Por Chico Santo
A segunda edição dos Jogos de Verão da Era Moderna foi realizada em Paris, terra natal de Pierre de Frédy, idealizador do modelo olímpico atual e responsável pelo resgate da competição de cunho religiosa disputada em seus primórdios na Grécia Antiga. Foi, a bem da verdade, graças ao Barão de Coubertin, articulador do Congresso de Paris, no ano de 1894 em Sorbonne, no sítio arqueológico do Quartier Latin, que o Comitê Olímpico Internacional se constituiu na França e, posteriormente, organizou a Olimpíada de Atenas, em 1896. Pierre de Frédy, a princípio, tornou-se secretário geral do COI e, logo após o encerramento dos Jogos da Grécia, ocupou a cadeira da presidência deixada por Demetrius Vikelas. Como não poderia ser diferente, Pierre de Frédy consolidou-se como o principal articulador da Olimpíada de 1900, em Paris. Evento, na realidade, ofuscado pela falta de organização e desinteresse dos parisienses, sobretudo, em virtude da realização da Feira Mundial, a atual Expo, de exposição industrial e tecnológica. Do ponto de vista operacional, os Jogos de Verão da França foram um fracasso. Tanto que a cerimônia de abertura sequer ocorreu. Emile Loubet, então presidente da república francesa, participou, apenas, de um discurso antes das provas de ginástica.
A premiação, do mesmo jeito, ficou aquém do desejado. Parte das medalhas foram substituídas por pratos, guarda-chuvas e carteiras. Alguns atletas precisaram aguardar até 1912 para receber os utensílios. Michel Théato, de Luxemburgo, teve a vitória na maratona contestada pelos juízes e só recebeu o título doze anos depois. Apesar disso, não conseguiu registrar a façanha a Luxemburgo, sua Terra Natal, ao passo que o COI, mesmo em dias atuais, considera o padeiro como francês.
Números oficiais apontam que 997 atletas representantes de vinte e quatro países em 20 modalidades diferentes participaram do torneio. Dentro do contexto esportivo, a França sagrou-se a grande vitoriosa com 101 medalhas (26 de ouro, 41 de prata e 34 de bronze) no quadro geral. Índice que representa mais do que o dobro do segundo lugar, ocupado pelos Estados Unidos com um total de 47 pódiuns.
Pela primeira vez na história dos Jogos de Verão, as mulheres tiveram acesso como participantes da competição. Considerada, naquele comenos como "sexo frágil?, a categoria foi defendida pelo nobre escritor Emile Zola, apesar da reprovação conservadora da época. Ao todo, vinte e duas atletas marcaram a presença feminina da Olimpíada. A inglesa Charlotte Cooper entrou para o Livro dos Recordes como a primeira campeã olímpica depois de vencer no tênis, modalidade, então, inédita na súmula do Comitê Olímpico Internacional. Vela e Golf, assim como os esportes coletivos, como futebol, pólo-aquático e rúgbi também foram disputados pela primeira vez em Paris.
A exemplo do que havia acontecido em Atenas, quatro anos antes, quando o Comitê Organizador se recusou a construir uma piscina olímpica e obrigou a realização das provas de natação no mar, em 1900, a falta de uma raia olímpica fez com que o romântico Rio Sena se tornasse o palco principal dos nadadores. Sem a construção de um centro olímpico, a maior parte das modalidades acabaram, entrementes, sendo realizadas no Bosque de Vincennes, o mesmo que entrou para a história em 1992 com o histórico show da banda californiana Guns n? Roses.