Perfumo

Ex-zagueiro do Cruzeiro, Racing e River Plate
por Marcelo Rozenberg

Zagueiro viril e de muita raça, Roberto Perfumo nasceu em Avellaneda, na Grande Buenos Aires. Começou a jogar no Racing, em 1962, e aí permaneceu durante nove anos.
 
Morreu no dia 9 de março de 2016 em Buenos Aires, no Hospital Argerich, após sofrer um traumatismo craniano, em decorrência de uma queda em uma escada de um restaurante. Perfumo tinha 73 anos.

Na seqüência, defendeu Cruzeiro (fez 138 jogos com a camisa celeste) e River Plate, onde encerrou sua carreira, em 1978.

Com a camisa da seleção argentina disputou duas Copas do Mundo, em 1966 e 1974. Após parar com a bola tentou a sorte como treinador e comentarista esportivo. Durante o governo de Nestor Kirchner na Argentina, que terminou em 2008, trabalhou como secretário de Esportes.

Seu último trabalho foi como colunista do Portal Olé.

Perfumo, que nasceu em 3 de outubro de 1942, em Sarandi, na região de Buenos Aires, conquistou títulos importantes na carreira. Pelo Racing, foi campeão da Libertadores de América e Mundial em 1967. Também foi tricampeão mineiro pelo Cruzeiro e campeão argentino pelo River em 1975.

Como treinador começou no Sarmiento, em 1981. Depois orientou Racing e Gimnasia y Esgrima de La Plata, também da Argentina, além do Olimpia, do Paraguai, onde foi campeão nacional.
 
ABAIXO, TEXTO ESCRITO POR ROGÉRIO LÚCIO EM HOMENAGEM A PERFUMO:
 
Salve Nação Azul!
Começo minha despedida do Marechal com uma pergunta.
Esqueça qualquer disse-me-disse recente e responda na lata: você gosta do Sorín?
Gosta do Montillo?

Então você tem que, no mínimo, respeitar a história de Roberto Alfredo Perfumo com a camisa do Cruzeiro!

Pense, por exemplo, se hoje o Cruzeiro contratasse o espanhol Sérgio Ramos, o Busquets ou o alemão Hummels.
Viagem? Delírio?
Pois em 1971 a raposa Felício Brandi, nosso então presidente, foi ao Racing Club da Argentina e nos trouxe de lá, aos 29 anos e no auge da forma física e técnica, o zagueirão Perfumo.

O `Marechal´ fazia parte então da seleção argentina e da seleção mundial da Fifa, e ostentava em seu currículo um título mundial de clubes pela equipe alvi-celeste de Alvellaneda.

De baixa estatura para a zaga (1,80 m), Perfumo compensava com um senso imenso de cobertura, um tempo muito rápido de bote nas roubadas de bola e de recuperação na zaga, aliados a muita raça e um temperamento forte, típico dos argentinos.

Perfumo chegou ao Cruzeiro para ser líder de uma nova equipe em formação, co-capitaneando junto a Raul, Piazza, Dirceu e Zé Carlos os jovens recém-chegados da estirpe de Palhinha, Eduardo, Roberto Batata e Joãozinho.

O novo time deu muita liga e Perfumo foi campeão mineiro em 1972, 73 e 74.
Disputou mais de 100 jogos com a camisa celeste (138, sendo bem preciso) e até hoje é o estrangeiro com mais partidas disputadas pelo Maior de Minas.

Há um fato curioso que quase abreviou a vitoriosa passagem do Marechal pelo Cruzeiro.
Um ano após sua chegada a BH, a sua bela esposa Mabel dizia-se incomodada com a pacata cidade. Belo Horizonte à época portava em torno de 1,5 milhões de habitantes e era um local muito sossegado, diferente da agitada metrópole que era Buenos Aires à época, com 10 milhões de moradores.

Havia outro complicador: o apartamento alugado pelo Cruzeiro para eles (havia ainda o filho Gustavo) ficava bem no centro da cidade, e o barulho dos carros incomodava o dia-a-dia da família.
Pois eis que após uma vitória contra o América, Perfumo chegou em casa e encontrou Mabel de malas prontas para a Argentina. Dela, do filho e do marido!
Por amor à família, Perfumo então decidiu largar o Cruzeiro e voltar pra casa.
Não tinha sequer outro clube como opção.
Era simplesmente voltar para depois decidir o futuro. E assim foi feito.

Acontece que o Cruzeiro tinha uma diretoria perspicaz e o então diretor de futebol e futuro presidente, Carmine Furletti, rumou à Argentina no meio da semana e entre explicações e pormenores, convenceu à família a voltar para BH.
Afinal, na metade da temporada (era mês de Julho), Perfumo realmente iria ficar parado até o próximo ano e durante esse tempo trabalharia como comentarista de TV. E era consenso de que esse hiato poderia inclusive acarretar na precoce aposentadoria do craque.

Para felicidade dele e nossa, Perfumo voltou e ganhou tudo o que ganhou.
Mudou-se de apartamento, deram-se o prazo devido à adaptação e o resto é a história que todos conhecem.

Já se encaminhando para a aposentadoria, entre as temporadas de 74 e 75, Perfumo recebeu uma oferta para voltar par Buenos Aires e jogar seus três últimos anos como profissional pelo River Plate, formando com Fillol e Passarela uma das melhores linhas defensivas de todos os tempos.
Lá ele também foi (e ainda é) idolatrado, mas quis o destino que sua história se cruzasse com a do Cruzeiro na final da Libertadores de 1976.
Perfumo jogou os dois primeiros jogos da final, mas suspenso não participou da batalha em terras chilenas que nos deu a primeira Libertadores.

O Marechal se aposentou pelo River em 1977, depois foi treinador de algum sucesso por times como o Racing Club e o Olimpia, do Paraguai.

Perfumo 2

Aqui e mais recentemente foi venerado por alguns de nossos craques contemporâneos, como Montillo e Sorín.
Junto a Juampi, inclusive, Perfumo foi homenageado por Cruzeiro e River Plate momentos antes do primeiro jogo entre as duas equipes no Monumental de Nuñez no ano passado, pelas quartas-de-final da Libertadores.

Perfumo 3

Atualmente trabalhava como colunista e comentarista de futebol em Buenos Aires.
Numa dessas, em resposta bem peculiar ao seu temperamento, Perfumo provocou a revolta de alguns torcedores do Cruzeiro às vésperas do já citado mata-mata contra o River.
Ele escreveu ao Olé que “…como todas as equipes do Brasil, o Cruzeiro tem registrado um desempenho lamentável. Sabemos que o futebol de nossos vizinhos é, atualmente, um dos piores do mundo. Com um desempenho muito pobre, o Cruzeiro perdeu para o Huracán. Acredito que o River é favorito”.
Não era, porém, mentira.
Duas semanas e uma acachapante derrota por 3 a 0 depois nos mostraram isso.

Como tento andar entre a linha fina que separam razão e emoção no mundo de um torcedor, não vou deixar que essa declaração me faça deixar de o homenagear.

Perfumo morreu ontem aos 73 anos após cair da escada num restaurante e sofrer um forte trauma craniano.

A notícia da morte acidental traz surpresa e consternação aos mais saudosistas, como eu.
Li lamentos de ex-companheiros tão entristecidos quanto eu.
Dirceu Lopes e Procópio, por exemplo, fizeram questão de enaltecer seu futebol vigoroso, sua honra à camisa azul e a lealdade enquanto parceiro de equipe e amigo.

O Marechal vai se juntar a outros tantos que daqui partiram a nos deixar saudades.
Como o seu consorte e há pouco por mim lembrado, Roberto Batata.
Juntos, devem estar contando casos no céu sobre o Cruzeiro, sobre o River, sobre os acidentes que lhes fintaram com a rapidez de um drible de Batata.
Que lhes roubaram o vicejar com a esperteza de um bote de Perfumo.

Entonces, hasta luego el Mariscal.
Muchas gracias por todo.
Y excusa la cegueira de muchos.

Dá-lhe Cruzeiro!

Abraços a todos, saudações celestes, fiquem com Deus!
Até a próxima!

por Rogério Lúcio
Twitter: @rogeriolucio77

(Fotos: Espn – Fórum Uol Esportes – Goal.com)

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