Portal Terra

A escalada para o mundo
Paula Vares Valentim
jornalista responsável
Exatamente na mesma semana em que voltou ao Brasil após a cobertura da final da Libertadores da América de 2003, Chico Santo foi chamado por Flavio Prado para uma conversa na Jovem Pan. "O Flavio, sempre, gostou muito do meu estilo despojado de ser. Cansou de me citar como exemplo aos seus alunos. Ele dizia que repórter era mais do que passar talco na cara e que eu era um grande exemplo disso. Na Argentina, durante a final da Libertadores, assim que chegou em Buenos Aires, me viu pelas imagens de apoio da Televisa entrevistando o Robinho no meio do Aeroporto de Ezeiza, durante o desembarque do Santos. Sempre apreciou essa maneira direta, natural e desinibida que tenho para lidar com qualquer situação. Foi por isso que me indicou para trabalhar na equipe de esportes do Mega Portal Terra.? O projeto, no decorrer dos anos, alcançou voos inimagináveis com o Jornal do Brasil e Jornal O Dia em trabalhos de alta octanagem. "Na época ainda havia um certo descrédito em relação a internet. Eu mesmo, que estou nessa há muito tempo, não botava muita fé. Quando entrei no Terra pela primeira vez fiquei assustado com a estrutura e o tamanho da redação. Havia, muito, ainda, a se fazer, mas já se tratava de uma empresa absolutamente consolidada. Tenho orgulho de saber que fui um dos pilares na implantação da TV Terra, que hoje está em tudo o que é lugar do mundo.? O trabalho, coordenado por Olivério Júnior, garantiu o primeiro grande furo do repórter. "Tínhamos uma equipe muito boa, com a direção do Marcelo Monteiro. Trabalhei diretamente com o Mauro César e Fernando Gavini, que hoje estão na ESPN. Por algum tempo, também, atuei ao lado do Guilherme Prado que foi assessor de imprensa do Palmeiras e hoje está no Corinthians. E, coincidência ou não, justamente do Parque São Jorge, dei em primeira mão, como repórter do Terra Esportes TV, a contratação de Júnior como técnico do Corinthians. Isso foi em 2003 e representou um grande momento da minha carreira que ainda estava em formação.?
À partir daí, as portas se abriram em sua escalada no Terra. "O Antonio Prada, na época diretor de conteúdo do Terra, hoje diretor de América Latina, gostava muito do meu trabalho. Sempre tive um bom relacionamento com ele. Em um jantar na casa do Wanderley Nogueira, soube através de um conhecido que tínhamos em comum, o César Laresi, que ele passou alguns longos minutos me elogiando. Coincidentemente, um dia antes do meu primeiro pedido de desligamento. Naquela época eu entendia que, como estudante de jornalismo, tinha muito a aprender com o repórter  Wanderley Nogueira que estava começando um outro projeto em parceria, também, com o Terra. Troquei a redação da Berrini, em São Paulo, para aprender um pouco mais sobre jornalismo internacional. Ao voltar ao Terra, quatro anos depois, eu estava preparado para fazer os terremotos da Itália, Chile, Haiti, além da Gripe Suína do México, Guerrilha Colombiana, 35 anos de Golpe Militar no Chile e outras dezenas de tragédias."
Com Wanderley Nogueira, ao lado da publicitária Patricia Rizzo, Chico Santo iniciou todo o processo de criação e coordenação do portal do repórter da Jovem Pan. "Era um projeto do Terra. Sempre foi e continua sendo até hoje. O Wanderley trabalha há muito tempo lá e leva o seu nome no portal. Aquela etapa foi extremamente importante para a solidificação da minha carreira porque eu passei a ter uma convivência diária com o Wanderley. Então, mais do que colegas de trabalho, íamos juntos para o Morumbi, Pacaembu e jogos no interior de São Paulo. Foi um momento muito próximo, mesmo. Eu almoçava na sua casa, com os seus filhos. A pedido da sua mulher, Dona Nilde, que aliás sempre me tratou muito bem, cheguei a fazer alguns jogos da Seleção Brasileira ao seu lado. Indiscutivelmente, aprendi muito.?
Foram dois anos de trabalho intenso. "O Wanderley é um cara que não dorme. Percebi, com o passar dos anos, que os grandes profissionais não dormem. Com o Milton Neves, por exemplo, acontece a mesma coisa. O tempo todo ligado. Essa foi a maior lição da minha carreira e não é à toa que todos os meus chefes sempre se surpreenderam com a minha rotina de vida. Lembro do Rogério Silva, coordenador de jornalismo da TV Anhanguera, afiliada da Globo nos estados de Goiás e Tocantins, perguntando para o meu cinegrafista, Tarcisio Lima, como é que eu conseguia produzir tanto. Recentemente, o Silvio Luiz, o CowboySL, chargista do Terceiro Tempo, me disse que o Milton estava impressionado comigo, também. Segundo ele, o Milton andou falando na TV Bandeirantes que eu "trabalhava demais?. Isso tudo nasceu da formação disciplinada que tive. Valeu à pena ter atuado com o Wanderley naquela etapa da vida.?
Dos momentos pessoais que teve ao lado do apresentador de esportes da Pan, Chico Santo se recorda, sobretudo, da visão de mundo que adquiriu diante de sua influência. "O Wanderley cobriu 8 mundiais de futebol da FIFA in loco e esteve ao lado da Seleção Brasileira por 32 anos ininterruptos. Eu digitalizei todas as suas fotos. Tem a minha impressão digital, lá. Produzi o seu livro, Opiniões da Hora, também. E eu sempre perguntei muito. Sou curioso por natureza. Eu via suas fotos ao lado do José Silvério em Israel, com o Milton Neves nos Estados Unidos, enfim,  e queria saber mais. Assim viajei pelos mundiais da Argentina, Espanha, México, Itália, EUA, França, Coréia e Japão. Mexi em todo o seu arquivo pessoal. Isso não tem preço. Aquilo, evidentemente, despertou em mim uma sede insaciável pelo mundo. Eu achava o máximo quando ele contava suas histórias, os bastidores de um repórter que esteve em todos os continentes do planeta. O que eu não imaginava era que, exceção feita a Oceania, com 31 anos eu também teria traçado o meu próprio caminho.? Uma trajetória pressagiada pelo passado. "Uma vez, em uma das tradicionais pizzas de sábado, na casa do Wanderley, ouvi a Dona Nilde dizer que eu ainda iria brilhar no exterior, como repórter. O Wanderley, que sempre foi um cara muito exato, polido, retrucou que se não fosse como jornalista, certamente, seria de outra forma. O mundo parecia, de fato, uma questão de tempo, como foi. Tudo bem que eu perdi a Olimpíada de Atenas, em 2002. Mas, 7 anos depois, para quem gosta de numerologia, eu estava na Grécia.?
Quando enfim concluiu o curso de jornalismo, o repórter internacional do Terceiro Tempo tinha em seus braços uma bagagem de causar inveja em muito veterano. Foi quando sentiu, de perto, a necessidade de respirar novos ares. "Procurei o Wanderley na Jovem Pan e disse que queria tentar algo em televisão. Isso foi numa sexta-feira. Na segunda, seguinte, oficialmente, me desliguei. É o que vale à pena dizer. A Dona Nilde, naquele ano, me deu de presente de aniversário uma caneta de Nova York. Na dedicatória, o Wanderley assinou: para você anotar as coisas boas da vida. É o que tenho feito. Como tudo na minha vida, aprendi a fazer TV com os melhores. Pelo Núcleo Globo de Jornalismo, trabalhei nas afiliadas do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, Goiás e Tocantins. Fiz matérias nacionais e internacionais. Deixei a minha marca na Globo News. Fui visto, na Venezuela, pela editora Deise Oliveira, em um especial veiculado na Globo Internacional. Atuei durante 3 anos na produção do Campeonato Brasileiro de Jet Ski e Troféu Brasil de Triatlhon, veiculados pela SporTV, com a VTF do Fernando Sampaio, da Jovem Pan. Rodei o Brasil e quando estava no Tocantins, assinei um contrato de correspondente com o Portal Terra. Jamais fechei uma porta."
Atuar como jornalista fixo, com um pensamento de amplitude nacional, se tornou mais um desafio na carreira de Chico. "Existe uma diferença muito grande entre você cobrir o factual e ser um repórter especial. No Tocantins, dentro da editoria "estado? do Terra, aprendi isso. Tive a sorte de ter a jornalista Liana Pithan na chefia de reportagem. Um cargo muito sério que precisa de gente competente. Nem sempre, infelizmente, é assim que funciona. Tem chefe de reportagem que acha que sair gritando pela redação resolve alguma coisa. Isso, na minha opinião, só mostra o quão despreparado o cara está para o cargo. Com a Liana entendi bem o meu papel, que, em síntese, se resumia em ser criativo, fugir do convencional e deixar claro que através da minha assinatura o Terra estava in loco. Foi maravilhoso?.
Dois anos depois, em um claro sinal de crescimento e reconhecimento interno, Chico Santo passou a assinar pelas editorias "Brasil?, "América Latina?, "Europa? e "Mundo?. À partir daí, o sonho de ser internacional se projetou em uma realidade cheia de vistos. "Tive uma escalada rápida. Como acontece com quem é bom. Não estou aqui para ser demagogo. Eu estava pronto para qualquer coisa, a qualquer hora. O Terra sabia disso e confiava no meu trabalho. Assinei, sozinho, como jornalista e fotógrafo, algumas das principais coberturas da história do Portal. As pessoas podem até achar que é fácil cobrir um terremoto, estar em uma guerrilha ou fazer uma tragédia. É simples, manda um cara despreparado e vê se ele consegue enviar um bom material ao Brasil. Duvido que dê conta. Repórter internacional tem que ser morador de rua, mendigo, suado. Tem que saber enxergar o que o mundo lhe diz nas entrelinhas. Sair do senso comum. Se não for, então esquece. A editoria jogou dinheiro fora. É turismo e fim de papo!?
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