Paula Vares Valentimjornalista responsável
Antes de deixar a Ilha da Grã-Bretanha e seguir em direção ao leste europeu, acompanhando de perto as pegadas que teriam sido marcadas pelos personagens de Drácula em sua rota de fuga durante o retorno a Transilvânia, Chico Santo embarcou em uma outra aventura pelo Reino Unido até chegar a Escócia e finalmente desembarcar na Irlanda, Terra Natal do escritor Bram Stoker. "Saí de Londres e comecei a escalada pela Inglaterra com uma primeira parada em Liverpool, no The Cavern Club, local em que os Beatles tocaram juntos pela primeira vez.? Familiarizado com a casa, como se fosse um velho freqüentador, o jornalista teve a honra de servir o próprio chopp. "Coincidentemente, o barman que me atendia se chamava Frank e com extrema simpatia me chamou para o outro lado do balcão. Uma espécie de cortesia inglesa que quer dizer que você é bem-vindo e que o lugar deve ser considerado uma extensão do seu lar?. Situada no sudoeste do condado de Lancashire, ao noroeste da Inglaterra, Liverpool possui pouco mais de 500 mil habitantes Ficou famosa por abrigar em seus braços a banda de maior sucesso no mundo e anotar em seu porto o nome do mais luxuoso navio de todos os tempos: "Falam muito dos Beatles e do Titanic porque se esquecem que o tricampeonato mundial do São Paulo foi justamente em cima do Liverpool?. Seja como for, nenhum outro lugar chama mais a atenção dos turistas que diariamente invadem as ruas do pequeno município inglês do que o charmoso pub construído debaixo dos alicerces da Mathew Street: "A Caverna foi a casa dos Merseybeat e dos Beatles?, diz um painel colocado na portaria do pub. "Os quatro rapazes que abalaram o mundo tocaram aqui 274 vezes e fizeram deste o clube mais famoso do mundo?, complementa a legenda que na fotografia de Ron Jones tem um retrato em preto e branco do quarteto. O bar está localizado no centro da cidade e continua aberto no subsolo de Liverpool. Quem vai ao local para reviver o tempo de ouro da música pop internacional de cara é surpreendido com a imagem de um John Lennon vivo e autêntico aos seus próprios princípios, parado diante dos fãs, ainda que em forma de estátua, em um dos cantos da Mathew Street, como se estivesse apenas vendo a vida passar. Um contexto fácil de entender e que traduz em um inglês absolutamente direto as regras da casa: "Se alguma pessoa for encontrada consumindo, distribuindo ou utilizando drogas será reportada à polícia?, diz o aviso intimidador?, afirma Chico.
Do lado de fora, na rua de paralelepípedo e calçadas estreitas, um banco com as faces de Lennon, McCartney, Harrison e Ringo, decorado com claves e notas de uma partitura tocada apenas aos olhos da poesia, apresenta 56 discos em formato de ouro no chamado "Muro da Fama?. Uma outra placa, pendurada em 16 de janeiro de 1997 durante o 40o aniversário de abertura do The Cavern Pub explica: "O muro destaca o nome das bandas que apareceram no clube entre os anos de 1957-1973. Estão incluídas algumas das bandas contemporâneas que tocaram nos anos 90?s (Oásis, Dodgy)?. Grupos como The Scorpions, Rolling Stones, Queen e Rod Stewart ganham evidência entre os tijolos originais que foram utilizados na reconstrução da réplica perfeita da caverna, demolida no início da década de 70 e reaberta após a morte de Lennon em uma clara tentativa de manter imortalizado o berço daquela que pode ser considerada a maior banda da história da música. "O Cavern Club nasceu aqui em um porão de armazém em 16 de janeiro de 1957?, aponta outro letreiro com imagens saudosistas. "Infelizmente, a Caverna foi obrigada a fechar em 1973 e o armazém acima foi demolido para dar lugar a um poço de ventilação durante a construção do novo sistema de metrô subterrâneo?, complementa. "O clube reabriu em 25 de abril de 1984 e desde então se reafirmou como um espaço vivo da música contemporânea?, esclarece a placa que, entre outras atrações, faz da Mathew Street uma espécie de museu a céu aberto.
A exemplo do que acontece em boa parte dos pubs ingleses, não é preciso abrir a carteira para descer no reduto beatlemaníaco. A entrada é gratuita e entre um e outro degrau ficam as lembranças de uma época absolutamente diferente da atual. Paredes negras e quadros coloridos estampam a longa escadaria de piso vermelho e corrimão alaranjado: "Deus salve o Queen. Entradas a dez libras. 31 de agosto?, diz o flyer de um dos memoráveis shows de Freddie Mercury. Outros artistas, como Bom Jovi, Jimi Hendrix e The Who, também chamam a atenção de quem passa pelo local com uma câmera na mão. "O som, evidentemente, pode ser ouvido de longe. Acordes bem fraseados com arranjos de peso e qualidade melódica se perdem entre os labirintos da caverna. Luzes azuis e amarelas, distribuídas em jogos sincronizados, aumentam ainda mais a sensação de equilíbrio e equidade do recinto?, relembra Chico Santo. "Bandas ao redor do mundo vêm aqui onde tudo começou?, diz um cartaz especial. E não é preciso muito para ter a noção exata do que representa o pub na história da música. Basta dizer que alguns dos instrumentos utilizados por Lennon, McCartney, Harrison e Ringo, na melhor tradução do rock n? roll, permanecem expostos junto às fotos que marcaram a trajetória da banda no The Cavern Club.
Do palco de tablado de madeira de dimensão relativamente pequena, apesar de muito bem amplificado, o repórter seguiu adiante pela Rota do Conde Drácula, em direção a Dublin, capital da Irlanda. Pela Inglaterra Chico Santo passou ainda pela cidade de Manchester, onde atuava Robinho o ex-atacante do Santos. "Naquela vez, em especial, não me encontrei com ele. Cheguei a entrevistá-lo no Santos e na Seleção Brasileira. Mas em Manchester, o que me lembro foi da refeição que fiz em uma banca de cachorro quente com formato de bonde. Ao saber que eu era brasileiro, o proprietário do estabelecimento me deu o lanche de graça. Depois deixei a Inglaterra e cheguei em Glasgow, no sul da Escócia, em uma última parada antes de conferir de perto a terra natal de Bram Stoker, o criador do Drácula.?
