Neste final de semana que passou, o São Paulo realizou um cruzeiro para celebrar os 20 anos do primeiro título mundial conquistado em 1992, contra a equipe do Barcelona.

Neste final de semana que passou, o São Paulo realizou um cruzeiro para celebrar os 20 anos do primeiro título mundial conquistado em 1992, contra a equipe do Barcelona.

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Neste final de semana que passou, o São Paulo realizou um cruzeiro para celebrar os 20 anos do primeiro título mundial conquistado em 1992, contra a equipe do Barcelona. Reuniu diversos jogadores de duas épocas distintas da história do SPFC: a geração dos Menudos do Morumbi que encantou o Brasil nos anos 1980 e que de certa forma abriu caminho para as conquistas seguintes e a vitoriosa geração dos anos 1990 que conquistou tudo o que podia sob a batuta de um verdadeiro mestre. Este evento, chamado Navio Tricolor permitiu que centenas de torcedores conhecessem os jogadores que fizeram história no clube.

O fim de semana foi propício para as comemorações, além do encontro, das festas e de toda a agitação, os tripulantes tricolores ainda assistiram a classificação da equipe são-paulina para as semifinais do Campeonato Paulista e ainda puderam acompanhar, já em terra firme, a eliminação de dois rivais que pleiteavam o título: Palmeiras e Corinthians, que acabaram não resistindo a este sistema de partida eliminatória composta de um jogo apenas. Enfim, um final de semana quase perfeito mas que me fez ponderar sobre o papel do torcedor, já que tive a oportunidade, no meio do trabalho de cobertura, de conhecer tantos, de diferentes gerações, ideias e paixões.

Antes da partida decisiva do Campeonato Paulista, exatamente na véspera, para ser mais exato, o navio atracou em Ilhabela para que os jogadores dessas duas gerações pudessem se enfrentar como comemoração àquele título tão disputado, vencido de virada, em terras japonesas. Liderados por Raí, parte daquela equipe enfrentou outra, aquela que abriu caminho, que foi liderada por outro gênio da bola, Careca. Em um jogo de estrelas, craques como Raí, Adílson, Ronaldão, Ronaldo Luís, Dinho, enfrentaram Careca, Oscar, Sidney, Pavão, Gilmar Rinaldi, Dario Pereyra ? que mesmo sem poder jogar acompanhou de perto, no banco ? e tantos outros. Dirigentes como Marco Aurélio Cunha, que não vou mencionar que acabou levando um chapéu do genial Raí, e alguns torcedores sortudos e jornalistas que puderam completar as equipes nesta grandiosa festa. O resultado não poderia ser outro: Um justo empate com dois tentos marcados para cada lado.

Cheguei a temer que algo ruim pudesse acontecer na disputa do dia seguinte. O São Paulo enfrentaria o Bragantino e uma derrota eliminaria a equipe, alvo das celebrações no meio de um evento festivo, em alto mar, o que poderia seguramente estragar aquele sentimento de alegria. O jogo foi transmitido por TVs e telões e o medo foi injustificado, já que o tricolor resolveu jogar o que sabia e mandou para longe a zebra que brilharia em dois de três jogos disputados no dia seguinte. O que me preocupava era justamente o sentimento de alguns torcedores de hoje que, alimentados por tantas informações, provocações e cobranças, acabaram fomentando uma característica imediatista que não aceita qualquer resultado que não a vitória. Percebi, durante as comemorações no navio que cada time tem sua história, que cada equipe tem muito a celebrar e que mesmo com o sofrimento de uma eliminação, de uma perda, de uma brincadeira de um rival, há que se fortalecer em um passado de glórias e na esperança de dias melhores. O ideal do esporte é saber apoiar essas paixões nos momentos bons e ruins como em uma espécie de casamento. E foi nesse divagar que acabei pensando em uma figura que infelizmente não está mais presente e que faz imensa falta ao futebol: Telê Santana.

Telê, figura ilustre mineira que ironicamente deixou saudades em um 21 de abril, exatos seis anos atrás, enxergava no esporte este ideal. Preocupava-se com o espetáculo, com o respeito aos rivais e torcedores, treinava à exaustão jogadas para aprimorar as equipes que dirigia e mesmo com tantas qualidades, carregou por anos o fardo das derrotas de 82 e 86 sob o comando da seleção brasileira. E isso mesmo consagrando o futebol do selecionado, sendo elogiado pela imprensa do mundo inteiro que chegou a agradecê-lo em coletivas por aquele futebol praticado. Telê resume esse sentimento que eu temia, injustificadamente no navio: o Brasil chegou a pregar um futebol feio e de resultados como se a beleza e não o acaso fosse responsável por aquelas eliminações. Demorou 10 anos para provar ao mundo que estava certo. E por sorte fez isso agigantando o SPFC. Sorte, obviamente dos torcedores são-paulinos e de tantos outros que conseguiram deixar de lado a rivalidade para admirar aquele time.

Telê, que antes de partir pode escutar a torcida gritar seu nome no estádio, anos depois da aposentadoria forçada, quando o São Paulo conquistava seu terceiro título de Libertadores, e se emocionar com a justa homenagem, faz falta nos dias de hoje. Aliás, lembro-me de poucas equipes que costumam gritar o nome de jogadores do passado como homenagem e um número ainda menor, na verdade não lembro de nenhuma, que grita o nome de um técnico, independente de conquistas. Telê merece isso e muito mais.

O futebol moderno começa a perceber de novo a importância da molecagem, do espetáculo, da graça, independente dos resultados. Começa a perceber que a torcida quer ver luta, entrega, paixão e não patrocínios, dinheiro e desinteresse, e este pode ser um sentimento novo, necessário a um esporte que infelizmente ainda permite tantas malezas.

No navio, a torcida puxou o coro, diversas vezes e de maneira justificada em homenagem e carinho ao mestre. E foi acompanhada pelos jogadores das duas gerações: uma que foi conduzida pelo mestre na seleção campeã moral e outra na que conquistou e encantou o mundo. Ironia do destino? Não acredito. Na verdade é apenas reconhecimento dos valores mais nobres do esporte, quando estes são encarados com amor e seriedade. Lembro-me bem, da primeira vez que a torcida tricolor fez essa homenagem em 2005 no estádio, das lágrimas nos olhos de meu pai, emocionado com aquela gratidão. Ele que me ensinou tanto sobre futebol, que era sua grande paixão já que chegou a jogar profissionalmente por alguns anos, ainda se surpreendia quando estes valores eram ressaltados por torcedores que compreendiam aquele sentimento. Por sorte Telê teve este reconhecimento ainda em vida e pode se emocionar também. Ele que tinha o coração ligado a outro tricolor, deve ter levado consigo uma cor a mais a partir daquelas conquistas e homenagens. De minha parte só posso me juntar ao coro e torcer por dias melhores no futebol: Olê, Olê, Olê... Telê, Telê...

Por Flavio Padovani

Flavio Padovani, mais conhecido como Repórter Bandana é a terceira geração de uma família que torce para o São Paulo desde o avô. Responsável pela comunicação do Arquibancada Tricolor, espera ainda pela volta de Lugano e pelas conquistas da América e do Mundo, ainda com Rogério Ceni atuando no gol.

Imagem: @CowboySL

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