Este será o terceiro ano do piloto pela equipe oficial da Aston Martin no Mundial de Endurance. Foto: Marcos Júnior Micheletti/Portal TT

Este será o terceiro ano do piloto pela equipe oficial da Aston Martin no Mundial de Endurance. Foto: Marcos Júnior Micheletti/Portal TT

Um dos cinco brasileiros que estarão em Silverstone para a abertura da temporada de 2016 no WEC (Campeonato Mundial de Endurance), o paulista Fernando Rees, de 31 anos, falou com exclusividade ao Portal Terceiro Tempo, detalhando alguns aspectos sobre sua equipe, a Aston Martin, onde compete pela categoria LMGTE Pro desde 2014, e também fez uma análise muito embasada sobre a realidade do campeonato de endurance, que o grande público do Brasil desconhece.

"É uma pena que, por diversos motivos, o brasileiro foi ensinado a pensar que automobilismo se resume à F1, e que o topo do automobilismo em relação a qualquer coisa está ali na F1. Não é verdade. É uma mentira que a nossa mídia construiu ao longo dos anos porque tínhamos heróis e vencedores na F1, e vendia bem. Mas acabou alienando a população por inteiro", disse Rees, ao ser indagado sobre os conselhos que daria a jovens pilotos que pretendem competir no WEC.

Fernando Rees fez uma carreira praticamente inteira na Europa, a partir de 1998, após começar no kart em 1994, no Brasil. Competiu no kart (na Europa) de 1998 até 2000. Ainda na Europa, em 2001 e 2002 competiu pela Fórmula Renault para retornar ao Brasil em 2003, ano em que competiu pela F3.

Voltou definitivamente à Europa em 2004 (pela F3) para passar em 2005 na World Series by Renault, Em 2006, na F3000, sofreu um grave acidente, quando fraturou três vértebras. Ficou seis meses de cama e 18 meses sem poder pilotar. Retornou nas Mil Milhas de 2007 de Interlagos pela equipe Larbre, válida pela Le Mans Series. Venceu a corrida em São Paulo e desde então está em competições de endurance na Europa.

Em 2014 assinou com a equipe oficial da Aston Martin, onde está atualmente, guiando o Aston Martin Vantage V8 #97. A abertura do campeonato será no dia 17 de abril, com as 6 Horas de Silverstone. Além de Fernando Rees, outros quatro brasileiros estarão na prova: Nelsinho Piquet (Rebellion) e Lucas di Grassi (Audi) pela LMP1, e Bruno Senna (RGR Sport by Morand) e Pipo Derani (Tequila Patrón ESM) pela LMP2.  As equipes fizeram um teste coletivo em Paul Ricard, na França, nos dias 25 e 26 de março.

Marcos Júnior Micheletti: Atualmente você está na equipe oficial da Aston Martin pela LMGTE Pro. Dê alguns detalhes sobre seu carro e a estrutura de sua equipe.

Fernando Rees: A Aston Martin é uma montadora pequena, focada nos pequenos detalhes. Os carros são todos montados à mão. Na fábrica, em Gaydon, ninguém precisa usar máscara e protetores auriculares porque não há barulho, mais parece um atelier de arte. Isso não vai mudar. Mas, ainda assim, nós competimos com montadoras enormes como Chevrolet e Ford, e outras que proporcionalmente também são gigantes, como Ferrari e Porsche. Os budgets, portanto, são incomparáveis. Mas a Aston Martin nunca competiu para perder, e ganhar é o foco sempre. Vamos ver esse ano. Alguns vem com carros totalmente novos, e outros como nós vem com um carro atualizado.

Marcos Júnior Micheletti: Faça um balanço dos testes da pré-temporada em Paul Ricard, visando a corrida inicial do cmapeonato, as 6 Horas de Silverstone:

Fernando Rees: A nossa pré-temporada realmente aconteceu entre o fim do ano passado, testando no Bahrein, e no começo deste ano em diversos testes na Espanha. O prólogo em Paul Ricard foi mais para ajustar uns detalhezinhos de coisas importantes para Silverstone. Difícil dizer como estamos, porque se tem gente que acha que na F1 as equipes "escondem o jogo" na pré-temporada, então eles nem são capazes de imaginar como a coisa acontece aqui no WEC. A gente só vai saber no Qualifying de Silverstone.
 

 

Marcos Júnior Micheletti: Dos brasileiros que estão no grid atual do WEC você é aquele que está há mais tempo. Que conselhos daria a jovens pilotos que estão no Brasil e tem interesse em participar da categoria?

Fernando Rees: Eu diria para esquecer qualquer investimento em monopostos. Se você não tiver um patrocínio imenso ou um "paitrocínio" disposto a pagar todos os estágios, incluindo a F1, em que metade dos pilotos do grid hoje pagam para correr em vez de receber salário, então não faz sentido entrar. No automobilismo endurance se faz uma carreira profissional - você vive de pilotar carros de corrida. Isso é algo real e possível nesse tipo de corrida. Depende, ainda assim, de muita coisa, mas o seu talento tem um impacto muito grande. É uma pena que, por diversos motivos, o brasileiro foi ensinado a pensar que automobilismo se resume à F1, e que o topo do automobilismo em relação a qualquer coisa está ali na F1. Não é verdade. É uma mentira que a nossa mídia construiu ao longo dos anos porque tínhamos heróis e vencedores na F1, e vendia bem. Mas acabou alienando a população por inteiro. Você vem para a Europa, e se assusta ao ver tanta gente que acompanha o WEC e Le Mans de pertinho, e que nem sabe quem corre na F1, quais equipes existem, etc. No Brasil, isso é impensável. Então, para qualquer piloto jovem, procurando uma carreira de sucesso, eu diria que começamos com um pé atrás no Brasil porque desconhecemos o que realmente é automobilismo, e conhecemos esse caminho da F1 achando que isso é de fato relevante e o melhor que existe. Mas quem conseguir ir além disso, vencer esse obstáculo, tem boas chances fora do Brasil.

CALENDÁRIO DO WEC (TODAS AS PROVAS COM DURAÇÃO DE 6 HORAS, EXCETO LE MANS):

17 de abril - Silverstone - Inglaterra
7 de maio -  Spa-Francorchamps -Bélgica
18 e 19 de junho -  24 Horas de Le Mans - França
24 de julho - Nurburgring - Alemanha
4 de setembro -  Cidade do México - México
17 de setembro - Austin - Estados Unidos
16 de outubro - Fuji - Japão
6 de novembro - Xangai - China
19 de novembro - Sakhir - Bahrein

SÉRIE ESPECIAL SOBRE O WEC NO PORTAL TERCEIRO TEMPO/BELLA MACCHINA:

CLIQUE AQUI E VEJA A ENTREVISTA COM LUCAS DI GRASSI

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Fernando Rees com seu Aston Martin Vantage nas 6 Horas de São Paulo de 2014, em Interlagos. Foto: Marcos Júnior Micheletti/Portal TT

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