Vicente Matheus

Ex-presidente do Corinthians
por Marcelo Rozenberg

O espanhol Vicente Matheus morreu sem muito alarde no dia 8 de fevereiro de 1997, em meio ao Carnaval.
Nesta época, estava afastado da política do Corinthians, que tanto amou e do qual foi presidente em oito mandatos (1959, 72, 73, 75, 77, 79, 87 e 89).
 
Mesmo assim, não há alvinegro que deixe de mencioná-lo como uma das principais referências, se não a principal, da história do clube. Nascido em Zamora em 28 de maio de 1908, desembarcou em São Paulo seis anos depois.
 
Filho de Luiz Matheus e Manglóriam Matheus, radicou-se em Guaianases, na periferia da zona Leste de São Paulo.
Começou a trabalhar aos 9 anos, na pedreira que o pai acabara de adquirir.
 
Com 12, cumpria jornada dupla, atuando também no armazém que fornecia alimentos aos empregados da firma paterna. A paixão pelo futebol já era nítida no então adolescente Vicente. Daí a tornar-se sócio do Corinthians foi um passo.
 
Naturalizou-se brasileiro apenas em 1945, já casado com dona Ruth. Deixou Guaianases para fixar residência no Tatuapé, ao lado do Parque São Jorge. Cresceu no mercado a tal ponto que abriu sua própria pavimentadora, batizada com seu nome. Nome, por sinal, que em meados da década de 50 já dava as cartas na política corintiana. Em 1959, assumiu a presidência do clube pela primeira vez.
 
Centralizador, deixou um legado importante. Transformou o Corinthians em uma das maiores potências da cidade do ponto de vista social. No futebol, estava no comando em dois dos títulos mais emblemáticos da história, o Paulista de 1977, que acabou com um jejum de 22 anos, e o Brasileiro de 1990, o primeiro vencido pelo Timão. Em 1954, na conquista do título do IV Centenário em uma decisão emocionante contra o Palmeiras, era diretor de Futebol.
Ao estilo inconfundível de dirigir somou-se um leque de frases que fez questão de agregar à rotina. Muitas delas, proferidas intencionalmente ou não, o tornaram um personagem folclórico. Eis algumas:

"Espero que os corintianos compareçam para naufragar nas urnas o meu nome?; "O difícil não é fácil?; "O Sócrates é invendável e imprestável?; Comigo ou sem migo, o Corinthians será campeão?; "Quem sai na chuva é para se queimar?; "Gostaria de agradecer a Antarctica pelas Brahmas que mandou?; "Não veio o Falcão, mas trouxe o Lero-Lero (referência a Biro-Biro)".
 
A baixa escolaridade de Matheus era apontada pelos jornalistas de plantão como desculpa para os deslizes verbais. Mas ele jamais se preocupou em justificá-los. Sua alegria era viver a rotina do Parque São Jorge, tanto que colocar dinheiro do próprio bolso para contratar jogadores tornou-se um ato corriqueiro.
No final da vida, estava casado com Marlene Matheus, que ajudou a eleger para presidir o Corinthians entre 1991 e 1993. Faleceu vitimado por um câncer generalizado. Está enterrado no cemitério da Quarta Parada, em São Paulo.
 
Abaixo, texto do excelente Pedro Luis Boscato sobre o inesquecível Vicente Matheus.
 
Na década de 50, o Corinthians teve dois Presidentes: Alfredo Ignácio Trindade até 1958 e Vicente Matheus. Matheus derrubou Trindade pelo voto direto dos associados, em chapa junto com Wadi Helu, Matheus Presidente e Wadi vice. Aí, depois de dois anos, obedecendo aos Estatutos, Assembléia somente com a participação dos Conselheiros. Aí Wadi Helu assumiu a Presidência, o mesmo Conselho que dava posse a Matheus dois anos atrás o tirava. Wadi ficou na Presidência até 1971, também sendo eleito de acordo com os Estatutos, Associados votavam a cada quatro anos, o mesmo acontecendo com Conselheiros.
 
Em 1971, num esquema inteligentemente, segundo comentários na ocasião, preparado por Felisberto Pinto Filho que era Vice na chapa que tinha Miguel Martinez como Presidente, chapa apoiada por Vicente Matheus, Wadi Helu deixou a Presidência, os associados que votaram. A oposição montou um esquema superinteligente. Encheu de carros a entrada do Parque São Jorge, não tinha lugar para estacionar, e botaram pessoas com bandeiras de Wadi, a turma de Wadi, indiscutivelmente era a maioria, assim que ia chegando ao Parque São Jorge, não encontrando lugar para estacionar e vendo que a vitória de Wadi já estava no papo, nem descia do carro, retornava para casa.
 
Aconteceu aqui na Vila Maria Zélia, vários carros, lotados, associados freqüentadores, todos votos para Wadi, chegaram sorridentes, inclusive, dizendo que era nova vitória de Wadi e que Corinthians era a Terceira Força da Nação, Presidencia da República a primeira, Governo de São Paulo a segunda e Presidência do Corinthians a terceira. A oposição dizia que, conseguindo equilibrar a eleição na parte da manhã, forte de Wadi, à tarde, com as caravanas que chegariam do interior, da grande São Paulo, tudo, segundo os comentários, financiado por Matheus, daria para Martinez vencer. E foi o que aconteceu, Miguel Martinez acabou vencendo, Wadi caiu.
 
Estive no Parque São Jorge esse dia, eu era Associado do Corinthians, sempre um belo clube. Estava na Marginal Tietê, rádio do carro na Bandeirantes, sempre davam resultado parcial, na medida que as urnas eram apuradas. Ao resultado apontando vantagem para Martinez, o saudoso Fiori Gigliotti dizia: "Vai se desmanchando o Império de Wadi no Corinthians, torcida brasileira!". Aí estiquei até o Parque São Jorge, lá fiquei até o anúncio do resultado final, quando o Alto Falante do Ginásio anunciou primeiramente Wadi Helu houve aplausos. Ao anunciar Miguel Martinez com mais votos, foi aquela euforia, quase que o Ginásio todo gritando em coro: "Martinez!", "Martinez!", Martinez!". Wadi deixou o ginásio, embora tranqüilo, evidente, chateado. Foi, também, um grande Presidente, transformou a Fazendinha em Cidade Corinthians. Matheus não estava na hora da apuração, segundo os noticiários, acompanhou o resultado de sua Pedreira, de lá, sabendo o resultado, veio com a turma toda da chapa para o Parque São Jorge, a vibração foi geral.
 
Depois de dez anos derrotado em eleições de voto direto dos associados e também no Conselho, Matheus lavou a alma. Acho que uns dois anos depois, Corinthians, também numa crise danada, falavam até que a Caixa Econômica tomaria conta do Parque São Jorge, inúmeros títulos protestados, isso era manchete diariamente na mídia, Matheus assumiu a Presidência, numa espécie, pode-se dizer, de Interventor, empossado pelo Conselho Deliberativo. Ficou até 1975 onde, de acordo com os estatutos, por eleição direta, associados votaram, disputando com Wadi Helu, Nieto e José Yunes, Matheus venceu brilhantemente, quase que por maioria absoluta. Depois da vitória, subindo no palco, aplaudidíssimo pelo grande número de pessoas presentes, Vicente Matheus, no seu discurso, disse em alto e bom tom: "Vamos montar um time para ganhar o campeonato! E olhem que é uma promessa depois de ganha as eleições e não antes!". E, verdade seja dita, depois de dois anos, 1977, Corinthians, sob a Presidência do saudoso Vicente Matheus, saiu da longa fila, conquistando o Campeonato Paulista.
Um abraço"

Basquete por Futebol

Wlamir Marques, campeão mundial de basquete pela Seleção Brasileira em 1959 e posteriormente bicampeão mundial em 1963, aceitou a proposta do então presidente do Corinthians, Vicente Matheus e veio jogar no Parque São Jorge.

Mas antes, precisava do aval do seu time, o XV de Piracicaba, que tinha um time fortíssimo de bola ao cesto. O diretor do departamento de basquete era o empresário Dovilio Ometto (ex-presidente das industrias Dedini) que consultou o presidente do clube, Romeu Ítalo Ripoli.

Rípoli, matreiro, inteligente, em contra-partida pediu em troca um jovem atacante do time de aspirantes do Timão, o jovem Ubiracy. O mandatário piracicabano conhecia muito bem o potencial do jogador, pois era apreciador do estilo voluntarioso do centroavante.

As informações foram obtidas via os historiadores do XV de Piracicaba Fernando e Rubéns Leite do Canto Braga.

ABAIXO, VICENTE MATHEUS NO CENTRO DO "RODA VIVA" DA TV CULTURA, EM 1987. MATHEUS SE EMOCIONA AO FALAR SOBRE SUA MÃE AOS 41´50´´

 

Em 1989, Vicente Matheus estrelou campanha do Sapato 752 da Vulcabras. Confira no vídeo abaixo: 

ABAIXO, ENTREVISTA COMPLETA DE VICENTE MATHEUS E MARLENE MATHEUS A MARÍLIA GABRIELA NO "CARA A CARA" DA BANDEIRANTES EM 1991

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