Na Globo Internacional

Chico Santo, bastidores do jornalismo
Paula Vares Valentim
jornalista responsável
Tão logo desembarcou em Palmas para assumir a função de repórter da TV Anhanguera, afiliada da Globo no estado de Goiás e Tocantins, Chico Santo recebeu  de bandeja o que considera o maior presente durante o tempo em que esteve envolvido em seu Projeto Tocantins. "Eu tinha uma semana de casa quando pintou uma pauta especial, desta que toda a redação quer fazer. Tratava-se de uma viagem de seis dias para o Jalapão, uma das principais reservas ecológicas do país. A princípio, o trabalho seria feito pela minha amiga Thalita Tavares, apresentadora do Globo Esporte que, assim como eu, também havia acabado de chegar de São Paulo. Na época, aliás, ela ainda não era a editora responsável pelo GE. Mas, por algum motivo, a Thalita não pôde ir. Então, choveu e-mail na caixa do Rogério Silva, diretor de jornalismo da TV. Não sei porque, ninguém nunca soube, ele me chamou num canto e disse para eu fazer a mala que a cobertura era minha. Talvez tenha sido a maneira de me dar as boas vindas?. 
A viagem ao Jalapão foi acompanhada por uma caravana de três empresários de turismo que pretendiam transformar o local em um pólo turístico nos Estados Unidos e Europa. "Todos eram estrangeiros. Dois americanos e um argentino que vivia em Barcelona. Saí da redação com a  ordem de voltar com três VTs de um minuto cada. Ponto. Era mais um registro factual do que qualquer outra coisa. Mas quando cheguei na reserva ecológica as idéias foram saindo da minha cabeça e, por minha conta, comecei a produzir uma série. O resultado disso foi uma série especial com 8 VTs de cinco minutos cada sendo que o Fernando Ferreira, chefe de redação da emissora, ainda abriu mão de um outro. Aquele material deu uma chacoalhada geral porque, de repente, apareceu um cara de São Paulo que estava disposto a trabalhar até de madrugada. Esse foi o segredo do sucesso da pauta. Aprendi na RBS TV, quando era repórter do Núcleo Globo de Televisão na Fronteira Oeste, exatamente na divisa do Brasil com a Argentina e Uruguai, que repórter bom é aquele que volta com o esqueleto do texto fechado. Então, conforme mexia nos textos, ao invés de dormir, as matérias iam se formatando na minha cabeça. Gravei muitas passagens. Quando estava voltando e disse para o meu repórter cinematográfico que teríamos pelo menos 9 VTs, ele não acreditou. Era a primeira vez que trabalhava comigo e de cara disse que eu estava louco. Foi o início de uma grande, fiel e verdadeira amizade?. 
Tarcisio Lima, em 2007, era o cinegrafista de rede da TV Anhanguera. Com amplo domínio das câmeras já havia veiculado o seu trabalho em todos os telejornais da TV Globo, incluindo o respeitável Jornal Nacional. "O Baianinho era um cara muito criativo. Excelente cinegrafista. Um dos melhores que já trabalhei até hoje. E olha que tive a oportunidade de pegar muito cinegrafista bom nas minhas mãos. Só que o Baianinho tinha aquela coisa de trabalhar a imagem e ao mesmo tempo era um cara ágil. Sempre gostei de fazer passagens movimentadas. Então ele me dizia, fala o texto e casava a sequencia de imagens rapidamente. Uma das matérias que fiz no especial do Jalapão, eu fiquei todo o texto parado. Apenas fiz um ou outro gesto. Só que o cara saiu rodando com a câmera e quando vi a passagem estava em movimento sem que eu tivesse dado um passo para a frente. Em outra, nas dunas do Jalapão, enquanto caminhava e falava sobre a Serra do Espírito Santo, atrás, ele tirou o foco por alguns segundos do meu rosto, foi ao plano de fundo e quando voltou eu já estava virado para o outro lado falando daquele imenso deserto. Vi uma cena muito parecida com essa em um filme da Julia Roberts. O cara era diferenciado. Tive a sorte de começar na TV Anhanguera com uma pauta especial e um repórter cinematográfico muito bom. Já aconteceu, por exemplo, de não me identificar com o cinegra e quando isso acontece o trabalho não fica a mesma coisa porque a relação de um repórter e um cinegrafista funciona mais ou menos como um casamento. Se não rolar a química, então, está na hora de trocar de equipe.?
A série especial marcou o aniversário de 19 anos do Tocantins e foi exibida praticamente dois meses depois, em outubro, coincidentemente, quando Chico Santo completou 28 anos. "Passar dos 27 para mim foi um grande alívio porque sempre vivi no limite. Na noite do dia 2 para o dia 3 de outubro fiquei até às 2 horas da manhã com o Cláudio de Paula editando algum dos VTs especiais. Nunca agradeci ao Claudinho por isso. Ele poderia muito bem ter feito o material nas coxas e finalizado a reportagem em uma hora. Não foi o que aconteceu. Ele me pediu para que eu o deixasse finalizar o Bom Dia Tocantins primeiro para que em seguida ficássemos o tempo que fosse na edição do VT. Como o Baianinho levou exatamente 11 fitas de imagem, todas decupadas por mim, então, eram muitos os detalhes que poderiam passar em branco mas que não dariam o mesmo resultado. O Claudinho ficou, comigo, pelo menos duas horas para fechar o VT. Até hoje lhe devo uma garrafa de Jonnie Walker. Mas, no final das contas, não é a toa que o nome dele está no livro do Jornal Nacional.?
A matéria sobre o rafting, a última da série foi veiculada no sábado 5 de outubro de 2007. Coincidentemente, com um doce sabor do destino, em um telejornal apresentado por Rogério Silva. "Assisti de casa e quando liguei a televisão e vi o Rogério na bancada, um cara que considero um irmão, mas que na época era o chefão para mim ? ainda continua a ser para os outros que estão em Palmas ? de cara pensei em como sou sortudo. O Rogério Silva não tem mais o costume de apresentar jornais. Só em último caso. Foi o que aconteceu naquele sábado. Para mim, uma grande honra porque, se tratando de televisão, mesmo com as produções para a SporTV, as reportagens internacionais do núcleo Globo na Argentina e Uruguai, as dezenas de matérias de Globo News, enfim, aquele foi o material que mais tenho orgulho dentro do telejornalismo.? Em seu texto editorial, Rogério Silva destacou o repórter que ele mesmo ajudou a decolar pelo mundo. "Chico de Assis, Tarcisio Lima e a equipe da TV Anhanguera, passou 6 dias viajando pelo Jalapão. Ao longo dessa semana você acompanhou todos os passos dessa aventura, do principal cartão postal do Tocantins. E hoje, comemorando os 19 anos do Tocantins,  você confere a última reportagem especial da série.?
Mais tarde o material foi enviado por malote para a redação da Globo no Rio de Janeiro. "Por algum motivo que desconheço as fitas chegaram amassadas. Como sempre fui um cara muito antenado, conversei com a Kiki por telefone e tão logo tomei ciência do fato, certamente um infortúnio do acaso, providenciei, por minhas próprias mãos, que as reportagens fossem reenviadas ao Rio de Janeiro. A Kiki elogiou demais o trabalho. Não comentei nada com ninguém na redação porque o produtor de rede poderia ficar com ciúmes. Mas não há nada nessa vida que não se resolva quando se tem um telefone nas mãos. Fui extremamente elogiado pela Kiki e, mais uma vez, nestas coincidências da vida, tive a sorte de estar em São Paulo, na sala de estar da casa dos meus pais, na noite em que o Via Brasil exibiu um dos VTs. Fiquei tão feliz que saí na mesma hora e comprei uma televisão da Sony de tela plana para os meus pais. Foram eles que me botaram na televisão e eles mereciam me ver em uma TV decente?.
A coroação do material, entretanto, não terminou com a Globo News, conforme a própria carreira de Chico Santo, tempos depois, se encarregaria de provar. "Deu Globo Internacional. Tive a oportunidade de cobrir três terremotos, uma Copa do Mundo, outra das Confederações, dezenas de jogos da Seleção Brasileira pela África, Europa e toda a América do Sul. Mas, Globo Internacional, com passagem e tudo, definitivamente, não é para qualquer um. Foi o melhor trabalho que fiz, me perdoem todas as outras grandes empresas que passei, incluindo o Terra, Jornal do Brasil, Jornal O Dia e RBS TV. É que Globo Internacional é outro papo. Fiquei sabendo por uma amiga da TV Record, a editora Deise Oliveira, que estava na Venezuela quando me viu. Foi ela quem me ajudou naquele projeto de 2002 que acabei carimbando a minha entrada na imprensa, com a Globo-RJ, graças ao bom coração do então diretor de esportes Telmo Zanini. Ter veiculado um trabalho desse porte em uma empresa como a Globo Internacional, para o mundo inteiro ver, vale muito mais do que um bilhete premiado. Mesmo porque, você pode até ser um sortudo, mas, se não for competente, na Globo Internacional, sem chances. Valeu Jalapão.?
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