabeça inchada para os cariocas, que perderam uma chance enorme de ficar entre os líderes. A eterna gangorra na Gávea passou o fim de semana apontando para o chão.

Quer maior loucura do que ver escapar pelos dedos uma vitória certa? O vascaíno gritou gol de Ricardo Graça na reta final contra o Avaí em São Januário e o bonde já imitava o “Pai do Gol”,  José Silvério: “Eu vou descer para te abraçar!”. Mas, como o jogo só termina quando acaba, coube a Daniel Amorim silenciar a galera aos 49 minutos do segundo tempo. “Haja coração”, não é Galvão Bueno? O que era empolgação com a estreia de Luxemburgo, virou decepção e vaias de um cruz-maltino que não aguenta mais o medo da derrota. Ouço a voz de Celso Garcia dizendo: “Agora, não adianta chorar”. Não mesmo.

Previsível mesmo, só a lista de Tite para a Copa América, que chamou a turma de costume para tentar o título em casa. Neymar, o único capaz de criar o novo inesperado, terá seu puxão de orelha. Gabriel Jesus e Fernandinho serão “mais do mesmo”, enquanto Fabinho, um dos destaques da Premier League, ficou de fora. Oramos agora pelo improvável que vem das nossas guerreiras. A Copa do Mundo de Futebol Feminina está chegando. Um trabalho pobre de Vadão até aqui, com sonoras NOVE derrotas. Mas nossa fé está na rainha, a camisa 10. Que possamos lembrar Luciano do Valle e gritemos juntos: “Não há palavras para descrever o gol de Marta! Não há palavras”.

Que assim seja!

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