Bolsonaro e Haddad viraram polêmicos jogadores de seleção com o Ibope e o Datafolha

Bolsonaro e Haddad viraram polêmicos jogadores de seleção com o Ibope e o Datafolha

Terminam neste domingo as agitadas eleições do Brasil para presidente e governadores.

Muita coisa boa apareceu e muita coisa nojenta também.

Aliás, sempre foi assim, a comunicação de antigamente é que era diferente, simplória, quase boca a boca, poste a poste, árvore a árvore, muro a muro.

Na de 1960, quando tinha inocentes nove anos, "fui cabo eleitoral" do Marechal Lott (o Henrique Batista Duffles Teixeira Lott) e de Jango (vice) contra Jânio da Silva Quadros, presidenciável favorito, e Milton Campos (vice).

Lott, Jango, Jânio e Milton Campos, os protagonistas das eleições de 1960

E também do Tancredo Neves contra Magalhães Pinto para o Governo de Minas Gerais.

E do saudoso Delson Scarano, “o deputado do café”, de São Sebastião do Paraíso-MG.

E explico “o meu apoio”.

Meu saudoso Tio Celino (Juscelino Bonelli Maciel) era prefeito de Monte Belo-MG pelo PSD, partido de Lott e de Tancredo, e nós, a molecada de Muzambinho-MG, na base de dois picolés por dia, “aderimos” e éramos “pregadores de cartazes”, pequenos, médios e grandes, nos postes, troncos de árvores, muros, na pequena rodoviária e até no apertado Velório do Cemitério São José.

Juscelino Bonelli Maciel e Milton Neves, em 2006

Na Igreja de São José, o Frei Rafael ralhava com a gente, não deixava e nos expulsava.

E cada moleque ganhava por dia, além de dois picolés do “Bar Avenida”, uma “espadinha dourada” que a gente pensava ser de ouro mesmo!

Imagina!

Só que as espadinhas do Lott foram rareando e os donos dos muros, das árvores dos jardins e dos postes defronte suas casas não paravam de “danar” com a gente.

“Nada de espadinha aqui e nem de cartaz do Lott, quero vassourinha e cartaz do Jânio”.

Ali saquei, pela primeira vez na vida, o favoritismo de um candidato, a força do marketing, então caipira e humilde, e das “pesquisas” de opinião “dos Ibopes e Datafolhas” de ontem.

E senti de perto o marketing inteligente e profissional de Jânio com seu slogan “varre, varre, vassourinha”.

Um case histórico na comunicação da publicidade brasileira.

Jânio e sua histórica "vassourinha"

Conclusão: “nós”, do PSD, perdemos tudo, menos com João Goulart, vice-presidente que, como todos os vices, concorria em separado.

Fiquei triste pelo Tio Celino, entrou o Jânio Quadros, que foi um fiasco e em sua renúncia, após turbulenta sucessão, empossaram o vice gaúcho Jango, que, mais tarde, foi “expulso”, daí surgindo a figura sempre anormal da Ditadura.

“Perdi a eleição”, mas com dois consolos.

Entre o entra e sai de Jango, o deputado federal Ranieri Mazzilli (1910 – 1975) “governou” o Brasil por 13 dias, duas vezes!!!

E Ranieri Mazzilli era natural de... Caconde e primo de Domingos Mazzilli, prefeito de Muzambinho e dono da “Casa Mazzilli”, onde minha Tia Antônia comprou meu primeiro rádio, um GE de capa de couro marrom.

Foi o rádio que me fez jornalista e comunicador "dos bão mêmu".

       

À esquerda, Ranieri Mazzilli, que foi presidente do Brasil por 13 dias; à esquerda, a tradicional “Casa Mazzilli”, de Muzambinho

Sim, falo da vizinha Caconde, onde nossos times iam sempre lá jogar contra o forte Boca Juniors local.

E duro era convencer o nosso “CR7 melhorado”, o então craque Vanderlei do Racine (1950 – 2018), a jogar por Muzambinho, e não por Caconde.

É que o pai dele, o “Seo Racine do Cartório”, tinha uma fazenda no meio do caminho entre Muzambinho e Caconde.

Vanderlei, centroavante espetacular, era escolhido no par ou ímpar, no meio do campo do lado do juiz, dos dois capitães e de dois reservas.

Na hora do sorteio, no círculo central, em ritual inusitado, épico, inédito e absurdo, cada time levava um reserva de “sobreaviso”.

Aí, o time que “perdia” o Vanderlei na moeda ou no toss especial já escalava o reserva na hora, ali mesmo, de prontidão.

Já o outro ia murchinho do meio-campo para o “barranco” de seu time, onde sentavam os reservas na beirada do campo.

Sim, “barranco”, o que hoje se chama de “casamata” (no Rio Grande do Sul) ou bancos de reservas confortáveis e climatizados dos modernos estádios do Brasil.

Antes e depois de Vanderlei do Racine, o "CR7 do Sul de Minas"

E outra lembrança que tenho de minha primeira e única campanha como “cabo eleitoral” é o “cheiro do grude”.

Sim, grude, mistura de água com farinha de trigo que a gente colocava em latas de azeitona, feijoada ou cera Parquetina para colar os cartazes do Lott, Jango, Tancredo e Scarano.

Pois, saibam, que hoje especialistas chamam de “memória olfativa”, quando sinto cheiro de grude ou de algo bem parecido, volto por milésimos de segundo aos meus oito ou nove anos.

Certas flores ou perfumes lá da infância nos levam também de volta bem rapidinho, atestam os estudiosos da área de memória olfativa.

Todos somos assim.

Lata de cera Parquetina. Nela, Milton Neves armazenava o seu "grude"

E como serão as eleições deste domingo?

Sei lá, mas sei que as contestadas pesquisas de opinião viraram Feola, Aymoré, Saldanha, Zagallo, Parreira e Felipão.

Nos tempos deles, quando éramos melhores do mundo, o Brasil parava para se saber quais os 22 ou 23 jogadores que iriam para Copa pelo Brasil.

Hoje, ninguém briga mais nem para gargantear que seu time teve mais jogador convocado do que o do teu amigo.

Também, aguentar coletiva do Tite é dose para leão...

E não é que a emoção das convocações de ontem voltou com a espera da divulgação das pesquisas eleitorais para presidente?

Bolsonaro e Haddad viraram polêmicos jogadores de seleção com o Ibope e o Datafolha figurando como treinadores da CBD ou da CBF quando tínhamos craques, mas craques mesmo!

Daí o empate entre convocações de ontem e as pesquisas de hoje.

 

SOBRE O COLUNISTA

Milton Neves Filho, nasceu em Muzambinho-MG, no dia 6 de agosto de 1951.

É publicitário e jornalista profissional diplomado. Iniciou a carreira em 1968, aos 17 anos, como locutor na Rádio Continental em sua cidade natal.

Trabalhou na Rádio Colombo, em Curitiba-PR, em 1971 e na Rádio Jovem Pan AM de São Paulo, de 1972 a 2005. Atualmente, Milton Neves apresenta os programas "Terceiro Tempo?, "Domingo Esportivo? e "Concentraç&atild... Saiba Mais

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