Tite terá mais um ciclo com a seleção brasileira. Foto: Luis Acosta/AFP/Via UOL

Tite terá mais um ciclo com a seleção brasileira. Foto: Luis Acosta/AFP/Via UOL

O sim de Tite é mais um indício de que a CBF pode mudar de mentalidade a partir do próximo ano. Na realidade esse processo começou quando Rogério Caboclo foi eleito presidente. Só assume em abril, mas tem atuado como CEO da entidade. Para bom entendedor... ele já está mandando no pedaço.

Até porque se o futebol depender de alguma convicção ou decisão do Coronel Nunes já sabe né? “Achei que o voto era secreto” responde a medida de sua capacidade. Então, prefiro um presidente que ainda não é presidente a um presidente que jamais será presidente.

Por hábito, a CBF trocaria de técnico tranquilamente após eliminação em uma Copa do Mundo que não foi das mais difíceis de se vencer. O próprio Tite condicionou a continuidade do trabalho ao desempenho da seleção na Rússia.

Tite não é perfeito não. Tem seus defeitos. O discurso do “bom mocismo”, positivista, evitando exposições e saindo pela tangente das perguntas mais delicadas, já cansou. Valeu ao técnico o título de encantador de serpentes, by Diego Lugano, em entrevista à ESPN Brasil, em 2016.

Apesar disso, o trabalho dele como técnico está longe de ser um fiasco ou merecedor de esquecimento. Quando assumiu a seleção estava um caos. Recém eliminada pelo Peru da Copa América Centenário, ainda na fase de grupos, e em sexto lugar nas Eliminatórias para o Mundial da Rússia.

Foi o trabalho de Tite e da sua comissão que resgatou o futebol brasileiro sim. “Ah, mas os jogadores não queriam mais o Dunga”. Já ouvi muito isso nestes dois anos sem o antigo treinador. Ué, mas no caso da seleção querer ou não querer é prerrogativa do técnico. Se existe um desafeto, alguém que atrapalha o desenvolvimento do trabalho, basta não convocar.

O ganhar e perder faz muito parte do jogo. Quase nunca entendemos isso como normal porque brasileiro se habituou a ser considerado o melhor no futebol. Então, não aceitamos outro resultado que não seja a vitória e a conquista. E é difícil mesmo aceitar a realidade quando ela é dura, mas os tempos de hegemonia ficaram distantes.

Até por isso, mais do que nunca, é preciso entender a necessidade de um trabalho que pode manter a seleção competitiva. Lutando para chegar aos primeiros lugares ou perdendo com honestidade, como foi na Rússia. O Brasil tentou inverter a situação, mas não conseguiu.

Procure aí os melhores momentos de Brasil x Peru pela Copa América de 2016. Vai ver que o Peru venceu com um gol irregular, mas que a seleção foi incapaz de produzir o suficiente para sair honrosamente de campo. Aliás, naquela competição, a seleção de Dunga fez gols apenas na “forte” seleção do Haiti (vitória por 7 a 1).

Dificilmente um treinador inicia um ciclo de Copa do Mundo e o encerra na disputa do torneio. Sempre há uma tentativa de ajustar a rota no caminho. O trabalho visando 2022 passa por uma renovação no grupo brasileiro. Peças serão testadas e veteranos serão renegados. Aí vão criticar o técnico “por que não convocou fulano para Copa e deixou para chamar agora? Por que levou beltrano e não o chamou agora que não vale nada?”

É o nosso jeito de ver e torcer pela seleção.

SOBRE O COLUNISTA

Formado em Comunicação Social - Jornalismo, pela Universidade Metodista, iniciou a carreira na Rádio ABC, passou pelo Portal Terra e Rádio Bandeirantes, onde desempenhou funções como repórter, editor, comentarista e apresentador nas editorias de Esporte e Geral.

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