Felipão tem de devolver o protagonismo ao time, e Cuca tirar o Santos do buraco. Fotos: Cesar Greco/Palmeiras

Felipão tem de devolver o protagonismo ao time, e Cuca tirar o Santos do buraco. Fotos: Cesar Greco/Palmeiras

Por João Antonio de Carvalho

Os últimos dias foram de expectativa para os torcedores de Palmeiras e Santos, desde que essas duas equipes demitiram os seus treinadores: Roger Machado e Jair Ventura. O Palmeiras agiu logo, contratando Luiz Felipe Scolari pouco mais de 24 horas depois, já o Santos demorou bem mais, mas finalmente fechou com Cuca.

Os dois treinadores já tiveram passagens por essas equipes, mas enquanto Felipão brilhou no seu primeiro trabalho no Palmeiras e pelo menos ganhou um título importante na segunda, Cuca vai tentar apagar os 14 jogos de pouco brilho que teve pelo Santos em 2008.

No caso de Felipão, apesar de estigmatizado pelos 7 a 1 da Copa de 2014, ele é um treinador de muitas conquistas, e esse cartel, unido ao seu perfil, foi fundamental para a sua escolha, em um momento que o Palmeiras precisava de uma bela sacudida.

Mesmo com os milhões gastos pelo clube e pela patrocinadora, e com os grandes nomes contratados, o time nunca convenceu. Não conseguiu nem ganhar o regional e nem se manter entre os primeiros do Brasileirão, apesar da boa campanha na primeira fase da Libertadores.

Roger teve tempo e um ótimo elenco, mas cometeu falhas gritantes em sua passagem pelo clube. Não teve coragem de tirar do time jogadores que não estavam rendendo bem, como Dudu e Lucas Lima, e permitiu que a equipe se tornasse a mais indisciplinada do campeonato.

O Palmeiras está  liderando em cartões amarelos recebidos, 53, contra 49 do Vitória, que está entre os piores times do campeonato, e em faltas cometidas, 291, onze a mais também do que o Vitória.

A sua apatia no banco, e após os resultados ruins, também deixavam o torcedor irritado e isso com certeza é o que não vai ocorrer a partir da agora. Felipão, talvez à exceção do famoso e imprevisível 7 a 1, é um treinador vibrante e que joga com o time.

Ele não é apenas um treinador competente, mas também motivador, e sabe como poucos juntar um grupo, e esse será um de seus principais desafios, pois num elenco tão estrelado e com todos querendo uma vaga, é bem difícil a união visando o resultado final.

Tecnicamente todos conhecem o trabalho de Scolari, duas vezes campeão da Libertadores, uma com o Grêmio e outra com o Palmeiras, campeão mundial em 2002 e várias outras conquistas entre o Campeonato Brasileiro, a Copa do Brasil e os campeonatos regionais.

Não que o elenco do Palmeiras seja perfeito, mas claramente dá opções de sobra para um treinador, e foi isso que Roger não conseguiu e que o torcedor espera que Felipão consiga. Um time forte, bem treinado, vibrante e que volte a ser candidato nas três competições que segue disputando.

No caso de Cuca ele já chega com dois problemas, o primeiro, e mais grave, é tirar o time da incômoda zona de rebaixamento, onde entrou nessa segunda-feira, e o segundo, menos complicado, é apagar sua péssima passagem em 2008.

Naquele momento, apesar de bons trabalhos no Goiás, no São Paulo e no Botafogo, Cuca ainda convivia com suas manias e incertezas, e só tinha no currículo dois títulos da Taça Rio com o alvinegro carioca.

O time vinha desmoralizado após uma eliminação na Libertadores e uma goleada de 4 a 0 para o Cruzeiro e não tinha grandes nomes,sendo os mais experientes o goleiro Fabio Costa, o lateral Kleber, o colombiano Molina e o atacante Kleber Pereira.

Cuca chegou a pedir demissão em seu oitavo jogo, uma goleada de 3 a 0 para o Figueirense, em Florianópolis, após quatro derrotas e quatro empates, mas voltou atrás e ainda ficou mais seis partidas, com as primeiras três vitórias e outras três derrotas, sendo as duas últimas em plena Vila Belmiro, para Coritiba e Atlético Mineiro, deixando de vez o clube com ele em 18º lugar e na zona de rebaixamento.

Mas hoje o patamar de Cuca mudou muito, nesses dez anos ele foi campeão da Libertadores, pelo Atlético Mineiro, em 2013, e campeão brasileiro pelo Palmeiras, em 2016. Além disso desde 2011 só ficou um ano sem conquistar um título, exatamente em 2017.

E com mais maturidade para apagar sua passagem de 2008 restará a Cuca tirar o Santos da situação horrível em que se encontra, e sem ter tantas opções, como teve nos seus dois últimos trabalhos no Palmeiras.

Pelo menos ele vai ganhar algo que Jair Ventura tanto pediu mas não recebeu, reforços com experiência para auxiliar o trabalho de um treinador. Chegam o costariquenho Bryan Ruiz, um armador que fez falta desde a saída de Lucas Lima, o uruguaio Carlos Sanchéz, capaz de jogar em várias funções do meio-campo e Derliz González, paraguaio que pode ser ótima opção pelos lados do campo.

Talvez o principal problema de Cuca será motivar o time, visto que ele não tem esse perfil, como o rival Felipão. Depois terá de arrumar a casa, e terá problemas em todos os setores. O goleiro Vanderlei andou errando mais do que em toda a temporada 2017, mas ainda é um dos mais seguros do país.

A defesa, apesar de ter sofrido apenas 19 gols, número baixo para um time do Z-4, não tem uma liderança. David Braz bem que tentou assumir esse papel, mas não consegue convencer totalmente os torcedores, assim como Veríssimo, Gustavo Henrique, Luiz Felipe. Nas laterais novamente o time tem jogadores inconstantes, com Victor Ferraz e Daniel Guedes pela direita e Dodô pela esquerda.

No setor mais importante do time, o meio-campo, o Santos passou todo primeiro semestre tentando achar um armador e não conseguiu. E seus volantes tem algumas limitações, como Alisson no passe, Renato na idade e Pituca pela falta de experiência. Bryan Ruiz e Sanchéz com certeza irão melhorar esse quadro, mas isso tem de acontecer o mais rápido possível.

E no ataque, apesar das boas opções de jogadores pelos lados de campo, a falta de um centroavante matador atrapalha muito. Ninguém pode negar as virtudes do ótimo Rodrygo, de Eduardo Sacha, de Gabigol, de Bruno Henrique e até dos jovens Arthur Gomes e Diogo Vítor. A chegada de Derliz Gonzáles vai aumentar essa briga, mas não vai resolver o problema da falta da referência.

Apesar de tudo isso não vejo a situação do Santos como desesperadora, o time tem o final do turno e todo o segundo para se recuperar, tem agora um técnico confiante e reforços de experiência, mas é bom se cuidar, porque já vimos esse filme com outros chamados “grandes”.

Achei as duas contratações acertadas, para o momento que vivem as duas equipes, mas só o tempo irá dizer se Felipão conseguirá domar e conviver com o caro elenco do Palmeiras, e se Cuca terá força e personalidade para tirar o Santos do buraco. E você, o que acha???

SOBRE O COLUNISTA

Jornalista com passagens pela Rádio Jovem Pan, Sportv e Fox Sports é especialista em esportes olímpicos.

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