Futebol apresentado pela dupla majestosa beirou o ridículo. Foto: Marcello Zambrana/AGIF/via UOL

Futebol apresentado pela dupla majestosa beirou o ridículo. Foto: Marcello Zambrana/AGIF/via UOL

O Sport Club Corinthians Paulista recebeu o São Paulo Futebol Clube em seu estádio, em Itaquera, na tarde de ontem (21/04), em partida válida pelo jogo de volta (a ida foi 0 a 0) da final do Campeonato Paulista de 2019. O placar, como todos sabem, foi de 2 tentos a 1 para os mandantes, que sagraram-se tricampeões do estado (três conquistas consecutivas – 17/18/19) e levaram para a sala de troféus do Alvinegro a trigésima taça do Paulistão.

Sem dúvidas, trata-se de uma conquista histórica que deve ser comemorada pela torcida corintiana. É quarta vez em sua história que o Timão levou um tricampeonato estadual. As outras ocasiões foram em 1922/23/24, 1928/29/30 e 1937/38/39. Há 80 anos o Alvinegro do Parque não conquistava um tri e o triunfo de ontem fez com que o clube se tornasse o único dentre os grandes de São Paulo a ter sido tricampeão em quatro oportunidades. O Santos Futebol Clube já foi tricampeão estadual três vezes, o Palmeiras (na época, Palestra Itália) uma vez e o Tricolor do Morumbi jamais logrou tal feito.

Euforia e comemorações pelo lado corintiano, tristeza e desapontamento pelo lado são-paulino à parte, o que se viu durante os pouco mais de 90 minutos de jogo (ou seria anti-jogo?) na Arena do Corinthians não foi nem um pouco agradável aos olhos daqueles que prezam por um futebol bem jogado.

O São Paulo apresentou um futebol muito fraco ao longo deste semestre, fruto do mau planejamento para a atual temporada que resultou em um dos maiores vexames da gloriosa história tricolor: a eliminação frente ao argentino Talleres na pré-Libertadores. Para o Time do Morumbi, chegar à final deixando para trás o Palmeiras (que era sem dúvidas o principal favorito ao título) na semifinal já havia sido um grande feito.

O Corinthians, por sua vez, vinha de um trabalho mais bem estruturado, com a volta de Fábio Carille no comando técnico da equipe desde o início da temporada. O futebol corintiano, no entanto, foi bastante oscilante durante esses primeiros quatro meses, apesar dos resultados positivos que levaram o time à conquista estadual e às classificações na Copa do Brasil e na Sul-americana.

Dada as circunstâncias mencionadas, acredito que ninguém, nem mesmo o mais otimista dos alvinegros ou dos tricolores esperava por um espetáculo em campo, aos moldes do que o Santos de Sampaoli proporcionou aos seus aficionados em diversos jogos. O problema foi que além de não haver espetáculo, houve muito pouco futebol.

Diminuo a culpa do jovem time são-paulino comandado por Cuca, que assumiu a equipe há pouquíssimo tempo e ainda não teve um extenso período de trabalho para treinar e executar suas ideias de futebol com o elenco que tem em mãos. Mas dava para ter apresentado um pouquinho mais!

Já pelo lado corintiano, há que se parabenizar o professor Carille pela quarta conquista no comando da equipe, mas não se pode deixar de fazer críticas quanto ao futebol praticado pelos seus comandados. Ontem, o Corinthians praticamente não teve meio campo. Vimos um setor inoperante que demorou a participar do jogo no que diz respeito à criação.

Cansamos de ver saídas de bola precipitadas por parte do Corinthians. Cássio soltava a bola nos pés de seus zagueiros, que procuravam os laterais para sair jogando pelos lados, que procuravam um meia que viesse receber a pelota para levá-la ao ataque... o que praticamente não aconteceu!

O que de fato ocorria era a tentativa de ligação entre os laterais e os jogadores de beirada de campo, que na maioria das vezes recebiam a bola mascada e não davam prosseguimento a jogada ou eram interceptados pelos marcadores. O resultado? Tentativas de ligação direta da defesa para o ataque em praticamente todos os inícios de jogada.

O meio de campo são-paulino conseguiu ficar mais com a bola, até porque o Corinthians não faz questão de possuí-la mesmo quando joga em seus domínios, mas era pouco efetivo na hora de criar as jogadas para penetrar na área alvinegra. Nem mesmo a entrada de Hernanes na segunda etapa melhorou as coisas para o Tricolor.

Nenhum dos dois gols que saíram na primeira etapa foram frutos de boas trocas de passe e de penetrações que deixam o atleta na cara do gol para finalizar. O tento corintiano saiu após uma cobrança de escanteio, em uma jogada ensaiada, que vale ser ressaltada e parabenizada, enquanto o são-paulino veio de um remate de fora da grande área. O gol da vitória do Corinthians, anotado por Vagner Love, que realizou uma difícil finalização de primeira após belo lançamento de Sornoza, foi um dos poucos suspiros de um futebol que respirou por aparelhos.

Será que é só isso que temos para apresentar? Times que não conseguem trocar meia dúzia de passes; equipes que preferem jogar sem a bola; sistemas de jogo que não prezam pela proposição e somente esperam para ser reativos; laterais alçados diretamente para a grande área; torcida comemorando chutão para frente; etc.

Na contramão de tudo isto, temos o Santos de Sampaoli, que com um orçamento muito menor e o material humano inferior aos seus principais rivais, aposta em um sistema de jogo muito bem definido, que preza pela posse da bola e pela verticalidade no ataque a todo momento, enchendo os olhos de seus torcedores com um futebol extremamente prazeroso de se ver.

O contraste do argentino está no pragmatismo de Felipão no Palmeiras, que conta com no mínimo três times que seriam titulares em qualquer grande clube brasileiro e permanece preso a defasados conceitos de futebol, que não servem mais para levar uma equipe a grandes conquistas.

O contraste do argentino está no não menos pragmático Carille no Corinthians, que muitas vezes joga pelo resultado e proporciona ao torcedor corintiano agonias como a que ocorreu no jogo da volta das semifinais desta edição do Paulistão, ocasião na qual o Timão não viu a cor da bola e foi amassado pelo Santos durante o jogo todo, tendo ido à final graças a mais uma atuação monstruosa de Cássio.

O contraste do argentino está em um São Paulo no qual a diretoria promove patuscada atrás de patuscada, confiando a difícil tarefa de levar uma equipe carente de títulos nos últimos anos à fase de grupo da Libertadores a um técnico com pouca experiência no profissional, o demitindo logo após o fracasso para posteriormente contratar um medalhão que não assumiria o time imediatamente.

Indago novamente: é só isso que temos para apresentar? É por esse futebolzinho que queremos ser reconhecidos lá fora? Vamos mesmo transformar o futebol brasileiro, pentacampeão do mundo, berço de craques como Pelé, Garrincha e cia., no futebol da bola parada e do lateral batido diretamente para a área? Que possamos aprender um pouco (ou reaprender) com o hermano Sampaoli. Não é vergonha nenhuma. Vergonha é esse futebol burocrático que temos presenciado temporada após temporada em nosso país!

* Renan Riggo é jornalista da PPress Marketing e Comunicação

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