"Se não melhorarmos o time, a temporada será difícil", repete José Mourinho há semanas. Foto: Foto: Christof Stache/AFP

"Se não melhorarmos o time, a temporada será difícil", repete José Mourinho há semanas. Foto: Foto: Christof Stache/AFP

Arthur Sandes

Do UOL, em São Paulo

Um dos melhores técnicos do mundo, José Mourinho passou as últimas semanas reclamando publicamente, pedindo mais reforços no Manchester United de forma quase ininterrupta. Deste modo, o treinador, cuja fama de ranzinza também é mundial, antecipa uma possível desculpa caso as coisas não corram bem na temporada. Também ensaia repetir um erro que já cometeu duas vezes em sua carreira, no Chelsea e no Real Madrid.

Nesta janela de transferências Mourinho recebeu no United o volante Fred, que esteve com a seleção brasileira na Copa do Mundo na Rússia. Também chegaram os menos conhecidos Diogo Dalot, lateral direito, e Lee Grant, goleiro. O clube adota postura reticente no mercado, recusando-se a pagar valores inflacionados. Por isso, acabou não acertando com zagueiros, a prioridade do elenco. Como o trio de contratados não muda o time de Manchester de patamar, o técnico português declara sua frustração.

Não foi nem uma nem duas vezes que Mourinho pediu reforços recentemente. "Entreguei uma lista com cinco jogadores que eu queria; espero receber pelo menos um", disse durante a pré-temporada, adicionando nesta semana ainda "estar esperando" — a janela de transferências fechou na última quinta (9). De modo geral, suas entrevistas quase sempre têm a ressalva de que os dois principais rivais pelo título inglês, Manchester City e Liverpool, estariam muito mais fortes do que o United.

Tal posicionamento, é claro, funciona como um pedido de desculpas antecipado. Se a equipe naufragar, já se tem de antemão o motivo. Mas pode soar como contrassenso um técnico que tem tantos astros (De Gea, Pogba, Mata, Alexis Sánchez, Lukaku…) reclamar que lhe falte peças. O fato é que este tipo de solicitação não é inédito na carreira de Mourinho e tem relação com um certo ´bloqueio criativo´ em seus trabalhos: a terceira temporada seguida.

O "fantasma" da terceira temporada

O currículo recheado de grandes títulos não esconde um padrão de desidratação dos trabalhos de Mourinho. Ele chegou ao United em maio de 2016, seis meses após ter sido demitido do Chelsea por uma campanha horrível no Campeonato Inglês. No clube londrino, o treinador teve trajetória similar com a atual: bons resultados, mas com críticas crescentes, declarações controversas e certo atrito com os dirigentes.

Mesmo então o filme já era repetido para José Mourinho, que anos antes havia saído do Real Madrid de forma parecida: títulos, reclamações e queda de braço. Na ocasião, o português viu o diretor geral Jorge Valdano ser demitido em nome de "maior autonomia" para o treinador. Em 2013, Mou deixou o clube, entre outros motivos, por "não se sentir querido".

José Mourinho nunca chegou a uma quarta temporada seguida no mesmo clube. É verdade que só deixou o Porto (em 2004) e a Internazionale de Milão (em 2010) por interesse de outros clubes, mas nos demais casos acabou demitido ou saiu "em comum acordo" após campanhas ruins. Foram os casos do Chelsea (tanto em 2007 quanto em 2015) e Real Madrid (em 2013). Atualmente, o português está prestes a começar seu terceiro ano no Manchester United.

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