No Jornal O Dia

Chico Santo, bastidores do jornalismo
Paula Vares Valentim
jornalista responsável

A Tragédia de Angra dos Reis, em janeiro de 2010, marcou a assinatura de Chico Santo em outro grande grupo de mídia impressa do Brasil. Como enviado especial do Terra ao estado do Rio de Janeiro, o repórter internacional entrou também para as páginas do jornal O Dia. "Foi mais um grande veículo que tive a oportunidade de ter o meu trabalho publicado. O Jornal O Dia não tem tanta força em São Paulo, como acontece no Rio de Janeiro, onde é tido como um dos principais da região. Principalmente, no esporte, se especializou em grandes furos, como o que aconteceu durante a apresentação do jogador Adriano ao Corinthians, um ano depois, em 2011. Na ocasião, o Imperador foi acusado de dirigir embriagado e acabou perdendo a linha em sua coletiva, o que rendeu um grande barulho. Então, quando chamado de mentiroso pelo atleta, a editoria responsável do Dia se encarregou de enviar a cópia das gravações ao Corinthians e, consequentemente, o caso morreu. Ter o trabalho veiculado em empresas de peso, para mim, sempre se tornou uma espécie de reconhecimento.?
Em 5 de janeiro de 2010, o jornalista apresentou, para O Dia, a primeira de quatro reportagens especiais produzidas em meio a Tragédia de Angra dos Reis. O texto falava dos problemas enfrentados pelos motoristas que trafegavam pela rodovia Rio-Santos, afetada pelas chuvas. "Foi uma matéria que surgiu da necessidade de mostrar às pessoas que aquele não era um bom momento para colocar o carro na estrada. A rodovia tinha acabado de ser liberada, mas, mesmo assim, apresentava muitos riscos. Em um pequeno trajeto entre o Rio de Janeiro e a cidade de Angra dos Reis, eram muitos os focos de deslizamento. Cheguei a ver um carro capotado pelo meio do caminho no próprio asfalto. Conversei com motoristas, entrevistei caminhoneiros e no consenso geral a situação era de extremo perigo. Fechei a pauta em cima disso. Mostrando como estava a Rio-Santos.?
Durante os dez dias em que esteve in loco em Angra dos Reis, Chico Santo registrou em sua cobertura todos os ângulos da destruição que foi desde o Morro da Carioca até o turismo da Ilha do Bananal. "Essa é uma característica pessoal que tenho. Não gosto de ficar parado no mesmo local. Sempre há algo diferente a ser explorado se você tiver um pouco de vontade de lapidar. Para ir a Ilha do Bananal, levei quase três horas dentro de um barco, pelo Oceano Atlântico. Um lugar absolutamente lindo, mas que, naquele verão, ficou completamente vazio. Os comerciantes culparam a imprensa por ter destruído a temporada. Alegavam que a pousada que foi soterrada não representava nem um 1% do território da Ilha. O que eles não entenderam, pelo menos naquele ínterim, era que qualquer turista que visse uma pousada soterrada, como foi, cancelaria sua reserva. Sem falar que a Rio-Santos estava absolutamente perigosa. Então, o dinheiro valia mais do que a segurança dos clientes? Angra dos Reis continua linda e hoje superou aquela tragédia. Mas em 2010, diante de tantas mortes, não havia clima para o turismo. Particularmente, com aquele clima de velório, eu não levaria a minha família para passear lá, naquele momento. O dinheiro precisa entender isso.?
De todas as reportagens assinadas, entretanto, nenhuma chamou mais a atenção do que a entrevista com a sobrevivente Paula, a Pequena, que ficou soterrada durante a madrugada do reveillon. "Foi um trabalho exclusivo. Fui o único a entrevistá-la. Evidentemente, todas as matérias mostravam as consequencias da chuva no estado. Acima de tudo, foi um trabalho muito delicado porque, dentro do Morro da Carioca, o principal ponto de deslizamentos de Angra dos Reis, a comunidade não estava muito aberta à imprensa. Tanto que uma equipe de televisão teve o equipamento destruído após chamar o local de favela. Precisei de um tempo para ganhar a confiança da comunidade. Conversei com os chefões do morro, pedi autorização para me infiltrar e, então, tudo deu certo. Em 10 dias de trabalho, tive pelo menos três furos, sendo um deles, com a Paula, a Pequena,  ? orientada pelos donos do morro ? a falar apenas comigo.?
 
O furo estampou a página de O Dia em 08 de janeiro de 2011 com a manchete "Fiquei conformada com a morte?, publicada através do faro aguçado de Chico Santo pelo jornalismo. "Quando você está em um trabalho como enviado especial, função que ocupei muito jovem como repórter de alguns dos principais veículos de comunicação em rádio, internet, televisão e mídia impressa do Brasil, então, você tem que ir além do esperado. Você está lá para isso. Não dá para fazer apenas o trivial. É preciso levar ao público algo a mais, que chame a atenção pelo que está acontecendo nos bastidores. Nessas coberturas sempre coloquei a minha própria vida em risco. Entretanto, tinha que ser assim. O bom repórter reconhece, acima de tudo, qualquer situação de perigo. Mas, nem por isso, deixa de andar no limite entre a vida e a morte. A não ser que queira ser somente mais um. Nesse caso, segundo lugar, não tem medalha.?
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