Oberdan Cattani

Ex-goleiro do Palmeiras
por Breno Menezes

Nascido em Sorocaba no dia 12 de junho de 1919, Oberdan Cattani, ex-goleiro do Palmeiras, morreu em São Paulo no dia 20 de junho de 2014, aos 95 anos.
 
Ele chegou ao Parque Antártica aos 22 anos de idade pelas mãos do irmão, Athos. Foi o maior arqueiro da história do clube paulista entre as décadas de 40 e 50, período no qual conquistou os Campeonatos Paulistas de 1942, 44, 47 e 50; a Taça Rio e o Rio-São Paulo de 1951.
 
Em 1942, Oberdan testemunhou o fim do Palestra Itália e o surgimento do Palmeiras. Em meio à 2ª Guerra Mundial, nenhuma agremiação poderia levar o nome do país liderado à época por Benito Mussolini, aliado de Adolf Hitler no conflito.
 
A "estreia" do Palmeiras aconteceu na decisão do Campeonato Paulista daquele ano, com uma vitória por 3 a 1 sobre o São Paulo. Os atletas entraram em campo com a bandeira do Brasil.
 
Apesar de ter se dedicado ao Palmeiras por quase 20 anos, acabou encerrando a carreira no Juventus por imposição do então presidente do Alviverde, Pascoal Giuliano, fato que impede que tenha um busto em sua homenagem no Parque Antárctica.
 
O estatuto do clube não permite conceder tal honraria a atletas que tenham atuado contra o Palmeiras, independentemente de sua importância histórica.
 
Oberdan, conhecido pelas mãos enormes, ficou famoso por desarmar no ar, utilizando apenas uma mão, atacantes do calibre de Leônidas, o Diamante Negro, grande craque da época.
 
Em 15 de abril de 2014 foi internado no Hospital Bandeirantes, em São Paulo, com uma grave lesão coronariana. Inicialmente ele passou por um cateterismo e no dia seguinte foi submetido a uma angioplastia, com a implantação de um stent. Em 23 de abril de 2014 deixou a unidade coronariana do Hospital Bandeirantes, seguindo em observação em um quarto normal. Recebeu alta em 25 de abril de 2014, após boa evolução clínica.
 
No dia 12 de junho de 2013, Oberdan Cattani completou 94 anos e recebeu a redação do portal Terceiro Tempo em sua casa:

Por Danielle Nhoque

Caminhando pelo bairro da Pompéia, em São Paulo, pode ser encontrada a casa verde que só poderia mesmo pertencer a um palmeirense. Mais do que isso, ali mora o senhor de mãos enormes e conservados cabelos e bigodes pretos que o personificaram durante o sucesso nas décadas de 40 e 50.

Filho de "italiano legítimo", Oberdan Cattani chegou ao Verdão guiado pelo irmão, Athos, para colecionar títulos e escrever uma história de dedicação e verdadeiro amor, não apagada pelo tempo e nem pela mágoa de ter deixado o clube contra a vontade. Completando 94 anos nesta quarta-feira (12), ele é o único jogador vivo dos tempos de Palestra Itália.

"Cheguei em 1940, mas antes disso eu vinha sempre assistir aos jogos do Palestra", contou, rodeado pelas várias faixas, troféus e livros distribuídos na pequena sala ao lado do seu quarto, onde dorme rodeado de recordações. Na cama, a colcha com o tema do time do coração está à frente do imenso painel da tradicional imagem nas redes do gol palestrino. Diversas fotos e artigos espalhados por todos os cantos contam a vida do ídolo, que guarda com carinho os detalhes do início da sua carreira.

"Me orgulho de dizer que fui caminhoneiro, naquela época eu vinha trazer frutas no Mercado Municipal. Eu jogava e o pessoal falava `porque você não vem fazer um treino no Palestra"´. E eu vim. Tinha 14 goleiros fazendo teste, dos 14 eu fui o que mais gostaram. Aí mandaram me chamar, fiz mais dois testes e fui contratado".

Oberdan levou no peito as medalhas dos Campeonatos Paulistas de 1942, 44, 47 e 50, a Taça Rio e o Rio-São Paulo de 1951. Estava presente na mudança da nomenclatura de Palestra Itália para Palmeiras, em meio à Segunda Guerra Mundial, quando nenhuma agremiação poderia levar o nome do país liderado à época por Benito Mussolini, aliado de Adolf Hitler. "Nós éramos muito mal vistos por sermos filhos de italianos. A própria imprensa, não toda, mas cronistas não gostavam do Palmeiras, falavam mal. Eu sentia, sou filho de italiano legítimo", lembra.

O quadro no corredor guarda todas as medalhas, a estante acima sustenta muitos relógios. No alto, quase que escondido, um deles é personalizado com o símbolo de um tradicional rival. É que o genro do sr. Oberdan, que mora com ele, torce pelo São Paulo. Casado com a filha Valquíria e considerado o `ovelha negra´ da casa, Roberto é provocado pelo eterno camisa 1. "Quando mudamos de Palestra Itália para Sociedade Esportiva Palmeiras, nós jogamos contra o São Paulo e tivemos a felicidade de ganhar. Justamente neste jogo o São Paulo, nós estávamos ganhando o jogo, e eles pararam de jogar, saíram de campo. Esse aí é são-paulino. Fazer o que, né?".

Apaixonado pela profissão, Cattani gostaria de ter se dedicado ao clube após pendurar as chuteiras. "Só saí quando mudou a diretoria. Acabou meu o contrato, eu já tinha 16 anos de Palmeiras e o diretor achou que eu estava velho demais, mandou darem o passe para eu ir embora. O que mais senti foi que eu queria encerrar a carreira dentro do Palmeiras e ficar trabalhando lá, porque quem treinava os goleiros era eu. Eu que treinava, dava o preparo físico na concentração. Fiquei meio chateado com esse diretor e fui embora. Aí fui para o Juventus, joguei um ano lá e tapei a boca dele porque fiz um belo campeonato".

Com os olhos cheios de orgulho, ele estende as mãos. O dedo mindinho da direita, quebrado, é um vestígio da época em que goleiros não usavam luvas e a bola era muito mais pesada. "E essa chuteira macia, gostosa. Eu trazia para casa e cuidava dela porque, se deixava lá, largavam em qualquer lugar. Guardei como lembrança. E está nova! Dá até vontade de usar de novo, mas não posso mais" sorri, mostrando o antigo calçado.

Afastado dos gramados, Oberdan se tornou frequentador assíduo da sede do Alviverde. Hoje, demonstra tristeza ao contar que não vai mais às dependências da entidade. "Sou conselheiro vitalício, mas agora não tenho ido lá. Mudou muito, um dos diretores que entrou agora é completamente diferente da minha época, para falar com ele precisa tirar o chapéu. Então, eu nem tenho ido mais ao Palmeiras."
 
Encerrada a entrevista, o ex-arqueiro vai até a cozinha. Valquíria coloca à mesa petiscos servidos em potes e guardanapos pintados de verde e branco. Servido com refrigerante, o pai lhe sorri e aponta o objeto, que tem o brasão do Palestra Itália: "Eu só bebo neste copo aqui, viu"".

Ainda sobre Oberdan, o site Terceiro Tempo recebeu no dia 07 de janeiro de 2006, do internauta corintiano Michael Della Torre Jr., de Mogi das Cruzes, o seguinte e-mail:

"Olá, Milton! Gostaria de reportar um fato, relatado por meu pai, MIGUEL DELLA TORRE, jornalista aposentado, ocorrido no início da década de 40. No início da década, o goleiro Oberdan Catani, do Palmeiras, estava invícto há várias partidas.

Ninguém conseguia marcar gol nele. Na ocasião, várias emissoras ofereceram prêmios diversos àquele que conseguisse marcar um gol contra o referido goleiro.
Numa partida São Paulo X Palmeiras, o centro-médio Túlio do Palmeiras(sistema WM da época)marcou um gol contra, ganhando assim todos os prêmios. No segundo tempo, o mesmo jogador redimiu-se marcando o gol que deu o empate ao time verde-branco,partida essa que terminou em 1 X 1. Oberdan Catani continua vivo, e poderá confirmar pessoalmente a história!
Abraços".
 

ABAIXO, PROPAGANDA DO ITAÚ EM QUE OBERDAN CATTANI APARECE AO LADO DO ZAGUEIRO JUNQUEIRA, NOS ANOS 80

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Pelo Palmeiras:

Oberdan defendeu a meta palmeirense em 351 jogos (foram 207 vitórias, 76 empates e 68 derrotas). Sofreu 409 gols.

Informações obtidas no "Almanaque do Palmeiras", de Celso Unzelte e Mário Sérgio Venditti.

Pela Seleção Brasileira:

Atuou em 9 jogos, sendo sete vitórias e duas derrotas. Sofreu oito gols.

Na Copa América de 1945:

Participou de seis jogos, sendo cinco vitórias e uma derrota. Sofreu cinco gols.

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