Seguindo os passos da Seleção Brasileira

Centenário da Estônia
Paula Vares Valentim
jornalista responsável
Conhecer o leste europeu sempre esteve nos planos de Chico Santo. "Gosto, principalmente, daquilo que não faz parte das grandes rotas turísticas. O Leste Europeu, por exemplo, tem uma história riquíssima com o período da Guerra Fria e a Cortina de Ferro. No entre-guerras, 1918-1939, se popularizou pela tentativa frustrada de criação do comunismo e foi também o palco da última batalha contra Adolf Hitler. Muitas das cicatrizes da 2ª Guerra Mundial ainda podem ser vistas. Algumas edificadas em estátuas que representam os ditadores da época. Outras diante da estrutura sócio-econômica de cada nação.? Com a Seleção Brasileira, ao lado da equipe de Dunga, o repórter teve a oportunidade de cobrir o Centenário da Federação Estoniana de Futebol em agosto de 2009 e visitar a romântica cidade de Tallin, vizinha de Saint Petersburg. "Mais um momento especial da minha carreira. Estive, indiscutivelmente, em uma região histórica. Basta dizer que exatamente ali, no coração de Saint Petersburg, começou a Revolução Russa de 1917 que colocou Vladmir Lenin no poder. Sem nenhum tipo de exagero, é possível dizer que daquele cantinho quase inóspito de inverno vermelho eclodiu o socialismo no mundo.? O trabalho como enviado especial do Terceiro Tempo no Velho Continente representou mais um marco em sua carreira. "Toda e qualquer cobertura na Europa tem o seu charme. Você pega um avião, desce na Alemanha, toma um chopp em Frankfurt, embarca para Helsink e da Finlândia, finalmente, chega na Estônia. Não dá para dizer que é uma viagem chata. Ainda mais porque estar ao lado da Seleção Brasileira é algo extremamente gostoso. Você vive o dia a dia do principal time de futebol do mundo. Sem falar que na Europa tudo é mais fácil. Desde o contato com os jogadores, mais dispostos a falar do que normalmente acontece na América, até às condições de infraestrutura oferecidas.? Em sua longa trajetória de uma década com a Seleção Brasileira, o que em outras palavras, em 2012 representava um terço de sua vida, Chico Santo jamais se dedicou exclusivamente em ouvir  apenas os personagens da equipe de futebol mais badalada do planeta, seja na Europa ou em qualquer outra parte do mundo. "Entrevistei muita gente. No auge da carreira de alguns dos grandes nomes do país, empunhei o microfone em conversas com Zagallo, Carlos Alberto Parreira, Ronaldo Nazário, Cafu, Roberto Carlos, Ronaldinho Gaúcho, Rivaldo e muitos outros caras que fazem parte da história do nosso futebol. Mas sempre procurei agregar a paixão do esporte com um pouco do lado sócio-cultural de cada país envolvido.? Das experiências vividas fora do Brasil, o repórter não esconde o sentimento de gratidão e amor com a profissão que exerce. "Tudo o que conquistei, do ponto de vista internacional, devo ao jornalismo. Estive em lugares incríveis e presenciei momentos importantes da história. Muitos desses acontecimentos foram ao lado da Seleção Brasileira de Futebol, uma espécie de apogeu para jogadores e jornalistas, segundo me disse, recentemente, o respeitável João Henrique Pugliesi, que atuou em algumas das grandes redações do esporte brasileiro, como editor chefe do Arena SporTV, coordenador da Rádio Jovem Pan e repórter especial da antiga Gazeta Esportiva.? Ao lado da Seleção Brasileira, o repórter especial do Terceiro Tempo atuou em jogos amistosos e partidas oficiais. "Assinei em tudo quanto é lugar. Fiz as Eliminatórias de 2002, 2006 e 2010, estive na Copa das Confederações vivi também o mundial de futebol da FIFA. Para quem dá valor ao passado, como eu, não há nada melhor. Você tem a chance de respirar in loco aquilo o que os livros e as revistas segmentadas estampam em suas páginas. E isso não tem preço. Por essa razão, sempre encarei o trabalho como setorista da Seleção Brasileira como algo muito mais valioso do que um jogo de futebol amplamente disputado entre cambistas e torcedores.? Seguindo os passos da equipe verde-amarela, Chico Santo também deixou suas pegadas no tempo. "Acima de qualquer outra coisa, tenho um profundo interesse por aquilo que envolve os bastidores de qualquer partida. Então, quando a Seleção Brasileira jogou em Rosário, diante da Argentina, após o Centenário da Estônia, para mim, não se tratava apenas de uma partida de vida ou morte para o time de Diego Armando Maradona, mas, sim do principal clássico do futebol sul-americano na Terra Natal de Che Guevara. Em síntese, não dava para entrar no Estádio Gigante de Arroyito sem antes conhecer a casa em que Che Guevara nasceu. Isso, para mim, é essencial. Como é que você pode falar de esporte sem saber o que acontece por trás do jogo? É o mínimo que se deve fazer.?
Situação parecida o repórter também viveu em outras partes do planeta. "Quando o Brasil venceu o Uruguai por 4 a 0, em Montevideu, muito provavelmente, o técnico Dunga estava mais preocupado com os 3 pontos conquistados com  a goleada emplacada em cima de uma equipe forte, fora de casa, do que propriamente com o que representava o Estádio Centenário. Tinha que ser assim. Tanto para ele quanto para a massa de torcedores do Brasil. Entretanto, estar em Montevidéu, naquele jogo, era como reviver a primeira final da história das Copas. Da mesma forma como aconteceu nos trabalhos que fiz no Nacional de Santiago e Azteca do México, com os alicerces implícitos do bicampeonato de 1962 e tricampeonato de 1970.? Sucessivamente, o correspondente internacional acompanhou diferentes momentos de amplitudes econômicas e sociais em diversas nações. "Assim se repetiu na Venezuela de Hugo Chavez, Colômbia do narcotráfico, Peru do Império Inca, Bolívia da altitude de La Paz, Assunção do déficit monetário e também fora da América pela Europa e África até chegar na despedida de Ronaldo contra a Romênia no Pacaembu.? Em 07 de junho de 2011, o maior artilheiro da história das Copas disse adeus aos gramados para, definitivamente, entrar para as páginas da história. "Sem dúvida nenhuma, uma partida que ninguém gostaria de ficar de fora. Foi a despedida de Ronaldo. Um jogo muito especial para mim, sobretudo, porque comecei a minha carreira, coincidentemente, nove anos antes, em sua volta aos campos de jogo, quando assinei minha primeira cobertura com a Seleção Brasileira, credenciado pela TV Globo-RJ, em 27 de março de 2002, contra a Iugoslávia, que nem existe mais. Portanto, para mim, aquela partida tinha um gosto muito especial. Se a gente recuar ao passado, em 2002 eu ainda estava lutando pelo meu espaço. O que não aconteceu em 2011. Eu havia acabado de voltar do amistoso contra a Holanda, onde também estavam Milton Neves e Milton Neves Netto, e tinha consolidado a minha carreira internacional. Eu já não precisava provar mais nada para ninguém. Nem para mim mesmo. Então, me emocionei muito na despedida do Ronaldo. O Terceiro Tempo montou uma grande estrutura para a cobertura do jogo e com a coordenação de Ednilson Valia, estivemos lá com Tufano Silva, Diogo Miloni, Túlio Nassif e Marcos Júnior. Não é qualquer empresa que disponibiliza 6 jornalistas, sem contar o pessoal da rádio e televisão, para uma única partida de futebol. Isso faz a diferença do Terceiro Tempo, a principal marca do pós jogo brasileiro.?
Se em 2011, Chico Santo vivia o início de sua ascensão profissional diante do reconhecimento pelo trabalho, dois anos antes, no Centenário da Federação Estoniana, o repórter ainda lutava para emplacar o seu nome entre os principais jornalistas da imprensa internacional brasileira. Em 12 de agosto de 2009, na vitória do Brasil por 1 a 0 contra a Estônia, o enviado especial do Terceiro Tempo destacou o técnico Dunga em sua matéria. O treinador havia batido o recorde da década de 16 jogos de invencibilidade de Carlos Alberto Parreira com o comando da Seleção Brasileira. "Foi uma partida festiva, com caráter de decisão para o Brasil. A bem da verdade, o duelo contra a Estônia marcou o início da temporada 2009/10, que iria definir a lista dos 23 convocados para a Copa do Mundo da África do Sul. Portanto, se tratava de um comenos importante para os jogadores e membros da comissão técnica. A partir daquele ínterim, não haveria mais tempo para lesões ou erros de avaliações. Quem quisesse estar no mundial da FIFA de 2010 teria, acima de tudo, que convencer o técnico brasileiro.? Da Europa, Chico Santo enviou ao Brasil um bate-papo especial do treinador com o Terceiro Tempo. "Basicamente, a motivação encabeçava a lista de critérios para a escolha dos atletas relacionados para a Copa do Mundo da África do Sul. Ao assumir a Seleção Brasileira, coube ao Dunga renovar a equipe e impor seriedade ao time. Nesse sentido, ele conseguiu fortalecer o Brasil e trazer de volta a confiança do torcedor, desacreditado após o fracasso da Alemanha, em 2006. O que faltou ao Dunga, talvez, tenha sido um pouco de humildade e, na minha opinião, a arrogância derruba qualquer cara.? Em entrevista concedida em Tallin, Dunga deixou claro sua filosofia de trabalho. "Desde que nós chegamos na Seleção, nós falamos que todos que estivessem aqui teriam que ter muita vontade e alegria. Nós conseguimos. Há um ambiente sadio e competitivo onde todos têm a maior alegria e o maior prazer em jogar na Seleção. A maior satisfação nossa é quando percebemos essa alegria que os jogadores sentem ao retornar à Seleção e participar desse grupo?.
Entre tantos outros semblantes, era o caso de Kaká. "Acompanhei todos os passos da Seleção Brasileira de Dunga. Ficava claro que o time jogava em função do Kaká. Quando ele estava bem, o Brasil não tinha problemas. Talvez aquele tenha sido um dos melhores momentos do meia com a camisa verde-amarela. E o Dunga errou em não ter um substituto a altura. Fez uma aposta ousada demais porque ele chegou machucado para o mundial e isso, hoje, não é segredo para ninguém. Mas, em 2010, em um dos primeiros treinamentos da Seleção Brasileira na África, ouvi o Tostão comentar em Joanesburgo que ele estava andando dentro de campo e que isso significava duas coisas: ou voltava de uma lesão séria ou estava contundido. Nos dois casos não haveria tempo para a recuperação. Foi só o Tostão dizer isso e todo mundo começou a falar que o Kaká estava quebrado.? De qualquer forma, às vésperas do mundial, sobravam elogios a Kaká e ao repórter Chico Santo, o recém contratado jogador do Real Madrid, comentou sobre o reconhecimento de Diego Armando Maradona. "Fiquei feliz com a declaração dele e espero que isso (conquistar o mundo) possa acontecer. A resposta a gente só vai ter dentro de campo.? Entretanto, foi com Luís Fabiano, a esperança de gols brasileira, que o repórter evidenciou o trabalho do Terceiro Tempo no Velho Continente. "Fiz uma exclusiva com ele, o que não acontece sempre, se tratando de Seleção Brasileira, e no momento do bate-papo me lembrei de sua média de gols. Ele emendou a entrevista com aquilo que passaria a ser o tema da imprensa brasileira nos dias seguintes.? A resposta do Fabuloso foi publicada em primeira mão pelo Terceiro Tempo: "Realmente, estou muito feliz. Com a camisa do Brasil, até agora, são 20 jogos com 17 gols. Não é qualquer um que vai e marca. Fazer gols é muito importante para um atacante.?
Apesar disso, na cobertura do centenário da Estônia, mais uma vez, Chico Santo procurou mostrar ao Brasil o trabalho por um ângulo diferente. "Sobravam pautas. Tudo em Tallin é absolutamente diferente do que estamos acostumados a ver em São Paulo. Trata-se de um lugar indiscutivelmente romântico. Bondes por todas os lados, calçadas ao estilo colonial, construções antigas. Tudo aquilo que, sabemos, mexe com a imaginação das pessoas. Então, quando não estava nos treinamentos da Seleção Brasileira ou mesmo da Estônia, saía pelas ruas para tentar entender um pouco daquela cultura milenar.? A beleza das mulheres da Estônia, evidentemente, foi um dos pontos abordados pelo jornalista. "Mulher bonita sempre dá audiência. Na Estônia, sobretudo na região do Leste Europeu, na divisa com a Rússia, estão algumas das mulheres mais lindas do mundo. Não dá para você deixar a máquina guardada e perder uma pauta dessas.?
Ademais, foi o Centro Histórico de Tallin que mais despertou a atenção de Chico Santo. "Se dissesse o contrário, muito provavelmente, teria que dormir no sofá. Mas, do ponto de vista cultural, na minha opinião, o Centro de Tallin é um dos lugares mais impressionantes do planeta. Evidentemente, toda cidade tem a sua particularidade. Só que em Tallin, nós estamos falando de um conjunto de edificações que faziam parte de um castelo Teutónico erguido no século XIII. Então, lá, você tem a chance de enxergar a herança de um povo que ascendeu após a queda do Império Romano e se dividiu com a morte de Carlos Magno. Para quem aprecia a história, simplesmente, imperdível.? Exatamente do Centro Histórico de Tallin, Chico Santo tomou a decisão que considera a mais importante de sua vida. "Eu estava comendo uma pizza com luz de velas e uma garrafa de vinho na mesa. Tinha acabado de enviar a última matéria à redação, em São Paulo, com a despedida da Seleção Brasileira. O próximo jogo do Brasil aconteceria, apenas, dois meses depois, na Argentina, pelas Eliminatórias da Copa do Mundo de 2010. Meu retorno estava confirmado para o dia seguinte. Então, olhei para o lado e um cara invisível, que não existe ? muito provavelmente a minha consciência, a falta dela ou o excesso de vinho ? me disse: `Hei, se você entrar naquele avião amanhã vai deixar tudo isso para trás...`. Não sei ao certo o que me deu, mas, sem nenhum tipo de programação, liguei para a Luciana Beliboni ? que agenciava as minhas viagens -, e remarquei o voo Frankfurt-São Paulo para a véspera do início da cobertura da partida entre Argentina e Brasil, em Rosário Central. Meu pai cuidou de todo o credenciamento do jogo, foi ao Terceiro Tempo pegar a papelada com o Milton Neves e aí me meti na maior aventura da minha vida. O objetivo era rodar a Europa inteira com apenas uma mochila e algumas peças de roupas. Do jeito que fiz."
ver mais notícias

Selecione a letra para o filtro

ÚLTIMOS CRAQUES