Na Jovem Pan

Produção do Terceiro Tempo e Cooredenação do Pique da Pan
Paula Vares Valentim
jornalista responsável
Tão logo retornou de Fortaleza, a primeira de muitas viagens ao lado da Seleção Brasileira, Chico Santo recebeu o convite para integrar a equipe de esportes da Rádio Jovem Pan, em São Paulo. A notícia foi dada, em primeira mão, pela editora de esportes da TV Record, Deise Oliveira. "Eu estava na aula de ética e jornalismo, de um professor cujo nome não me lembro quando a Deise Oliveira invadiu a classe e disse em alto e bom som: ´Professor, desculpe-me por interromper a sua aula, mas estou muito feliz. Chico, um aluno a menos para eu me preocupar! O Wanderley Nogueira me pediu para te passar o telefone dele. Você vai começar na Jovem Pan?. A notícia, de imediato, se espalhou pela faculdade. "Antes mesmo de ligar para o Wanderley Nogueira, encontrei o Flavio Prado no corredor e recebi os seus cumprimentos. Eu tinha conseguido entrar na principal equipe de esportes do rádio paulista da época. Alguns colegas ficaram felizes. Foi o caso da Izabella Camargo, que trabalhava na Jovem Pan FM e hoje apresenta o Jornal da Band.?
Em 2002, sem o pai do gol, José Silvério, a Jovem Pan tinha uma equipe formada por Milton Neves, Flavio Prado e Wanderley Nogueira. Um time absolutamente respeitável. "Tive a sorte de solidificar minha base com os melhores do rádio. Numa dessas coisas inexplicáveis da vida, passei a conviver diariamente com os três. Então, eu almoçava todos os dias na casa do Wanderley Nogueira, com a sua família, pegava caronas da faculdade para a Jovem Pan com o Flávio Prado e vivia os bastidores do Terceiro Tempo da TV Record com o Milton Neves. Cada um deles me ensinava algo a mais. Foram, indiscutivelmente, os meus professores. E um completava o outro, até porque o Wanderley sempre foi um grande repórter; o Flávio, um excelente comentarista; e o Milton, na minha e na opinião de muita gente, o principal nome da história do rádio esportivo brasileiro. Talvez eu tenha vivido de perto o último grande momento de um trio que ao lado de José Silvério formou o que a geometria da época chamaria de quadrado perfeito.?
Ao entrar para o núcleo de esportes da Pan, Chico Santo se juntou as outras 4 promessas da casa. "Weber Lima, Everaldo Marques, Felipe Motta e Fredy Júnior. Trabalhamos juntos por um bom tempo. Tive um contato maior com o Felipe e o Fredy. Nós três cuidávamos da produção e coordenação do Pique da Pan, do Wanderley Nogueira. O Everaldo Marques ? naquela época, já fazia Fórmula 1. Passava mais tempo fora do que propriamente dentro do Brasil. Ele brincava, nesses encontros de redação, e dizia que eu ainda iria escrever um livro com as minhas histórias de bastidores. O Weber Lima, por sua vez, um dos caras que mais me ajudou na Pan, coordenava o Jornal de Esportes do Milton Neves. Era, indiscutivelmente, um bom time. Todos muito jovens e talentosos. Sempre encontro com o Fredy no elevador e troco e-mails com o Weber e Everaldo. Curiosamente, vejo mais o Felipe Motta no exterior do que no Brasil. Coincidentemente, nos encontramos na África do Sul, em 2009, no jogo entre Brasil e Egito pela Copa das Confederações, e em 2010, na partida de estreia da Seleção Brasileira, contra a Coreia do Norte, na Copa do Mundo. Daquela turma de jovens promessas, todos se deram muito bem. Ninguém ficou para trás?.

Pela Jovem Pan, em 2002, Chico Santo assinou sua primeira cobertura de um mundial de futebol. "Foi um contato inicial com algo que eu viveria de perto nos anos subseqüentes. Trabalhei na redação, naquela Copa ao lado de Carlos Alberto Parreira, Mário Jorge Lobo Zagallo, Candinho, Emerson Leão, Moracy Sant?Anna, Romário, Vanderlei Luxemburgo, Oscar Roberto Godoi e os demais jornalistas de esportes da rádio. Minha função, basicamente, era carregar o piano. Imprimir as escalações das equipes e ouvir atentamente a tudo. Trabalho de produção, como gravar boletins e editar sonoras. Valeu muito a pena. Quando o Brasil venceu a Inglaterra, com aquele gol de falta do Ronaldinho Gaúcho, o Vanderlei Luxemburgo me deu um abraço e disse ?você não tem ideia do quanto isso é bom para a nossa carreira, garoto! A gente vive do esporte e o Felipão está carregando a nossa bandeira lá fora??.
Daquela cobertura, no entanto, duas outras situações chamaram a atenção do futuro repórter. "O fuso horário não ajudou muito. Os jogos eram de madrugada e isso mexeu com toda a rotina do Brasil. Em uma dessas noites, fui escalado para ligar para o Romário. Entrei em contato com ele para saber se ele poderia fazer um flash ao vivo e a resposta, se por um lado não foi positiva, pelo menos ficou gravada na minha memória. ?Pô Peixe, te agradeço a ligação, você não deve saber, mas está no contrato. Não entro ao vivo de madrugada. Agora é hora da balada?. Foi super engraçado. Mas o que deu resultado, mesmo, foi o contato que tive com o Milton Neves. Como eu estudava de manhã e não fazia parte da equipe do Jornal de Esportes, com o Weber Lima, a Copa do Mundo serviu para que estreitássemos nossa relação. Lembro de ver o Milton Neves dormindo na mesa do José Carlos Pereira, o vice-presidente da Pan. Entre um e outro solavanco, ele virava para quem estivesse ao seu lado e pedia para que não lhe deixasse perder a hora. Nessas muitas acordadas para o Debate Bola coloquei a faculdade definitivamente como segundo plano e passei a freqüentar os estúdios da Rede Record de Televisão com o Milton Neves.?
Ao fim do mundial, o repórter internacional do Terceiro Tempo, ganhou notoridade entre os veteranos da Pan ao receber de Roma um telefonema do capitão do penta. "A taça ainda estava debaixo dos braços do Cafu. Ele tinha acabado de levantar a Copa e era o cara mais procurado para entrevistas no mundo. Fazer algo com ele, naquele momento, era impossível. Mas eu tinha os meus contatos e o Cafu, com quem gravei em Milão, também, sempre me ajudou. Aí, sem falar nada para ninguém, marquei uma entrevista com ele. Eu estava na redação, ao lado do Flavio Prado e do Wanderley Nogueira, na mesa de esporte, quando o meu celular tocou. Ninguém acreditou que eu estava falando com o Cafu. No meio de tantos jornalistas experientes, afinal de contas, por que ele iria ligar para um estudante de jornalismo? Tive que passar o telefone para o Wanderley Nogueira acreditar. Quando o Wanderley virou os olhos e disse "capitão, é você??, aí todo mundo saiu me dando tapas nas costas. Foi a última entrevista do Cafu antes de se transferir para o Milan.?
Diante de ensejos ainda maiores, a vocação para a reportagem passou a pulsar cada vez mais no sangue do então produtor da Jovem Pan. "Definitivamente, eu queria ser repórter. O problema era que com 22 anos, sem diploma, no meio de tanta gente boa, ninguém me dava um microfone. Isso começou a mexer comigo porque, historicamente, eu sempre tracei o meu caminho. Não queria arrumar entrevista para os outros. Eu desejava fazer o meu material e trabalhava com um repórter extremamente competente, que me ensinou praticamente toda a base do feeling que tenho de apuração para a notícia. Então, um dia, o Wanderley Nogueira me pediu para que eu descobrisse o telefone de um delegado que investigava o caso de um jogador de futebol assassinado em Iracemápolis, no interior de São Paulo. Foi quando assinei minha primeira reportagem. Ao invés de agendar a entrevista, fora do horário de trabalho, fui para Limeira e gravei toda a matéria. A reportagem de quase 10 minutos foi veiculada na íntegra no programa Pique da Pan. Aquela foi uma noite muito especial para mim e para a minha família, que vibrou muito?.
Depois daquilo, Chico Santo foi ouvido em todos os programas de esportes da emissora. "Quando meu estágio de produção acabou ? eu era responsável também pelo fechamento do relatório de esportes do Jornal da Manhã -, fiz aquilo que todo mundo faz. Corri, mais uma vez, para o lado do Milton Neves. Em 2003, passei a ser setorista do São Paulo Futebol Clube pelo Portal Terceiro Tempo e isso foi um grande degrau para mim. Nas alamedas do Morumbi, tive o apoio do Marcello Lima, o jornalista mais respeitado lá dentro. Aí fui me soltando e através das viagens pelo Portal Terceiro Tempo, onde o Milton Neves só ficava sabendo quando eu estava lá, ganhei espaço também na Jovem Pan como repórter, o que ? em via de fatos ? contribuiu muito para a construção da minha carreira.?
A primeira viagem foi a Santa Catarina, durante uma excursão do Tricolor a Florianópolis e Criciúma. "O Milton ficou extremamente irritado comigo. Não era para eu ter ido. Quando ele viu eu estava lá, enviando matérias de outro estado. O São Paulo passava por um momento complicado com o Osvaldo de Oliveira. Tinha dois jogos importantes para fazer. Um pelo Campeonato Brasileiro diante do Figueirense e outro pela Copa do Brasil contra o Criciúma. O último, aliás, marcou a primeira penalidade perdida por Luís Fabiano. Em Florianópolis, como a Pan não havia mandado repórter, entrei no Terceiro Tempo do Milton Neves com os vestiários. Durante a semana, participei, também, do Mundo da Bola do Flavio Prado, Jornal de Esportes do Milton Neves e Pique da Pan do Wanderley Nogueira. Eu estava pelo Portal Terceiro Tempo, aí aparecia com Júlio Baptista, Luís Fabiano, Kaká, Rogério Ceni e ligava para São Paulo. O que o Rosendo iria fazer? Ele me botava no ar! Quando voltei à redaçao, o Milton me pagou a viagem e me deu uma bronca daquelas.?

Não foi a última. Durante o tempo em que esteve em Santa Catarina, no entanto, o repórter passou por momentos delicados. "Eu fui por minha conta e responsabilidade. Evidentemente, não tinha dinheiro para nada. O Alex Muller da Rádio Bandeirantes ? aquele que tem mais de 10 filhos, me ajudou muito naquela semana, inclusive com grana. O mesmo digo em relação ao Juca Pacheco e ao São Paulo Futebol Clube. Todo mundo viu que eu estava ralando, em busca do meu espaço. Então, eu dormi a semana inteira, naquele inverno duro de Santa Catarina, na rodoviária, deitado ao lado dos mendigos. A noite era tão fria que de madrugava eu me levantava e tomava duas doses de pinga para esquentar a perna que, mesmo assim, amanhecia dormente. Em um dos treinos o São Paulo cismou de jogar no campo do Avaí, na Ressacada, do outro lado da cidade. Sem dinheiro pra nada fui de carona com o Alex Muller no táxi da Rádio Bandeirantes. Andei muito, também, no furgão do São Paulo, junto com as bolas e camisas dos jogadores. Para tomar banho eu pegava um ônibus e ia até a praia naturalista de Galhetas. Enquanto os peladões curtiam o naturalismo eu era o único que levava shampoo e condicionador. Foi uma semana incrível?.
O reconhecimento pelo trabalho motivou o então estudante de jornalismo a encarar novos desafios. "Foi quando eu percebi que estava na hora de me lançar como repórter internacional, para desespero da minha família. O Santos, com os Meninos da Vila, estava de volta à Libertadores da América. Entre as muitas caronas dentro da Mercedes Benz do Milton Neves, ao fim do programa Debate Bola da Rede Record, joguei a idéia. E não é que depois de muita insistência, seguida por vários xingamentos ele aprovou? Aí fui para Assunção de ônibus, credenciado pela Aceesp e Portal Terceiro Tempo. O jogo contra o 12 de octubre foi na Ciudad del Este. Consegui uma exclusiva com o Emerson Leão minutos antes da partida. Foi a minha primeira cobertura internacional. E uma vez que você tenha colocado os pés no mundo, você nunca mais volta ao mesmo lugar?.
Ao lado de Milton Neves, Chico Santo atingiu patamares ainda mais elevados. "Como o Santos não parou de ganhar, até chegar na final contra o Boca Juniors, então, a Libertadores da América de 2003, do ponto de vista profissional, foi maravilhosa para mim. Quando a equipe da Vila Belmiro se classificou para a final contra o Boca, eu já estava em Buenos Aires. Outra viagem de ônibus, sem que o Milton Neves soubesse. Na verdade, ele só tomou conhecimento que eu estava lá quando eu entrei ao vivo na Jovem Pan, no seu Plantão de Domingo, coordenado por Weber Lima. Foi a primeira vez que fiz uma participação ao vivo, de fora do Brasil, em rede nacional, evidentemente, pelo Terceiro Tempo.?
Na Argentina, foram muitas histórias. "Mais uma viagem que eu fiz por minha conta. O problema é que eu errei nos cálculos. Levei apenas US$ 120,00 para passar 10 dias. Era o que meus pais podiam me dar. O dinheiro tinha que ser suficiente para hospedagem, alimentação e passagem de volta - de ônibus -, claro. Peguei o hotel mais barato que tinha, na rua Talchahuano, perto do Obelisco, no centro de Buenos Aires. O hotel existe até hoje. Sempre que vou a Buenos Aires passo por lá para ver como está. Ele continua de pé ao lado de uma casa de prostituição. Na época, era o local onde as acompanhantes dormiam. Foi o que tive condição de pegar. E o pior, sem serviço de quarto. Não sei se é preciso dizer, mas o dinheiro acabou na metade dos dias e eu não tinha como voltar ao Brasil. Felizmente, na noite do jogo, na primeira final entre Boca e Santos, por sorte encontrei com o Wanderley Nogueira e o Flavio Prado, dentro de La Bombonera, e quando voltávamos para o hotel, pedi US$ 50,00 emprestado para o Wanderley. Ele ficou muito bravo comigo. Encheu meu ouvido de coisas e depois me deu uma nota de US$ 100,00, que eu devolvi assim que voltei ao Brasil, de ônibus, cinco dias depois... Ai me encontrei com o Milton Neves e levei mais uma bronca. Saí tonto da sala. O Milton me proibiu de fazer essas loucuras internacionais e disse que se eu insistisse ele me mandaria para o inferno, para não dizer algo impublicável. Por um tempo, conseguiu...?.   
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