De acordo com quatro testemunhas, o jogador simulou uma masturbação

De acordo com quatro testemunhas, o jogador simulou uma masturbação

Adriano Wilkson
Do UOL, em São Paulo

 Contratado pelo Corinthians, o atacante inglês Colin Kazim-Richards marcou gol, deu assistência e foi expulso em seus dois primeiros jogos vestindo a camisa alvinegra. Com passagens pela seleção turca (sua mãe nasceu na Turquia), ele estava no Coritiba antes de chegar ao Parque São Jorge.

Fora dos campos sua biografia é marcada por uma condenação em 2014 por fazer em público um gesto considerado homofóbico pela Justiça britânica. Kazim se tornou o primeiro e até hoje único jogador de futebol do Reino Unido a ser condenado por atitude desrespeitosa aos homossexuais.

Em 2013, quando atuava pelo Blackburn Rovers, começou a ser insultado e chamado de gordo pelos torcedores do Brighton (clube que já havia defendido) durante uma partida da segunda divisão e reagiu fazendo um gesto sexual.

De acordo com quatro testemunhas, o jogador simulou uma masturbação e fez gesto de inserir algo em sua própria bunda. Brighton é a cidade considerada a capital gay da Inglaterra, e seus torcedores frequentemente são alvo de ofensas homofóbicas.

 A pena de Kazim foi o pagamento de uma multa de 750 libras, além das despesas do tribunal (no total, teve que pagar 1.445 libras – R$ 5.350 em 2014). Na época, ele jogava na Turquia. Durante o julgamento, admitiu ter feito um gesto de masturbação, mas negou que tenha tido intenção homofóbica. De qualquer forma, pediu desculpas e disse que não aceitava discriminação de nenhuma forma.

Na sentença de condenação, o juiz Darren Reynolds disse que Kazim "teve um comportamento ofensivo em uma situação que alguém provavelmente acharia ofensivo."

A parte da legislação britânica que fundamentou o julgamento foi artigo 5º do "Public Order Act" de 1986, segundo o qual "uma pessoa é culpada de um crime se (a) usa palavras ou comportamento ameaçador, ou comportamento desordeiro ou (b) mostra qualquer representação escrita, simbólica ou de qualquer outra forma visível, que é ameaçadora dentro do campo de visão ou audição de outra pessoa potencialmente passível de sofrer assédio, tensão ou sofrimento."   

O UOL Esporte conversou com Darren Balkham, o chefe do departamento de futebol da polícia de Sussex, o condado da região de Brighton. Foi Balkham quem colheu o depoimento das testemunhas que viram Kazim fazendo o gesto considerado ofensivo à comunidade gay e levou o caso adiante. O policial disse que a condenação do atual atacante do Corinthians foi um "caso marcante" na batalha contra a homofobia no futebol.

 "Ele afirmou não acreditar que o gesto que estava fazendo era homofóbico", disse Balkham. "Isso foi decepcionante porque acredito que ele deveria saber a conotação e o significado do que estava fazendo."

Procurado pela reportagem através de sua assessoria de imprensa pessoal e do Corinthians, Colin Kazim-Richards não quis comentar o assunto. Segundo seu representante, o inglês "não tem o menor interesse em falar disso", já que o assunto já teria sido "resolvido tanto por ele quanto pelas autoridades da Inglaterra."

Leia a seguir a entrevista com Darren Balkham, porta-voz do departamento de futebol da polícia de Sussex, Inglaterra.

UOL Esporte - Quão importante foi a condenação de Kazim para os esforços contra a homofobia no futebol?

Darren Balkham - Colin Kazim-Richards jogava pelo Blackburn Rovers na época e nós tivemos um número alto de denúncias durante o segundo tempo sobre um gesto que ele tinha feito. Falamos com algumas testemunhas e tomamos depoimentos. E então levamos ao Crown Prosecution Service (Serviço de Promotoria da Coroa), que na Inglaterra são as pessoas que decidem se algo deve ser levado ao tribunal. Foi particularmente decepcionante esse caso porque o senhor Kazim tinha jogado pelo Brighton e, como você deve saber, Brighton é uma cidade conhecida por ter uma grande comunidade gay e os torcedores geralmente sofrem ofensas homofóbicas de torcedores de outras equipes.

Como foi o gesto que ele fez? Ele alegou que estava apenas interagindo com a torcida.

O gesto foi um punho fechado em direção a sua própria bunda. Muitos acharam esse gesto inapropriado. É verdade que o senhor Kazim estava sofrendo provocações dos torcedores da casa por causa de um monte de coisa naquele jogo, mas o incidente foi visto como mais do que apenas uma interação divertida com a torcida, foi bastante ofensivo na verdade.

Ele mostrou arrependimento em algum momento?

Ele se desculpou no tribunal se ofendeu alguém, mas disse não acreditar que o gesto que estava fazendo era homofóbico. Isso foi decepcionante porque acredito que ele deveria saber a conotação e o significado do que estava fazendo.

Acredita que esse tenha sido um caso marcante na luta contra a homofobia no futebol inglês?

Certamente foi um marco na batalha contra a homofobia. Esse foi, e até agora é, o único caso levado ao tribunal contra um jogador de futebol por um crime cometido durante uma partida. Já houve outros casos de jogadores que usam as redes sociais para propagar homofobia, como tuítes homofóbicos, e a federação inglesa tem punido. Mas até agora esse caso [de Kazim] foi o único em que houve uma condenação [por um tribunal].

Kazim foi multado em 750 libras. Pra onde foi esse dinheiro?

Esse dinheiro, ou uma boa parte dele, deveria ter sido direcionado para o combate à homofobia, mas Infelizmente, do jeito que o sistema de Justiça inglês funciona, esse certamente não foi o caso.

Pra onde foi então?

Pra ser honesto, não tenho certeza. É decidido pelo juiz pra onde vai o dinheiro, e na Inglaterra quando multas são impostas pelo tribunal, o dinheiro vai para um montante e o governo então o tira daí e o distribui a outras áreas. Mas eu acho que esse dinheiro teria mais valor se tivesse sido repassado a alguma organização que trabalhasse para promover a diversidade no esporte.

Como é o seu trabalho na polícia? Cuida especificamente de futebol?

Meu papel na polícia de Sussex é no departamento de futebol e eu cuido de tudo relacionado ao futebol, o policiamento e o contato com os torcedores. Meu trabalho é estar junto dos torcedores, dentro e fora dos estádios, para definir os níveis corretos de policiamento em cada jogo. Faço isso há 16 anos e faço a mesma coisa com a seleção da Inglaterra. Fiz esse trabalho por exemplo na Eurocopa na França, verão passado.

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