SOS Copa do Mundo

Chico Santo, bastidores da Copa do Mundo-2010
Paula Vares Valentim
jornalista responsável
Chico Santo, direto da África do Sul - Se depender da África do Sul, a Copa do Mundo de 2010 será um fracasso do ponto de vista estrutural. Há exatos 21 dias para a abertura do principal campeonato de futebol do planeta, o que se vê pelo país vai além do que se espera encontrar em uma nação cujo foco se tornará o centro das atenções de milhões de pessoas durante os próximos dias. "Tenho muito o que fazer. Ainda preciso erguer 10 torres de televisão aqui no Estádio?, diz o operário Moris Gomani, enquanto trabalha duro pelas arquibancadas do Loftus Versfeld, em Pretória. O estádio, com capacidade para 50 mil pessoas, ainda não está pronto. Mas vai entrar para a história da FIFA como o campo de jogo mais antigo a ser utilizado em um mundial. Aberto ao público em 1903, o Loftus Versfeld possui mais de um século de vida. Ao todo são 107 anos de funcionamento. Foi construído para a prática do Rugby e adaptado para o mundial da FIFA de 2010. "A Copa do Mundo trouxe muito emprego para cá. Está sendo importante neste aspecto?, acrescenta Ximene Malaggi. Apesar da empolgação dos sul-africanos, claramente pode se observar que o Loftus Versfeld, palco de vitórias brasileiras na Copa das Confederações de 2009 contra Estados Unidos e Itália, está sendo maquiado para atender aos critérios de exigência da FIFA. Com o gramado verde e bem aparado, em uma única exceção a um dos cantos da linha de fundo, ao lado de fora das 4 linhas, os jogadores terão condições de desempenhar um bom espetáculo. A platéia, no entanto, vai ter que se adaptar ao desconforto de assentos de plástico que apesar de novos não apresentam nenhuma semelhança ao que se vê, por exemplo,  no San Siro de Milão. Em um giro pelas arquibancadas, é possível, ainda, reparar a improvisação dos engenheiros. Com tijolos espalhados por todos os lados fica a dúvida se tudo estará finalizado até o próximo dia 13 de junho, quando Sérvia e Gana vão estar em campo na briga por uma das vagas do Grupo D.  "Estamos felizes com a Copa. Será uma grande oportunidade para mostrarmos ao mundo um pouco da nossa rotina?, diz a estudante universitária Mukovhi Melkherana.?

E se dento do Território FIFA a situação é preocupante, o mesmo, evidentemente, acontece do lado de fora. Em Johannesburgo, sede dos dois primeiros jogos da Seleção Brasileira, a situação é caótica. Insegurança, violência e desorganização marcam a antítese de um povo acostumado a superar desafios. Quem desembarca no Aeroporto Oliver Tambo logo percebe o problema.Enquanto a linha de trem que deveria ter sido inaugurada para realizar o transporte dos passageiros ao centro da cidade ainda permanece fechada, taxistas e malandros fazem do saguão de desembarque um verdadeiro safári humano em uma caça, impiedosa ao turista. "Se não for com a gente você não tem como sair do aeroporto?, diz um dos muitos taxistas descredenciados do aeroporto. O preço, evidentemente, ultrapassa os limites da realidade local. Uma corrida do aeroporto até o terminal rodoviário de Johannesburgo é negociado à partir de US$ 250.00. "Você pode ir caminhando, se quiser?, ironiza um outro taxista. Uma situação absolutamente constrangedora para quem espera passar alguns dias de férias na África do Sul durante a Copa do Mundo.

A única alternativa para quem quer se livrar da incômoda ação dos bandidos é encarar em uma aventura desaconselhada para os viajantes de primeira viagem. Nesse espírito, a reportagem do Terceiro Tempo aceita o desafio e segue pela África do Sul à bordo de uma lotação sul-africana. "Isso é o que nós chamamos de Táxi Público?, afirma o agente de turismo Peter Klein. "As pessoas mais pobres utilizam esse tipo de carro para ir ao trabalho?, acrescenta. O transporte substitui a inexistente linha de ônibus tradicional. Sem coletivos municipais, é a única opção de condução para se deslocar pela cidade sem carro. No Aeroporto de Johannesburgo, uma fila de furgões antigos permanece estacionada no pátio externo. O lugar é utilizado apenas por nativos e moradores da África do Sul. O risco de roubo faz com que os turistas optem pelos inflacionados taxistas. Uma diferença inacreditável, levando-se em consideração que com apenas USD 1,00 é possível deixar o Aeroporto de Johannesburgo e viajar por 70 km até a cidade de Pretória, com uma conexão no distrito de Kempton Park. A exemplo do que ocorre em muitos lugares do Brasil, as lotações não oferecem nenhum tipo de segurança aos passageiros. Os motoristas não se importam com a quantidade de pessoas, desde que o carro esteja cheio. A velocidade também ultrapassa os limites da estrada. No meio de tanta confusão, fica a certeza de que andar em um desses "Táxis Públicos? é tão audacioso quanto desembarcar na África do Sul na expectativa de encontrar ao menos um pouco do que se viu na Alemanha quatro anos atrás. Do ponto de vista estrutural, indiscutivelmente, a África do Sul não só perdeu a Copa como também merecia ser rebaixada à segunda divisão.   

Home - Bastidores da Copa do Mundo 2010
ver mais notícias

Selecione a letra para o filtro

ÚLTIMOS CRAQUES