No Jornal do Brasil

Da tragédia de Santa Catarina aos terremotos da Itália, Haiti e Chile

Paula Vares Valentim
jornalista responsável

Pelo Jornal do Brasil, fundado em 1891, no Rio de Janeiro, Chico Santo assinou como enviado especial algumas das principais coberturas do periódico entre os anos de 2008 a 2010. Na editoria mundo, atuou, como correspondente internacional e entre outros trabalhos, registrou os terremotos do Haiti, Itália e Chile. No Brasil, sempre como repórter especial, participou também do projeto Verão de Salvador e da Tragédia de Angra dos Reis. Um capítulo de reconhecimento que o colocou definitivamente na história de um dos mais tradicionais jornais do país através da madrugada de 25 de novembro de 2008, onde estabeleceu o início de uma nova fase em sua carreira. "A tragédia de Santa Catarina foi, em vários aspectos, um divisor de águas na minha vida. Daquele comenos em diante, tudo ganhou grandes proporções, tanto do ponto de vista pessoal quanto profissional. Foi o momento em que percebi que meu nome já era tido como uma referência no jornalismo.? Dos registros históricos que guarda em seu arquivo, a data ganhou destaque em sua agenda com a primeira matéria veiculada para o Jornal do Brasil. "Desde os tempos de estudante, no início dos anos 2000, reservo em um canto da minha casa um espaço especial para aquilo que julgo importante da minha carreira. Principalmente o que diz respeito ao meu trabalho. E, de fato, assusta, quando olho para trás e vejo tudo o que fiz em tão pouco tempo. É o caso do Jornal do Brasil, criado por Rodolfo Dantas para defender a monarquia, recém deposta na época. Então, estamos falando de um dos principais veículos da mídia impressa da história do Brasil e, ao mesmo tempo, o primeiro a estar na internet, como ocorreu com Milton Neves que, entre os jornalistas, foi o pioneiro na web. No caso do Jornal do Brasil, falamos também de uma redação que teve alguns dos grandes nomes do mundo com a participação de José Veríssimo, Joaquim Nabuco, Barão do Rio Branco e Eça de Queirós. Então, daí, é possível entender o que representou para mim assinar a minha primeira matéria para o Jornal do Brasil como enviado especial. Uma responsabilidade muito grande.?  O texto, fechado em Chapecó, a caminho de Blumenau, foi publicado horas antes da explosão do gasotudo do Morro do Baú que culminou com o ápice da Tragédia de Santa Catarina. "Na verdade, furei toda a imprensa brasileira porque tive o feeling de sentir que algo muito além do normal iria acontecer. Basta dizer que, antes que o próprio Morro do Baú desaparecesse do mapa, como de fato ocorreu, eu já estava a caminho do epicentro. Se tivesse chegado algumas horas antes poderia até ter morrido.? Na cabeça da matéria que assinou para o Jornal do Brasil ficava evidente em sua linha fina a dificuldade enfrentada pelo repórter com o fechamento das estradas no estado. "As empresas de ônibus foram proibidas de circular pela região. As pistas estavam intransitáveis. Ninguém se arriscava a colocar um veículo no asfalto. Encontrei um taxista que estava disposto a encarar a aventura. Paguei caro por isso. Quase morremos por algumas vezes. Choveu durante toda a madrugada.?

Horas mais tarde, já em Blumenau, o jornalista demonstrou o faro pela reportagem ao concluir o furo, como descreveu na manchete "Blumenau amanhece debaixo de lama?. Era o início de uma longa história: "O título foi o mais simples possível. Não era preciso mais do que uma frase para mostrar ao país, especialmente ao Rio de Janeiro, que o Jornal do Brasil, com o Terra, estava posicionado na área dos deslizamentos enquanto os demais veículos de comunicação naquele momento se esforçavam para chegar. Aquela manhã de 25 de novembro foi justamente a primeira após a explosão do gasotudo do Morro do Baú. De toda a imprensa nacional, dos jornalistas que não habitavam Blumenau, só eu estava lá. Depois, evidentemente, a turma foi chegando. Mas naquele ínterim, quando os executivos entravam em seus escritórios no Rio e em São Paulo, eram as minhas fotos e o meu texto que serviam como referência no início da cobertura que mobilizou posteriormente todo o Brasil.? Na matéria o repórter deixava claro a gravidade da situação. "A cidade de Blumenau (SC) amanheceu debaixo de muita lama. A chuva não deu trégua e a Defesa Civil registrava, às 8h05, a morte de 13 pessoas no município. Em todo o Estado, eram 65 mortos e 49.799 desalojados e desabrigados.O trabalho é intenso. No centro histórico de Blumenau a lama chega a quase meio metro de altura. Muitas árvores caíram sobre carros. Postes de eletricidade estão sobre a calçada e a maior parte dos semáforos não funciona. Nos campos de futebol, a grama foi substituída pelo barro e o tradicional Clube Olímpico ficou praticamente destruído.?

Foram praticamente dois meses de cobertura. "Estive envolvido com o trabalho desde o início quando as chuvas ameaçavam destruir o estado e, depois, com as conseqüências das inundações e avalanches. Por fim, registrei o recomeço no momento de reconstrução do estado. Foi quando a vida dos flagelados voltou, digamos, ao normal, e então retornei para casa. Alguns dias depois eu estava em Salvador, entrevistando Ivete Sangall, Caetano Veloso e Nando Reis. Rodei boa parte do país com o Jornal do Brasil. Então, troquei de editoria.? Em abril de 2009, o repórter entrou definitivamente para a galeria de jornalistas internacionais do Jornal do Brasil. A cobertura do Terremoto da Itália foi a primeira, fora do Brasil, com o tradicional periódico. Mais um momento extremamente importante para o repórter. "Tem gente que leva uma vida inteira sonhando com esse tipo de oportunidade. Não é fácil conquistá-la. É muito difícil, para um jornalista, se tornar um correspondente internacional ou, mesmo, atuar como enviado especial. Por mais que o Terremoto de Laquila não tenha sido o meu primeiro trabalho internacional, de fato, não dá para descrever em essência o gosto de você estar do outro lado do Atlântico e saber que está escrevendo para o Jornal do Brasil que, lamentavelmente, deixou de circular nas bancas em setembro de 2010, restringindo sua operação, apenas, à internet, como ocorreu também com a Gazeta Esportiva. De qualquer forma, seja na Itália, no Haiti ou no Chile, senti essa sensação de atuar como correspondente internacional do histórico Jornal do Brasil. O mesmo que um dia teve Rui Barbosa como redator-chefe. Ele foi cassado pelo então presidente Floriano Peixoto, que fez de tudo para fechar as suas portas. Tenho orgulho, ainda que por apenas dois anos, de ter feito parte desse time. É o que interessa dizer.?

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