Próxima etapa, Brasil-2014

Chico Santo, bastidores da Copa do Mundo-2010

Paula Vares Valentim
jornalista responsável

Chico Santo, direto da África do Sul - Foi uma cerimônia como qualquer outra. Gravatas de seda, ternos italianos, seguranças disfarçados e uma boa mesa de comes e bebes montada nos bastidores. Tudo exatamente igual ao que a gente está acostumado a ver sempre. Um evento apenas para chamar a atenção mundo. Sobretudo diante da presença dos presidentes Joseph Blatter, Zuma e Lula. Mas o que em outras palavras eles queriam dizer, no meio de todo o carnaval montado pela FIFA, era mais ou menos isso: "Pessoal, a Copa do Mundo da África do Sul está acabando, mas vem aí o mundial do Brasil?. Portanto, não se surpreenda se em alguns dias as páginas dos principais jornais do planeta estamparem em suas capas a mesma manchete: "Começou a contagem regressiva para a Copa do Mundo do Brasil?. Certamente, vai ser assim. A Jabulani vai ganhar novas cores. Talvez até mude de marca. Mas a esperança que fica, no entanto, é que a vinda de Lula para a África do Sul sirva para alguma coisa. Que pela janela do seu carro blindado ou no alto de algum helicóptero militar o ilustre corintiano, representante máximo do nosso país, possa observar de perto os erros cometidos por Zuma. Acredite, foram muitos. Algumas coisas chegaram ao absurdo. Basta dizer que às 10 horas da noite na África do Sul foi sempre 4 horas da madrugada de alguma cidade pequena. Quem veio aqui para trabalhar ou para torcer teve que se adaptar a realidade do mundial. Foi a Copa do Mundo do cartão de ponto. Em meio a transparência da FIFA, faltou a entidade a sensibilidade de colocar sua cara à tapa e dizer: "Aberto somente das 8 às 18. Favor não insistir. Sábados, domingos e feriados permaneceremos fechados?. Um grande erro do ponto de vista comercial. Faltou tato principalmente aos restaurantes que mantiveram suas portas livres somente durante o período diurno. A segurança, também, foi outro fator que deixou a desejar. É preciso dizer que o tal do "Tribunal Especial da África do Sul? montado exclusivamente para colocar os bandidos nas grandes, não funcionou. Foi uma pura balela. Durban, talvez, tenha sido a grande exceção. Policiamento coeso e eficaz. O mesmo, entretanto, não aconteceu em outras cidades. Foram muitos os casos de jornalistas e torcedores roubados. Boa parte deles no hotel. E não estamos falando de Guest House e, sim, de luxuosos 5 estrelas.
Evidentemente, a hotelaria mostrou-se completamente despreparada. Cobrou-se tudo e muito alto por pouco. Nem mesmo a internet saiu de graça. Ao contrário do que se vê no mundo inteiro, quem se hospedou em um belo apart na faixa dos 100 dólares diários teve que abrir a carteira para passar um e-mail. Algo, absolutamente, contraditório ao que diz o tão ilusório encargo de atributos da FIFA. Aliás, que seja dita a verdade. A entidade maior do futebol voltou a cometer o mesmo erro de sempre.  Enquanto, mais uma vez, faltaram ingressos ao torcedor nos pontos de venda, sobraram bilhetes nas mãos dos cambistas. Muitos vendidos, evidentemente, na porta do estádio, na cara de todos. O que prova que esse não é apenas um problema brasileiro.
Em contrapartida, o sistema de transporte, entrementes, também foi uma vergonha. Quem não alugou um carro teve dificuldades. O preço das corridas de táxi variou de acordo com o idioma falado pelo passageiro. Sotaque europeu foi cobrado em euro. Não foram vistos pontos de ônibus pelas cidades. Também, os metrôs para o torcedor, não apareceram. O caríssimo trem do aeroporto amplamente divulgado na política do pão e circo só foi inaugurado horas antes da abertura da Copa. Mesmo assim, com apenas um terço do trajeto previsto.
Em relação aos estádios, alguns, como o Soccer City, templos de grande imponência, indiscutivelmente, chamaram a atenção. Entretanto, todos, falharam em pelo menos um aspecto em comum. A condição do gramado. No que diz respeito ao Padrão FIFA, tanto o Ellis Park de Johannesburgo quanto o Loftus Versfeld de Pretória, só para citar alguns, são motivos de duras críticas à FIFA. No Ellis Park, utilizado como sede da final da Copa das Confederações de 2009, o acesso as apertadas arquibancadas foi feito na base do improviso de andaimes. Nada como se o torcedor estivesse em um teatro. Simplesmente ridículo para quem trata o Morumbi ? por mais que o Estádio São-Paulino não seja nenhum grande Coliseu -, como uma sucata. 
Agora, que o povo sul-africano merecia o direito de sediar o mundial de 2010, não se discute. Também é verdade que a FIFA acertou ao dar ao sofrido país de Nelson Mandela, apesar de todos os problemas, o direito de respirar, ainda que por apenas 30 dias, entre os grandes. Foi uma Copa na base da raça e o que teve de gente medrosa que ficou em São Paulo não foi brincadeira. Mas que os erros de 2010 sirvam como motivo de reflexão para o Comitê de Organização. E que a FIFA, extremamente arrogante em muitos aspectos, pare de falar asneira e comparar o Brasil com a África do Sul. Isso cheira prepotência europeia de quem não vê, por exemplo, os conflitos internos da Grécia, a perigosa periferia de Paris, os mendigos da rica Itália e a pobreza da Romênia. Portanto, pra cima de mim, não FIFA. Alto lá! Essa conversa não cola para quem tem o passaporte carimbado em mais de 40 países no mundo.  
Comparar a África do Sul com o Brasil é o mesmo que dizer que a Seleção Nacional da Suíça tem uma tradição maior que a camisa verde-amarela no futebol e que Don Corleone é o melhor amigo do mundo. Loucura. O Brasil tem muitos problemas. Desde as favelas do Rio de Janeiro até a miséria no sertão nordestino. Mas cidades como Porto Alegre, Florianópolis, Curitiba, São Paulo, Belo Horizonte e Manaus, entre outras, estão muito mais preparadas que Johannesburgo ao fim da Copa. Isso, sem falar, que não vai ser a Copa do Mundo da FIFA que vai criar o turismo no Brasil. Quem, no mundo, não sonha em conhecer a Amazônia e o Cristo Redentor? Qual o francês boa pinta que se atreve a dizer que as mulheres brasileiras não se destacam no que diz respeito a bela porção posterior as coxas? E o carnaval da Apoteose? O Pelourinho de Salvador? Aliás, porque muitos dos transatlânticos da Europa ancoram ao pé do Elevador Lacerda? Por causa da Copa do Mundo da FIFA? Não. A Copa do Mundo de 2014 é apenas mais um atrativo que o Brasil oferece ao mundo. Não morreríamos sem ela. Está na hora de parar de falar mal do Brasil. Principalmente, nós, brasileiros. Se a gente não fizer isso, continuaremos a levar cacetadas medíocres. 
Portanto, não há a menor dúvida de que o Brasil tem tudo para fazer um grande mundial em 2014. Vamos receber os torcedores internacionais como sempre recebemos os turistas. São Paulo vai continuar aberta 24 horas. O Rio Grande do Sul e a bela Santa Catarina vão continuar a chamar a atenção através de sua excepcional receptividade. A Amazônia, visitada por Alannis Morissette e tantas outras celebridades internacionais, vai respirar o futebol. O mesmo vai ocorrer com as demais regiões do país, acostumadas a fomentar o turismo. Tudo vai dar certo, desde que, claro, a corrupção de Brasília e a cara feia do Dunga, apesar dos pedidos, não estraguem o que de melhor temos: o amor ao Brasil. Ainda que o patriotismo não seja o forte de alguns jornalistas.    



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