Gil Baiano

Ex-lateral do Bragantino e Palmeiras

por Rogério Micheletti

Um dos símbolos do bom time do Bragantino campeão paulista de 1990 e vice-campeão brasileiro de 1991, José Gildásio Pereira de Matos, o Gil Baiano, começou a trabalhar como auxiliar técnico do time de Bragança Paulista em 2006. Ele é sócio ainda de Luís Muller, ex-atacante, em um Centro Esportivo na terra da linguiça.

Dono de um chute potente, o lateral-direito Gil Baiano, que nasceu na cidade de Tucano (BA) no dia 3 de novembro de 1966, começou a carreira profissional no Guarani.

Em 1988, ele foi envolvido em uma polêmica troca com o Bragantino. O Guarani, disposto a ter o zagueiro Vitor Hugo (que defendeu também o Noroeste e o Flamengo), liberou para o Braga o lateral Gil Baiano, os zagueiros Júnior e Nei, o meia Zé Rubens, o volante Mauro Silva (tetracampeão do mundo com a seleção brasileira) e o atacante Mário.

Os ex-bugrinos formaram a base do time alvinegro de Bragança na boa campanha do estadual de 1989, quando o Bragantino eliminou o Palmeiras, então favorito ao título.

A vitória por 3 a 0 sobre o alviverde, no estádio Marcelo Stefani, começou a ser desenhada em uma cobrança de falta de Gil Baiano. Em um chute forte, de longe, o lateral-direito venceu o goleiro palmeirense Velloso.

Em 90, o Bragantino manteve os jogadores importantes do ano anterior. Com Luxemburgo no comando, o alvinegro fez a inédita final caipira com o Novorizontino. O Bragantino ficou no empate com o Tigre, 1 a 1, em Bragança, e garantiu o título mais importante de sua história.

No ano seguinte, já sob o comando de Carlos Alberto Parreira, o Braga por pouco não conquistou o Brasileirão. A equipe do interior paulista esbarrou no bom time do São Paulo, do técnico Telê Santana.

Depois de cinco anos de Bragantino, Gil Baiano finalmente teve seu passe negociado com um grande time paulista. O lateral vestiu a camisa do Palmeiras, mas não conseguiu repetir as boas atuações de Braga no alviverde.

No Verdão, onde jogou por pouco mais de um ano, atuou em 34 partidas (18 vitórias, 11 empates, 5 derrotas), não marcou nenhum gol (como consta no "Almanaque do Palmeiras", de Celso Unzelte e Mário Sérgio Venditti) e conquistou o título brasileiro de 1993 e o Paulistão de 94.

Em 1994, ele se transferiu para o Vitória. No ano seguinte, em 1995, já estava no Paraná Clube. Em 1996, apareceu a chance de vestir a camisa de um grande clube europeu, o Sporting de Lisboa. A volta ao Brasil aconteceu dois anos depois, quando, em 98, defendeu o Ituano e mais uma vez o Paraná Clube.

Gil Baiano retornou, ainda como jogador, ao Bragantino, em 1999. Antes de encerrar a carreira, ele ainda atuou pelo Comercial de Ribeirão Preto. "Hoje, gosto de bater uma bolinha nos masters. Aproveito para calibrar o pé", brinca o ex-lateral, que chegou a ser convocado para a seleção pelo técnico Falcão.

Abaixo, confira a entrevista de Gil Baiano ao UOL Esporte, publicada em 16 de setembro de 2018:

Ele brilhou no Bragantino, foi à seleção e depois sofreu no Palmeiras

Gustavo Setti e Vanderlei Lima
Do UOL, em São Paulo

Não há quem duvide que o Bragantino foi um dos times mais surpreendentes do futebol brasileiro há cerca de 30 anos. Na década de 1990, não tinha nem rivais. Não pelos resultados, mas por tudo o que levou um clube pequeno do interior de São Paulo a conquistar um Campeonato Paulista, ser vice-campeão brasileiro e ainda contar com jogadores convocados para a seleção brasileira. Quem viveu tudo isso de perto foi Gil Baiano. O ex-lateral-direito de chute forte era uma das estrelas da equipe, viveu o auge naquela época, mas nunca mais conseguiu se firmar em outro clube.

Natural de Tucano, na Bahia, José Gildásio Pereira de Matos se mudou para Campinas (SP) ainda novo, com oito anos de idade, e começou nas categorias de base do Guarani na década de 1980. Aos 20 anos, chegou a Bragança Paulista para defender o clube da cidade, onde mora até hoje e é ídolo da torcida local.

Como chegou em 1988, presenciou do início ao fim a grande saga da equipe alvinegra. Em 1990, o então pouco conhecido Vanderlei Luxemburgo formou o time que se sagraria campeão paulista da primeira divisão ao bater o Novorizontino na final. A escalação tinha Marcelo; Gil Baiano, Júnior, Carlos Augusto e Biro-Biro; Mauro Silva, Ivair e Mazinho; Tiba, Mário e João Santos

"O Vanderlei é um cara muito rápido nas ideias. Ele falava muito que nós tínhamos condições de jogar em time grande. Ele foi um dos melhores treinadores que nós trabalhamos, um cara que tem uma visão muito boa, é muito rápido na decisão dele de jogos e que nos ajudou bastante", disse Gil Baiano em entrevista ao UOL Esporte.

Na temporada seguinte, o Bragantino manteve a escalação titular, mas trocou de técnico e foi comandado por Carlos Alberto Parreira, que pouco depois assumiria a seleção brasileira para a Copa do Mundo de 1994. Mais um ano e mais uma campanha gloriosa da equipe. Afinal, em 1991, o clube do interior de São Paulo ficou com o vice no Campeonato Brasileiro ao ser derrotado na final contra o São Paulo de Telê Santana.

"Desde 1988, a cidade parava para ver os jogos do Bragantino. Bragança Paulista abraçou o time mesmo. Foi um acontecimento você fazer uma final de Brasileiro ainda mais contra o São Paulo. Eu acho que isso não vai acontecer de novo, e a cidade não vai ver mais isso, não", declarou.

Concorrência "custou" vaga na seleção

Daquele time também saíram grandes nomes do futebol brasileiro, o mais famoso deles Mauro Silva, que foi campeão mundial com Parreira em 1994. Fora isso, outros cinco atletas participaram do ciclo para o Mundial dos EUA, entre eles Gil Baiano, chamado por Falcão depois da Copa de 1990.

"No começo, teve a reformulação e começou uma seleção só com molecada. Era uma seleção realmente nova, mas, para mim, foi importante demais e uma emoção muito grande. O nível era muito alto e era difícil se manter", lembrou.

A disputa direta com Cafu, Jorginho e Luiz Carlos Vinck dificultou a permanência dele na seleção, como Parreira observou: "Ele foi convocado merecidamente pelo Falcão, e o Gil foi bem, mas apareceram outros jogadores na mesma época. A concorrência era muito grande na ocasião e isso não significa que ele não fosse bom jogador. Eu não vou dizer que ele era um jogador completo, mas era um jogador muito equilibrado tecnicamente de marcação".

Palmeiras: títulos e dificuldade para se firmar

Passado o sucesso com o Bragantino e as convocações, Gil Baiano viu a carreira tomar outros rumos. Ele deixou o clube em 1993 e se transferiu para o Internacional. Depois, ficou pouco mais de um ano no Palmeiras, com direito a conquista do Brasileiro de 1993 e do Paulista de 1994. Porém, faltaram boas atuações novamente sob o comando de Luxemburgo. O técnico não sabe dizer o motivo ao certo, mas vale lembrar que o lateral fez um dos gols na vitória por 3 a 0 que eliminou os alviverdes, então favoritos, do estadual de 1989. Será que isso influenciou?

"Ele não vingou, porque, quando eu o levei para o Palmeiras, a torcida começou a pegar no pé dele por causa do outro lateral-direito, o Cláudio, e o Gil Baiano não conseguia jogar no Palmeiras. A coisa não funcionou. Se você me perguntar, eu não sei porque a torcida pegava no pé dele, mas ele era muito mais jogador que o Cláudio. Com certeza, um jogador de seleção, mas não vingou", disse o treinador.

E Gil Baiano continuou assim até o final da carreira. Ele ainda passou por Vitória, Paraná e jogou no futebol português, no Sporting, mas sem grande destaque. Por fim, pendurou as chuteiras justamente onde brilhou. Com a camisa do Bragantino, o lateral-direito se despediu dos gramados no início dos anos 2000 e agora trabalha como auxiliar-técnico. Enquanto não aparece uma nova oportunidade, o ex-atleta de 51 anos segue morando na cidade que se comoveu com o time de grandes feitos no passado.

Foto: Edu Garcia/Estadão Conteúdo/AE (via UOL)

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