Essa falta de convicção dos dirigentes brasileiros é um dos motivos da falta de ousadia de boa parte dos nossos técnicos

Essa falta de convicção dos dirigentes brasileiros é um dos motivos da falta de ousadia de boa parte dos nossos técnicos

Existem vários perfis de treinador. Desde a parte de campo, envolvendo ideias, conceitos e metodologias de treinamento. Passando, também, por questões extra-campo como perfil de liderança, comunicação e gestão dos recursos humanos. Não creio em um só modelo de sucesso. É possível ser vencedor, por exemplo, flutuando entre um jogo que privilegia a posse de bola como também dá para ganhar sendo reativo. No próprio perfil de comando, o líder bem sucedido é aquele que tem a flexibilidade de tratar cada integrante da equipe de uma maneira: há pessoas que são motivadas para fugir de uma dor; outras se motivam ao buscar alcançar a glória. Triunfa o gestor que sabe perceber cada um e lidar da maneira mais eficaz, respeitando as individualidades e diferenças.

Partindo então do pressuposto de que não ter perfil melhor e pior e sim perfis diferentes cabe a cada clube saber exatamente o que quer e a partir de uma filosofia buscar o nome que mais se encaixe. Certo? Não aqui no futebol brasileiro. Clubes mudam de treinador a todo momento. No mundo inteiro. Mas em nenhum outro país o número três é tão cruel como aqui: três derrotas consecutivas e não há processo de construção de modelo de jogo e muito menos contrato que seja respeitado.

O meu ponto aqui não é criticar as demissões. Não sou contra demitir um treinador. Desde que haja conhecimento e embasamento técnico suficientes para avaliar se um trabalho está sendo bem feito ou não. A minha indignação é ver sempre a mudança brusca de perfil sem o menor critério. Se uma equipe está mal com um treinador que gosta de atacar o seu sucessor será um profissional que privilegia a organização defensiva. Ou se os resultados ruins estão vindo com um líder paizão, que abraça os jogadores vem um treinador `linha dura´, de pouco diálogo. Tudo em curto espaço de tempo, segundo a linha dos famigerados três jogos.

Essa falta de convicção dos dirigentes brasileiros é um dos motivos da falta de ousadia de boa parte dos nossos técnicos. Buscando se manter no cargo eles optam pelo mais simples, sabendo que o resultado tem que vir a qualquer custo e que não há tempo para criar um jogo elaborado e sofisticado. É claro que a falta de qualidade do nosso futebol é complexa e sistêmica e teríamos que abordar outras matérias como calendário, categoria de base, qualidade dos gramados, estrutura dos clubes, dentre outros. Mas nada para mim é mais urgente do que quebrar essa casca de alguns treinadores como escudos para dirigentes que não sabem nada de bola.

Foto: Divulgação

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