Praga, a cidade das cem cúpulas

Praga, a cidade das cem cúpulas
Paula Vares Valentim
jornalista responsável
Se o objetivo, antes de iniciar o giro pela Europa, era tomar um banho cultural, o repórter especial do Terceiro Tempo não poderia deixar o Velho Continente, depois de percorrer mais de 200 cidades ? diante de alguns dos principais cartões postais do mundo ? sem conhecer a capital da República Tcheca, famosa, sobretudo, pelo cultivo à arte. "É uma cidade impressionante. Tão rica, do ponto de vista artístico, quanto Firenze, na Itália. Há relatos paleolíticos e neolíticos que dão conta de que a região foi habitada por volta de 5000 a.C. Segundo a lenda, entretanto, foi fundada pela princesa Libuse e seu marido Premysl no século IX. Sabe-se, também, que durante o feudalismo ? em virtude do seu posicionamento estratégico -, se tornou o ponto de encontro entre os comerciantes que corriam de norte a sul pela Europa. Por isso, não dá para esperar outra coisa além de museus e construções antigas.? Famosa, também, pela imponência de seu patrimônio arquitetônico, a cidade possui mais de uma centena de galerias em suas eqüinas. Daí a explicação ao apelido das 100 cúpulas. "O lugar exala a cultura artística. Não conheço outra região com tantos museus. Em Praga eles estão um ao lado do outro. É impressionante, tanto em quantidade, quanto em qualidade.? Em um deles, permanecem expostas as imagens de cera que dão vida a alguns dos principais personagens da história do mundo. "Figuras da Princesa Diana, Leonardo da Vinci, Harry Potter, Bill Gates e Michelangelo ganham vida no local. No setor religioso, você pode se encontrar com João Paulo II, Dalai Lama e Madre Teresa de Calcutá. Há, também, um recinto onde Elvis Presley, Louis Armstrong, Freddie Mercury, Tina Turner, Michael Jackson, Mick Jagger e Elton John dividem o mesmo palco.  Para os amantes do contexto histórico-político do mundo, como é o caso do respeitável Vinícius José Ripol, entretanto, nada chama mais a atenção do que o corredor ideológico que separa as correntes do socialismo e comunismo. Quem entra na sala, respira pelo corredor da anti-câmara o que sobrou da Guerra Fria nas imagens de Che Guevara, Fidel Castro, Mikhail Gorbachev, George Bush e Charles de Gaulle.?

Velho morador da região, o sociólogo e mestre em turismo, Vinicius José Ripol, morou por um ano no país e acompanhou o desenvolvimento econômico da nação após a queda da antiga Tchecoslováquia, em um dos momentos mais importantes do país. "A Eslováquia era a parte pobre da República Tcheca. Dentro da República Tcheca existem praticamente dois idiomas, muito parecidos, mas claramente distintos. O eslovaco também é diferente do tcheco, mas não foi uma grande ruptura, pois esses povos estão acostumados, historicamente falando, com separações. Na verdade, a criação da própria Tchecolosváquia, é posterior a primeira guerra mundial. Então foi um país que durou menos de 100 anos com uma ruptura natural para aqueles povos.  O interessante foi que a separação foi bastante harmônica, feita por um processo que ficou conhecido como revolução de veludo, por ter sido uma separação pacífica e sem desentendimentos. Foi bom para as duas partes?. Um atrativo a mais, dentro das páginas da história, que faz de Praga uma cidade extremamente interessante do ponto de vista turístico: "É a segunda cidade européia  mais visitada por europeus, perdendo apenas para Paris. É novidade, é diferente. Os europeus do ocidente, quase não conheciam o oriente europeu, e por isso, tinham uma curiosidade especial. O socialismo também é interessante, deixou várias marcas no leste europeu, o que faz do povo ainda mais curioso por saber como era aquele regime político?, opina Vinicius.  
Localizada na região dos montes cárpatos, há apenas 320 km de Bratislava, no centro governamental da Eslováquia, o reduto de fomentação da arte possui uma população estimada em aproximadamente um milhão de habitantes e está distribuído em uma área total de 500 km2. Por lá, as cores do comunismo ainda imperam na exuberância dos trilhos através da elegância de seus bondes vermelhos. Entretanto, o socialismo não trás uma boa lembrança à nação. "A foice e o martelo são repudiadas, principalmente, nos rostos mais velhos. A bem da verdade, os tchecos se dizem vitimas do comunismo. Atribuem ao regime autoritário as marcas de violência e devastação impostas pela falta de liberdade?, explica Chico Santo. Foi o que ocorreu na Primavera de Praga. "Em 1968, o reformista eslovaco Alexander Dub?ek tentou, junto às forças soviéticas, conceder um pouco mais de direitos à população da Tchecoslováquia, na época, dominada pela Rússia. Ele queria descentralizar o poder, afrouxando as restrições à liberdade. Evidentemente, os russos não gostaram nada disso e, então, as tropas do Pacto de Varsóvia apareceram para resolver a situação de uma forma um pouco mais consistente, digamos?.

O curioso, no entanto, é que apesar do contexto coesivo, as camisas em tom avermelhadas do socialismo russo com as iniciais do CCCP são comercializadas a preço de ouro em Praga. "Pra variar, comprei uma. Eu queria sentir o que os tchecos pensam em relação a isso. Mais ou menos como fiz na Turquia, quando usei uma peça com a bandeira dos Estados Unidos estampada aos olhos dos muçulmanos. A bem da verdade, você não é muito bem recebido pelos tchecos se estiver com uma indumentária comunista. A maneira como é tratado, seja para tirar uma foto ou para entrar em um teatro, varia totalmente entre os opostos. O que dá para sentir é que eles não abrem mão do dinheiro que pode ser adquirido com a simbologia do socialismo. Contudo, tirando isso, não querem nem saber do que significam, na prática, o uso da foice e o martelo?, acrescenta o repórter.
Passado o período da guerra-fria, a República Tcheca respira em dias atuais a sensação de liberdade vista claramente através do tempo na parede sul da prefeitura de Praga entre os ponteiros do Orloj, o relógio astronômico da cidade. "A relíquia medieval começou a ser montada no início do século XV e permaneceu intacta ao período de disputa entre socialistas e capitalistas. O relógio é composto por um calendário zodíaco que sinaliza os meses e um mostrador astronômico que representa o sol e a lua. O grande espetáculo, no entanto, acontece a cada virada de hora, quando uma estátua que simboliza a morte empunha uma ampulheta e os 12 apóstolos de Cristo surgem em um ato que representa o fim do tempo entre os ponteiros. É simplesmente incrível?, finaliza Chico.  
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