Após mais de quatro meses sem guiar um F1, brasileiro testou em Barcelona. Foto: Divulgação

Após mais de quatro meses sem guiar um F1, brasileiro testou em Barcelona. Foto: Divulgação

Ao término da temporada de 2008, terceira pela Honda, Rubens Barrichello viveu um período de incertezas, se teria um cockpit disponível na Fórmula 1 no ano seguinte, uma vez que a Honda havia encerrado sua operação na categoria.

Porém, o carro japonês estava em desenvolvimento, visando o regulamento da temporada de 2009, com aerofólio dianteiro maior (até o o limite dos pneus), aerofólio traseiro menor e sistema de recuperação de energia (KERS), e o então chefe Ross Brawn fez a compra simbólica do time, mas tinha um grande problema para resolver: encontrar um fornecedor de motores, já que nem mesmo isso a Honda manteria para o ano vindouro.

Mas o bom relacionamento de Ross no meio aproximou o novo time, agora batizado de Brawn-GP, com a Mercedes, que na época fornecia propulsores para a McLaren e a Force India.

A Honda havia testado com dois brasileiros no final de 2008, objetivando a temporada de 2009, antes de anunciar sua saída da F1: Bruno Senna e Lucas di Grassi. Bruno foi o melhor deles, isso em novembro. Além deles, o alemão Alexander Wurz também andou com o carro da Honda. Ele era o piloto de testes do time naquele ano.

Mas Ross Brawn, em sua nova empreitada, optou por dois pilotos experientes para seus carros brancos com nuances em amarelo `marca texto´, e a escolha recaiu sobre os já companheiros de equipe na Honda: Rubens Barrichello e Jenson Button.

Tecnicamente, o "pulo do gato" do carro da Brawn foi o difusor duplo, solução aerodinâmica que aumentava o dowforce (pressão aerodinâmica) e que foi contestada por diversas equipes, mas depois devidamente aprovada pela FIA (Federação Internacional de Automobiilismo) e copiada pelos concorrentes.

Depois de Jenson Button experimentar o BGP-001 em Barcelona, sempre entre os ponteiros, o que surpreendeu aos que acompanhavam os trabalhos da pré-temporada, foi a vez de Barrichello assumir o comando do carro, há exatos dez anos, na fria manhã de 10 de março de 2009 no circuito de Montmeló.

Button foi o primeiro a guiar a Brawn-GP na pré-temporada de 2009 da F1, em Barcelona. Na foto, ele no cockpit do BGP-001 conversa com Rubens Barrichello e Ross Brawn. Foto: Divulgação

Rubens havia passado mais de quatro meses sem guiar um carro de F1. Ele havia disputado com a Honda, em Interlagos, o GP do Brasil em 2 de novembro de 2008, ocasião em que largou em 15º, mesma posição em que terminou a prova vencida por Felipe Massa (Ferrari).

Mas o brasileiro se cuidou bem no período de recesso e estava em plena forma em 10 de março de 2009 para completar 111 voltas pelo traçado catalão de 4.655 metros, totalizando mais de 516 quilômetros no acumulado entre manhã e tarde.

Barrichello fechou o dia com o terceiro tempo, atrás de Kimi Raikkönen (Ferrari) e Kazuki Nakajima (Williams-Toyota). O tempo de Barrichello, 1min20s966, foi 0s652 acima da marca de Raikkönen, o que deixou o brasileiro bastante animado.

Rubens Barrichello, com exclusividade ao Bella Macchina do Portal Terceiro Tempo, respondeu a algumas perguntas sobre aquele promissor inicio de trabalho com a Brawn-GP em Barcelona e outros momentos da temporada de 2009.

VOCÊ JÁ DEU UM `SORRISÃO´LOGO QUE RETORNOU AOS BOXES DEPOIS DE ANDAR COM A BRAWN PELA PRIMEIRA VEZ?

Senti sim que seria um bom carro. Eu não lembro do sorriso, pois você se concentra para adquirir o melhor acerto, mas claro que vi que seria um bom carro.

Primeiras impressões de Barrichello a bordo da Brawn-GP-Mercedes em Barcelona foram as melhores possíveis. Foto: Divulgação

O CARRO DE 2009, SE TIVESSE O MOTOR HONDA AO INVÉS DO MERCEDES, PODERIA TER SIDO VENCEDOR?

Eu não gosto muito de trabalhar na suposição, do que poderia ter sido ou não. A verdade é que a gente não consegue dar a volta na Terra como o Super Homem para voltar atrás e saber. O carro de 2006 era bom, era muito bom o conjunto Honda. Sozinho ele fazia um tempo forte, mas na corrida ele tinha um distúrbio muito grande de ar com os outros carros, e isso afetava muito a situação de corrida. E em 2007 e 2008 o conjunto não era favorável.

Barrichello com o carro da Honda de 2006, no GP dos Estados Unidos. Carro era forte nas classificações mas tinha problemas em ritmo de corrida, segundo Barrichello. Foto: Divulgação

 

VOCÊ E O BUTTON JÁ TINHAM ALGUMA `PISTA´DE QUE O CARRO DA BRAWN SERIA BOM, MESMO ANTES DOS PRIMEIROS TESTES?

O Ross Brawn só entrou na equipe (Honda) em 2008, então ele pegou o finalzinho e foi ele que fez toda a migração das pessoas boas (para a Brawn-GP). Na verdade, praticamente a Brawn é o que a Mercedes tem hoje, quase na sua totalidade, seus engenheiros e projetistas, então ele tinha dado a entender sim que o carro seria bom, mas como a gente lembra eu fiquei muito tempo na "berlinda" esperando para saber se teríamos patrocinador, porque senão a equipe teria que ter um piloto pagante, e graças a Deus isso não aconteceu e eles me chamaram para guiar o carro de 2009, que era um carro sensacional.

Ross Brawn com Barrichello e Button na abertura do campeonato, em Melbourne, na Austrália. Equipe fez a dobradinha logo na estreia, com o britânico em primeiro e o brasileiro na segunda colocação, após terem largado na primeira fila. Foto: Divulgação

AS DUAS ÚLTIMAS VITÓRIAS DE UM PILOTO BRASILEIRO NA F1 FORAM AS SUAS, O GP DA EUROPA (VALÊNCIA) E O DA ITÁLIA (MONZA). RELEMBRE UM POUCO ESTES MOMENTOS.

As provas de Valência e Monza foram muito parecidas, porque nós já não tínhamos o carro completamente dominador e naquelas duas ocasiões era o Hamilton que estava lutando com a gente, ele inclusive vinha liderando, e em Valência eu consegui fazer uma parada a menos que ele. E, para mim, uma das melhores lembranças que eu tenho é que ele saiu do carro e falou pra mim: `Rubens eu não sei como você fez isso, mas parabéns´; então foi uma coisa marcante de um piloto que a gente sabe o talento que tem, por tudo ainda que está fazendo pelo automobilismo, mas foram vitórias excepcionais e a centésima foi um marco realmente, eu que não consegui ganhar corridas no começo do ano, consegui me expor no final do ano, quando tanto a McLaren quanto a Red Bull estavam mais fortes, então foi muito legal.

Barrichello, ao lado de Hamilton e Raikkönen, comemora sua décima vitória na F1, 100ª de um piloto brasileiro na categoria, no GP da Europa, em Valência. Foto: UOL

VOCÊ "BATEU NA TRAVE" PARA VENCER EM INTERLAGOS PELA F1. GANHAR LÁ É O SEU MAIOR DESEJO HOJE PELA STOCK?

Para mim, vencer em Interlagos não é um empecilho. Ganhar em casa, não tenha dúvida que vale dois pontos, mais do que um (risos). Eu tenho muito mais o amor a Interlagos, por tudo o que me proporcionou, ainda mais por ser um cidadão de Interlagos, uma criança que viveu lá, passei toda a infância por lá. Em nossas vidas nós temos muitas situações, e os fãs sabem quantas vezes eu teria vencido em Interlagos, se a gente vai no "se", mas não existe o "se". Interlagos é sempre muito especial pra mim, e eu já chorei muito mais de alegria do que de qualquer coisa que tenha doido por lá, então Interlagos será sempre especial no meu coração e eu vou voltar com o maior prazer para correr por lá, sempre.

Emoção em Interlagos na festa com champanhe no pódio em 9 de março de 2018, quando terminou em segundo lugar a Corrida de Duplas. Foto: Marcos Júnior Micheletti/Portal TT

 

ABAIXO, OS RESULTADOS DOS TESTES COLETIVOS DA F1 EM BARCELONA EM 10 DE MARÇO DE 2009, PRIMEIRA VEZ QUE BARRICHELLO GUIOU O CARRO DA BRAWN-GP MERCEDES:

1º    Kimi Raikkönen (FIN/Ferrari), 1min20s314 
2º    Kazuki Nakajima (JAP/Williams-Toyota), 1min20s907 
3º    Rubens Barrichello (BRA/Brawn GP Mercedes), 1min20s966 
4º    Jarno Trulli (ITA/Toyota), 1min21s182
5º    Mark Webber (AUS/Red Bull-Renault), 1min21s347 
6º    Nick Heidfeld (ALE/BMW Sauber), 1min21s615 
7º    Adrian Sutil (ALE/Force India-Mercedes), 1min21s834 
8º    Fernando Alonso (ESP/Renault), 1min21s937 
9º    Heikki Kovalainen (FIN/McLaren-Mercedes), 1min21s991 
10º  Sebastien Bourdais (FRA/Toro Rosso-Ferrari), 1min23s039 
11º  Sebastien Buemi (SUI/Toro Rosso-Ferrari), sem tempo

O MUNDIAL DE 2009

Ao término do campeonato de 2009, após 17 etapas, o britânico Jenson Button conquistou seu primeiro e único título na F1, com 95 pontos, acumulando seis vitórias no ano. O alemão Sebastian Vettel (Red Bull-Renault) foi o vice campeão, com 84 pontos (quatro vitórias). Rubens Barrichello terminou em terceiro, com 77, tendo vencido duas etapas.

A Brawn-GP sagrou-se campeã entre os construtores, com 172 pontos. A Red Bull, que contava com o australiano Mark Webber além de Vettel, foi a segunda colocada, com 153,5 pontos.

DEPOIS DA BRAWN...

Em 16 de novembro de 2009, 15 dias após o término da temporada, a Mercedes anunciou a compra da Brawn-GP, mantendo praticamente toda a estrutura do time campeão naquele ano.

Para 2010 a Mercedes contratou os alemães Michael Schumacher (que estava sem competir na categoria desde o final de 2006) e Nico Rosberg, vindo da Williams.

Rubens Barrichello assinou contrato com a Williams, onde permaneceu nas temporadas de 2010 e 2011.

Em 2012 esteve na Fórmula Indy pela KV Racing e passou a competir pela Stock Car no mesmo ano de 2012, disputando as três últimas etapas daquele ano, pela Full Time Sports.

Desde 2013 integra a equipe Full Time Sports, pela qual conquistou o título da temporada de 2014. Entre suas vitórias, ganhou por duas vezes a "Corrida do Milhão", em 2014 e 2018, ambas em Goiânia, a primeira delas no traçado tradicional e a segunda no anel externo. 

Barrichello, que está com 46 anos, também disputou provas de longa duração no exterior, entre elas as 24 Horas de Le Mans e as 24 Horas de Daytona. Seu próximo compromisso na Stock será na abertura da temporada, dia 7 de abril no Velopark, em Nova Santa Rita, região metropolitana de Porto Alegre.

Em 3 de dezembro de 2018 inaugurou, em parceria com sete sócios, um restaurante em São Paulo, o Cutello Fire & Drink. Clique aqui e veja como foi a noite em que o piloto recebeu convidados para a festa.

Em 3 de dezembro de 2018, na inauguração do seu restaurante em São Paulo, o Cutello Fire & Drink.  Da esquerda para a direita, Natalia Costa, Erica Hideshima, Rubens Barrichello, Patricia Alves, Renan Riggo e Fernanda Gonçalves. Foto: Marcos Júnior Micheletti/Portal TT

 

Jenson Button, por sua vez, companheiro de equipe de Barrichello na Brawn-GP em 2009, migrou para a McLaren, onde permaneceu entre 2010 e 2017, período em que conquistou sete vitórias.  Atualmente com 39 anos, Button disputa o WEC (Campeonato Mundial de Endurance) pela equipe SMP Racing na categoria  LMP1, e também o Super GT japonês.

ABAIXO, EM 6 DE MARÇO DE 2009, ENTREVISTA DE RUBENS BARRICHELLO AO REPÓRTER PEDRO BASSAN, DA REDE GLOBO, LOGO APÓS FIRMAR CONTRATO COM A BRAWN-GP, EM MATÉRIA EXIBIDA NO JORNAL NACIONAL

AGRADECIMENTO ESPECIAL: NATALIA COSTA, JORNALISTA, ASSESSORA DE RUBENS BARRICHELLO




  

 

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