Tom Pryce

Ex-piloto de Fórmula 1
por Marcos Júnior Micheletti
 
O galês Thomas Maldwyn Pryce, um dos mais talentosos pilotos de sua geração, que ficou conhecido por Tom Pryce, morreu de forma trágica na 22ª volta do Grande Prêmio da África do Sul de 1977, no circuito de Kyalami.
 
Naquela manhã de 05 de março, Pryce, então com 27 anos, avançava com sua Shadow número 16 pela reta principal do traçado sul-africano na 13ª colocação, atrás da March do alemão Hans Stuck e da Ligier do francês Jacques Laffite.
 
À esquerda da pista, parado, estava seu companheiro de equipe, o italiano Renzo Zorzi, desvencilhando-se do cinto de segurança enquanto seu carro tinha um princípio de incêndio.
 
Zorzi saiu sem problemas de sua Shadow, ajudado por um fiscal, que debelou as chamas com um extintor de incêndio.
 
Mas o outro fiscal, Jansen Van Vuuren, de 19 anos, também com o extintor de incêndio nas mãos, acabou atropelado pelo carro de Tom Pryce, a cerca de 280 km/h, morrendo instantaneamente, e seu extintor atingiu em cheio a cabeça do piloto.
 
O impacto, tão forte, removeu o capacete de Pryce, que teve seu crânio esmagado, provocando sua morte. Desgovernada, a Shadow ainda atingiu a Ligier de Laffite, que deixou a prova, mas sem ferimentos.

A corrida prosseguiu, com vitória de Niki Lauda (Ferrari), aliás o primeiro triunfo do austríaco após o acidente sofrido em Nurburgring, no ano anterior. Jody Scheckter (Wolf) e Patrick Depailler (Tyrrell) completaram a lista dos três primeiros colocados, que sequer cumpriram as formalidades do pódio.
 
Coincidentemente, aquela também foi a última corrida do brasileiro José Carlos Pace, então na Brabham, que morreu 13 dias depois a bordo de um monomotor em um desastre aéreo na Serra da Cantareira, em Mairiporã-SP, ao lado do também piloto Marivaldo Fernandes.
 
A Shadow escolheu o australiano Alan Jones para substituir Tom Pryce a partir da corrida seguinte, o GP Oeste dos Estados Unidos. Naquele mesmo ano, Jones conquistou sua primeira vitória na F1, no GP da Áustria (Osterreichring) única da Shadow na categoria.
 
Alan Jones, aliás, acabou tornando-se campeão três anos depois, pela Williams, em 1980.

Tom Pryce estreou na Fórmula 1 em 1974 pela modesta equipe Token, no GP da Bélgica, em Nivelles. Três corridas depois foi contratado pela Shadow, por onde esteve até o fatal acidente de Kyalami, em 1977.
 
Em 42 GPs disputados, Pryce conquistou uma pole (GP da Inglaterra (Silverstone), prova em que acabou abandonando na 20ª volta.
Subiu duas vezes ao pódio, ambas em terceiro lugar: GP da Áustria de 1975 em Zeltweg e GP do Brasil de 1976, em Interlagos.
 
Natural da cidade de Ruthin, País de Gales, onde nasceu em 11 de junho de 1949, Pryce era casado com Fenella Pryce há dois anos. A viúva, chamada de Nella, aliás, travou uma batalha judicial de três anos com os administradores de Kyalami até conseguir uma indenização, por terem contratado um amador para trabalhar como fiscal daquela prova.
 
Em 11 de junho de 2009, em Ruthin, no País de Gales, foi inaugurado o Memorial Tom Pryce, em homenagem ao piloto.
 
Milton Neves estava no Plantão Esportivo da Rádio Jovem Pan naquela manhã de 05 de março de 1977 e foi o primeiro a noticiar a morte de Tom Pryce, após a redação da emissora receber o telex de uma agência internacional. Clique no botão abaixo e ouça o depoimento de Milton Neves a Marcos Júnior Micheletti em 4 de abril de 2013, relembrando os fatos.

ABAIXO, CRÔNICA ESCRITA PELO JORNALISTA FLAVIO GOMES, PUBLICADA EM SEU BLOG, EM 25 DE AGOSTO DE 2015, UM TEXTO QUE SE COADUNA PERFEITAMENTE A TODOS OS PILOTOS QUE MORRERAM EM DECORRÊNCIA DE ACIDENTES NAS PISTAS

CARTA À MORTE

Dona Morte,

Não te regozijes. No fundo, és uma incompetente, fracassada. Espreita-nos há mais de um século, vestindo este costume ridículo e carregando uma foice burlesca.

A cada volta, tens ganas de nos levar contigo e crês que lograrás sucesso. Esconde-te após as curvas, coloca-te diante de nós nas retas, não nos importamos; passamos por ti como se não existisses, rimos na tua cara, rimos da tua cara. O tempo todo.

Dona Morte, és uma figura parva, tola, quase nula, despida de mínima aptidão para nos tocar.

Às vezes consegues, admitimos. Mas conta: quantos somos? Quantos fomos? Milhares, dezenas de milhares, centenas de milhares, milhões, talvez.

E quantos de nós levaste graças à tua perfídia, à tua existência vulgar e desprezível? Poucos, Dona Morte. Pouquíssimos.

Por isso, não te regozijes por ter arrastado mais um de nós. Saberemos, como sempre fizemos, gargalhar de tua efígie chula na próxima curva, na próxima reta, mesmo sabendo que estarás por perto, e por ti passaremos velozes e indiferentes à tua ceifadeira inútil e picaresca. Desafiamos-te a todo instante, ignorando tua infeliz presença, ainda que penses que inspiras em nós algum temor.

Não nos inquietamos diante de tua inglória missão, antes desprezamo-la, e isso se nota quando, à tua expectativa, aceleramos mais e mais, de modo que, quando nos aproximamos de tua estampa lúgubre, tão rápido estamos que não tens a destreza necessária para interromper-nos, e ficas a brandir teu instrumento no vazio, como se fosses um fantoche apalermado, enquanto seguimos zombando de ti.

Para cada um de nós que, apesar de tua imperícia, carregas ao acaso, uma centena nascerá para troçar de tua inépcia.

Não temos medo de ti. E se morremos, é porque assim decidimos viver.

Subscrevemo-nos,

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