O programa de treinamento de Mourinho deixa o treino físico restrito à pré-temporada

O programa de treinamento de Mourinho deixa o treino físico restrito à pré-temporada

Uma semana com dois jogos faz com que a maioria dos treinadores de futebol no Brasil monte uma programação com dois treinos regenerativos, dois treinos táticos e apenas um dia para treino técnico, onde predomina a bola. Há cenários, porém, em que essa equação do futebol é completamente ignorada e, não por coincidência, resulta em um dos melhores times do planeta: no Chelsea, do português José Mourinho, a bola treina tanto quanto os jogadores, e isso faz com que aquele que parece ser um chefe excêntrico, chato e mandão seja querido pelo elenco. E, novamente não por coincidência, principalmente pelos brasileiros.

No Chelsea de Mourinho, todo dia é dia para se jogar futebol. E futebol com bola. Uma semana com dois jogos não tem treino físico e não tira a bola do campo para a realização de atividades táticas. Quem relata tudo isso é um dos quatro representantes da seleção brasileira – e certamente o melhor deles na atual temporada – que defende o clube inglês, líder do campeonato nacional: o meia Willian, de 26 anos.

"Desde quando voltamos das férias [em julho, no início da temporada], é sempre bola. Todos os dias com bola. Então isso é muito bom. Jogador gosta sempre de estar em contato com a bola. Mesmo que seja um treino físico, mas que tenha bola. Aqui a gente não faz físico, o trabalho é expressamente com bola. Fazemos joguinhos, toques de bola", conta Willian, de Londres, ao UOL Esporte.

O meio-campista revelado pelo Corinthians e com passagens por Shakhtar Donetsk, da Ucrânia, e Anzhi, da Rússia, tem como companheiros hoje, no Chelsea, os brasileiros Felipe Luis, lateral esquerdo, Ramires, voltante, Oscar, também meia, além de Diego Costa, atacante, naturalizado espanhol. Todos eles, em algum momento da carreira, vivenciaram a programação à brasileira do futebol. No Chelsea, até o regenerativo – treino aplicado aos titulares nos dias seguintes aos jogos – é diferente.

"Depois dos jogos a gente faz recuperação, dois dias com recuperação. Mas regenerativo aqui tem bobinho, alongamento, mais bobinho. Não é igual ao Brasil porque aí é uma corrida de 45 minutos e depois os jogadores vão, sei lá, para a banheira de gelo. Aqui a gente não é acostumado a isso", completa Willian.

O programa de treinamento de Mourinho deixa o treino físico restrito à pré-temporada, mas tem outra diferença estrutural. O treino tático acontece na sala de vídeos, e não dentro do campo. Na maioria das equipes de ponta do Brasil, tal cenário é impensável.

"Taticamente a gente trabalha mais fora de campo do que propriamente dentro de campo. A gente estuda mais adversários em vídeos, ele orienta taticamente fora de campo. Ele estuda bem os adversários, entende de futebol, explica bem as coisas. O jogador entra em campo sabendo tudo que tem que fazer", conta o meia, com 26 jogos na temporada – 18 como titular.

Tais distinções são usadas por Willian como argumentos para explicar por que José Mourinho é um treinador vitorioso. "Acho que é o dia a dia, aquilo que ele pede para nós. A maneira que a gente estuda o adversário... São várias coisas que a gente trabalha, dentro e fora de campo, vendo vídeos, recebendo orientações. Vem dando certo, o time vem jogando bem". Neste sábado o Chelsea enfrenta o Newcastle pelo Campeonato Inglês e joga em casa, no Stamford Bridge, pela manutenção da liderança. O Manchester City, atual campeão, tem o mesmo número de pontos e vai a Liverpool para enfrentar o Everton.

Aos 51 anos, José Mourinho já venceu duas vezes a Liga dos Campeões (2004, com o Porto, e 2010, com a Inter), e tem sete troféus de campeonatos nacionais em Portugal, Inglaterra, Itália e Espanha, além de outras taças. Contemporâneo e concorrente direto do Pep Guardiola, ele tem uma diferença extrema em relação ao espanhol: pouco se relaciona individualmente com cada jogador e prioriza conversas coletivas.

Segundo Willian, Mourinho é "controlador", mas isso não é um defeito. Tem o grupo na mão porque tenta fazer parecer que todos recebem o mesmo tratamento, sem prioridades. Tem paciência para explicar e corrigir, mas não fará visitas ao quarto de um jogador na véspera de uma partida para passar orientações táticas específicas.

Chefiando aquele que já é um dos melhores times do Chelsea de todos os tempos, Mourinho agora precisa repetir o que fez entre 2004 e 2007 no clube inglês, e vencer o Campeonato Inglês, para que isso se confirme. Para Willian, esta equipe, que tem o espanhol Cesc Fàbregas e o belga Eden Hazard em fases excepcionais, tem tudo para se confirmar como uma das melhores do planeta. Ao lado da bola – sempre – e do técnico português, o meia se vê em plena evolução.

"Pela temporada que a gente vem fazendo, é para estar entre os melhores, sem dúvida. Mas tem que continuar nesse mesmo caminho, com esse mesmo número de vitórias", diz. "Estou muito feliz, de quando cheguei ao Chelsea até hoje, evoluí aprendendo bastante com o Mourinho, daquilo que ele quer e pede. Sem dúvida a gente aprende no dia a dia. Venho evoluindo bastante, a cada jogo. Uma coisa que eu me cobro bastante é fazer mais gols. Dentro de campo venho contribuindo, venho bem. Espero que eu possa crescer mais, jogar cada vez melhor", conclui.

Foto: Reprodução/Site oficial do Chelsea 

 

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