Natal Baldini

Meio século dedicado ao rádio esportivo
Natal Baldini, ex-operador de som da Rádio Jovem Pan-AM, faleceu aos 75 anos, em 17 de novembro de 2004, vítima de complicações causadas por diverticulite. Baldini trabalhou durante 56 anos na Jovem Pan. Nascido em 11 de outubro de 1929, Baldini deixou esposa e uma filha.

Confira abaixo, a homenagem do jornalista Vander Luiz para Natal Baldini

A mensagem chega e o ouvinte monta um cenário imaginário em sua mente. Uma ligação construída por locutores, repórteres, publicitários, técnicos de som. Caminhos que o técnico de externas Natal Baldini percorre há 51 anos através da Rádio Jovem Pan.

Natal Baldini, 71 anos, começou a trabalhar na então Rádio Panamericana em 1949, quando a emissora ainda funcionava na rua Riachuelo, região central de São Paulo. Aos 20 anos, Baldini deixou a companhia aérea Panair para se tornar telefonista. Entrava às 22 horas e seguia até às duas da manhã atendendo aos ouvintes que ligavam para participar do programa "Baile da Saudade?, apresentado por Raul Tabajara, por sinal o primeiro repórter de campo do rádio brasileiro. No entanto, o seu maior desejo era uma transferência para o setor esportivo da emissora. Sonho que se realizou em menos de dois anos, quando passou a integrar a equipe técnica externa e ao mesmo tempo o plantão esportivo permanente. Por sinal, duas atividades que desempenha até hoje. "No plantão esportivo eu comecei com o Aluani Neto, depois veio o Narciso Vernizzi. Na externa o meu primeiro trabalho foi a transmissão da inauguração da piscina aquecida do Defe (Departamento de Educação Física do Estado, atual Conjunto Esportivo "Baby Barioni?) ao lado do repórter Murilo Antunes Alves?, recorda. Tempos difíceis. As companhias telefônicas não ofereciam linha de transmissão.
 
 
Para irradiar um jogo do Canindé, que ainda pertencia ao São Paulo, era preciso chegar às seis da manhã para instalar o transmissor. Mas a realização profissional compensava o esforço. Baldini destaca que as transmissões mais emocionantes ocorreram no Maracanã. A final Taça Rio (1951), vencida pelo Palmeiras e que reuniu o Olimpic de Nice (França), Estrela Vermelha (Iugoslávia), Juventus (Itália) e Vasco da Gama, e os dois jogos do bi-campenato mundial do Santos (1963) diante do Milan. Um Santos sem Pelé, mas com a coragem de Almir Pernambuquinho.

Baldini participou de inúmeras jornadas esportivas, mas ao longo de cinco décadas também acompanhou boa parte dos principais acontecimentos que emocionaram o Brasil, como o incêndio do Joelma, posses de prefeitos e governadores, Carnaval, julgamentos, inauguração de grandes obras, rebeliões, visita do papa João Paulo II, acidentes aéreos, entre tantos. Bem disposto, garante que ainda pretende continuar trabalhando por mais alguns anos. "Eu ainda vou longe?, anuncia.

Ciclismo e JK

Dono de um estilo brincalhão, sempre distribuindo balinhas para os amigos e falando alto, Baldini também viveu alguns momentos que entraram para a história do rádio. Entre as passagens curiosas, a transmissão de uma edição da prova ciclística "9 de Julho?, em Interlagos. O locutor Otávio Muniz chamava os repórteres espalhados ao longo do autódromo e cada um fechava a sua participação com a menção do patrocinador. Quando chegou a vez do posto em que dava assistência técnica, Baldini verificou que o repórter Reali Júnior ainda não estava no local. Não teve dúvidas, pegou o microfone e disparou. "Caloi informa! O locutor não apareceu?. No entanto, desmente que durante uma edição das "Mil Milhas Brasileiras?, novamente em Interlagos, tenha apontado no meio da madrugada uma lanterna em direção à pista fazendo com que um piloto perdesse o controle do veículo e abandonasse a prova. Talvez a melhor passagem tenha ocorrido no Rio de Janeiro, quando ao lado do repórter Pirillo Magalhães viajou para entrevistar pela Rádio Record o presidente Juscelino Kubitschek (1956/61) ? as rádios Record, Panamericana e São Paulo, de propriedade do dr. Paulo Machado de Carvalho, formavam as "Emissoras Unidas".
 
 
Ao desembarcar no Galeão ficou sabendo que o presidente já tinha deixado o aeroporto. Baldini não podia perder a viagem e tomou a iniciativa de seguir de táxi para o apartamento do presidente, em Copacabana. Entrou pelo elevador de serviço, em razão de carregar pesados equipamentos de transmissão, e teve acesso à residência presidencial pela porta da cozinha, onde tentava explicar a situação, sempre com o tom de voz elevado, ao primeiro empregado da casa que encontrou pela frente. Kubitschek conversava em sua sala com um senador e foi atraído pelo que parecia ser uma discussão. Para a surpresa de todos, JK foi o mais cordial possível com os radialistas, concedendo uma entrevista exclusiva. Isso depois que se conseguiu um interurbano para São Paulo, o que não demorava menos de cinco horas.
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