Holandês tem a sorte de guiar carros mais seguros que o canadense

Holandês tem a sorte de guiar carros mais seguros que o canadense

As comparações normalmente transitam em um terreno lamacento.

Temos a mania, quase obstinação, de considerarmos melhor aquilo que já passou.

O bom e velho saudosismo. 

A primeira namorada, que nos deixou arrepiado apenas de mãos dadas durante uma sessão de cinema é melhor do que a última.

A primeira escola, o primeiro beijo, a primeira pedalada na bicicleta.

Acompanho Fórmula 1 desde o GP do Japão de 1976, aquele que definiu o campeoato a favor de James Hunt no embate com Niki Lauda.

A história daquela temporada foi boa o suficiente para transformar-se em película igualmente boa, "Rush", de 2013.

Como o saudosismo me consome, ainda acho "Grand Prix", de 1966, o melhor para retratar o esporte a motor.

Comparar pilotos é uma gelada, sobretudo quando os personagens não foram contemporâneos.

Ainda assim, como não entrarei no critério mecânico que os separa, acho possível traçar paralelos entre Max Verstappen e Gilles Villeneuve.

As sandices feitas por Verstappen nos GPs do Bahrein e da China, em duelos com Hamilton e Vettel, respectivamente, evidenciam que falta ao holandês aquilo que ele já deveria ter adquirido na F1: paciência.

Uma das máximas do automobilismo é a de que não se ganha uma corrida na primeira volta. 

Outra, é que há, sim, momento para uma manobra precisa, correta, para uma ultrapassagem.

Ricciardo, vencedor no Bahrein neste ano, provou isso, com o mesmo carro que Verstappen.

Impossível não enxergar semelhanças entre Max e Gilles Villeneuve.

O canadense, apontado por muitos como um virtual campeão de F1, era arrojado, tinha uma habilidade acima da média e, igualmente, fazia besteiras, muitas, a maior delas lhe levou à morte, em uma manobra suicida durante a classiicação para o GP da Bélgica de 1982, em Zolder.

Villeneuve não ouvia ninguém. Nem a Enzo Ferrari, seu patrão e fã, ainda que o comendador tentasse manter-se emocionalmente numa calculada distância em relação a seus pilotos. 

Nelson Piquet tinha uma definição perfeita para Gilles: "Ele usa um capacete menor que sua cabeça, então, quando o coloca, seu cérebro é comprimido e sai fazendo bobagens".

Villeneuve era um potro indomável.

E, a bordo das "cadeiras elétricas" da F1 de décadas atrás, só poderia mesmo terminar como terminou.

Verstappen, a seu favor, tem um carro muito mais seguro, autódromos idem.

Por enquanto, a Red Bul parece ainda passar a mão por sua cabeça. Mas isso, ao que tudo indica, está com os dias contados.

A corrida magnânima de Daniel Ricciardo, com a estratégia perfeita e ultrapassagens brilhantes, esmaeceu a presença de Max Verstappen na pista de Xangai.

Max tem, claro, chance enorme de tornar-se um dos grandes da F1.

Precisará amadurecer e tirar o ar carrancudo da cara.

Pedir que sorria e se emocione como Ricciardo seria demais.

Na escala do progresso humano, nitidamente ele está atrás do australiano.

Ricciardo merece, aliás, estar na equipe mais tradicional da F1.

Ele ficará muito bem de macacão vermelho em 2019.

ABAIXO, VÍDEO DO ACIDENTE FATAL DE GILLES VILLENEUVE, EM 8 DE MAIO DE 1982. DURENTE A CLASSIFICAÇÃO PARA O GP DA BÉLGICA, EM ZOLDER. NA CURVA, TENTOU ULTRAPASSAR O ALEMÃO JOCHEN MASS (MARCH), BEM MAIS LENTO NA PISTA. GILLES TINHA 32 ANOS.

 

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SOBRE O COLUNISTA

Editor de automobilismo do Portal Terceiro Tempo, começou no site de Milton Neves em 10 de março de 2009. Também atua como repórter, redator geral, colunista e fotógrafo. Em novembro de 2010 criou o Bella Macchina, programa em vídeo sobre esporte a motor que já contou com as presenças de Felipe Massa, Cacá Bueno, Bruno Senna, Bia Figueiredo, Ingo Hoffmann e Roberto Moreno, entre outros.

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