Os povos de Buda e Peste

Chico Santo, pela rota do Conde Drácula
Paula Vares Valentim
jornalista responsável
 
Da Transilvânia, pela montanha dos Carpatos, Chico Santo seguiu para a Hungria. "Era a terra natal de uma mulher de mais de 100 anos que minha mãe cuidava, a Dona Caty. Ela costumava contar suas histórias em Budapeste. Veio para a América após a Segunda Guerra Mundial e inicialmente se instalou na Argentina. Durante a viagem de barco, no meio do Atlântico, sofreu um naufrágio com o filho que ainda era uma criança de colo. Como sou declaradamente um sujeito apaixonado pela história, esse foi o pretexto para a parada estratégica na Hungria.? Situada na planície da Panônia, na Europa Central, entre os Alpes Dináricos e os Bálcãs, a nação possui uma população de pouco mais de 10 milhões de habitantes e tem em Budapeste o principal centro econômico do país. "A cidade está povoada às margens do rio Danúbio. É um lugar incrível. Muito bonito. O Danúbio corta todo o município e deixa de um lado uma região montanhosa, alta, e do outro uma superfície mais plana. Está justamente no meio das porções territoriais de Buda e Peste, que juntas formam Budapeste, apesar de estarem situadas uma em cada lado?. Considerado o segundo maior rio da Europa, com uma extensão de aproximadamente 3 mil quilômetros, o Danúbio nasce na Floresta Negra e desemboca no Mar Negro. "Em 1991, foi decretado como patrimônio mundial da Unesco. É o elo de ligação entre a velha e a nova Budapeste.  Os húngaros, a bem da verdade, não gostam muito dessa coisa de Buda e Peste. Para eles, isso é coisa de estrangeiro que sai por aí repetindo  besteiras de estrada. Historicamente, sofreram muito com invasões e guerras. Por essa razão há um certo receio de enxergar em Budapeste uma cidade originada por dois povos diferentes.? Seja como for, a capital da Hungria foi fundada em 17 de novembro de 1873, com a unificação dos povoados de Buda e Peste, que, antes do século XIX, eram separadas pelo leito do rio Danúbio: "Hoje é a mesma cidade. Existem várias pontes que ligam as margens. É besteira chamar de Buda ou Peste. É o mesmo povo. É Budapeste. Uma cidade única. Em Buda está a parte da cidade mais antiga, mais alta, com uma vista muito bonita, para castelos e catedrais. Peste é a parte mais plana que, de certa maneira, é um pouco mais nova?. Em meio a esse contraste, Budapeste apresenta aos seus visitantes um dos mais exuberantes patrimônios culturais da Europa: "A cidade em si é muito bonita. Possui prédios elegantes e construções históricas como o Bastião dos Pescadores e o Parlamento. Tudo muito antigo, com pinturas raras, salões grandiosos, mobília fina e obras valiosas. Pessoalmente, gosto dos museus. Para quem aprecia a história, além do Museu Histórico ou Belas Artes, tem também a coroa da Hungria que existe a 1000 anos, onde foram coroados todos os reis húngaros?.  

Quem anda pelas ruas de Budapeste, queira ou não, se envolve com a arte. Esculturas e exposições itinerantes fazem parte da rotina de vida do lugar. "A Hungria é um país de muita cultura. Ao todo, são 13 os prêmios Nobel conquistados. O húngaro, em si, tem um dom de desenvolvimento alto de arte em todos os sentidos, tanto na musica, quanto escultura e pintura. Muitos utensílios de madeira são produzidos. Bordados, porcelanas, enfim, em todos os cantos encontramos isso?. Para os amantes da gastronomia, a Hungria oferece um cardápio respeitado em sua culinária. A paprika e o gulash são os mais conhecidos: "Os pratos mais tradicionais são feitos com bolachas e sopas. São os chamados gulashs, criados por pastores que tomavam conta do rebanho. Diz a tradição que eles cozinhavam sobre um fogo aberto em uma caçarola de bronze pendurada em um poste de três pés. A receita contem ingredientes como cebola e verdura. Mas o principal é a batata. A paprika por sua vez tem muita vitamina c. Nos tempos antigos, que nada se sabia sobre a importância da vitamina c, era servida principalmente no inverno, quando não havia frutas?. 
Do ponto de vista histórico, entretanto, poucos países na Europa sofreram tanto com as guerras quanto a Hungria. "O país foi invadido duas vezes. Uma com os alemães liderados por Hitler em 1944 e outra com os russos em 1956 após o fim da Segunda Guerra Mundial. Eles pegaram o primeiro comunismo e se queixam muito disso. Mais ou menos como ocorre na República Tcheca.? A invasão russa aconteceu durante o período da Guerra Fria e deixou a Hungria sobre o controle da ex-URSS até 1990, quando foram realizadas as primeiras eleições após a queda do Pacto de Varsóvia: "Certas coisas são superadas. A Hungria sofreu sérios problemas financeiros. Hoje, no entanto, leva uma vida normal, como qualquer outro pais da Europa central. Não sou eu quem tem que dizer que o capitalismo é melhor do que o socialismo. Basta você visitar um país dominado pela Rússia e ver a opinião do povo. É praticamente unânime. Eles sofreram muito com o comunismo. Hoje são livres para fazer o que quiserem.? De Budapeste, o repórter internacional do Terceiro Tempo, embarcou para a República Tcheca, cruzando, pela Europa, as fronteiras da Áustria e Eslováquia. Foi a última escala do projeto, antes de retornar a Alemanha e embarcar de volta para o Brasil.
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