Maria Eulália de Luna

Pedagoga, esposa de Cláudio de Luna
Maria Eulália Reis Carvalho de Luna faleceu no dia 5 de março de 2011, aos 77 anos, vítima de falência múltipla de órgãos, em decorrência de câncer.
Segue, abaixo, a descrição detalhada e emocionada de seu filho Márcio de Luna, reproduzida na íntegra:
A história da Dona Maria Eúlália Reis Carvalho de Luna, Dona Lalá para quase todos, e em especial para mim, por ser minha mãe, resume-se em 77 anos de vida de muita luta, dedicação, valores, educação e principalmente amor.
Nascida em 27 de fevereiro de 1934, de família tradicional descendente dos barões de café dos primórdios de São Paulo, teve sua adolescência atrapalhada pela perda aos 15 anos, de sua mãe, vítima de câncer de mama. Seu pai era médico, Dr. Aureliano Borges de Carvalho, o qual a partir de então dividiu a criação de sua filha com suas irmãs e cunhadas, tias da Dona Lalá.
Estas, muito tradicionais, a matricularam em um colégio francês tradicional da época, chamado Des Oiseaux . Sempre foi muito bonita, e já fazia sucesso em sua adolescência. Entre os pretendentes, houve um muito curioso, o qual Claudio de Luna, com quem posteriormente se casou, sempre tirava um sarro. Não vou citar o nome do pretendente, um industrial da área petrolífera, mas toda vez que ele a convidava para sair, perguntava a cor do vestido que ia usar. Momentos depois aparecia na casa dela com um carro da cor correspondente ao vestido.
Mas esse não era o tipo de atitude que conquistava seu coração. Tempos depois, conheceu Claudio de Luna, um radialista recém chegado do interior de Minas Gerais com 2 ternos e 1 par de sapatos, uns 20 contos de réis no bolso, que posteriormente fora a se tornar apresentador de televisão e advogado, com o qual iniciou um relacionamento. Ela morava ao lado do local de trabalho dele, a extinta rede Tupi de televisão, e seduziu o coração do homem que havia apostado com seus amigos de televisão (Blota Júnior, Jota Silvestre, Lima Duarte, entre outros) que Lalá seria sua.
E foi, até o fim da vida, casando-se com ela 15 anos depois. Cláudio era indubitável em seu valor e talento, mas Lalá fez jus ao ditado em que por trás de um grande homem, sempre existe uma grande mulher. E que mulher.
Formada em pedagogia, foi pioneira do ensino municipal, fundadora da instituição que hoje conhecemos como a administradora de todas as escolas e instituições ligadas ao ensino da Prefeitura de São Paulo.
Compôs inclusive, em conjunto com Cláudio, a letra e música do hino do jubileu de prata do Ensino Municipal de São Paulo. Tocava piano de ouvido, sempre foi a alegria da vizinhança que ia para a sacada do prédio ouvi-la tocar.
Foi, por muitos anos, diretora de uma escola no bairro da Brasilândia chamada Senador Milton Campos, em uma região muito violenta na época, o que não a intimidava. Cuidou e ajudou muitos jovens, sem perspectiva de vida, a se encaminhar na vida.
Em uma dessas atitudes sociais, fundou a primeira escola de samba mirim de São Paulo, a Rosinhas de Ouro, dissidente da Rosas de Ouro, em conjunto com o presidente Eduardo Basílio e seu irmão Edmundo, para tirar as crianças do crime e das drogas.
Ajudava tanto as pessoas, que as serventes de sua escola e empregadas que teve em sua casa a seguiram posteriormente por toda a vida, amparando-a em tudo o que foi preciso, desde companhia em sua posterior doença que levou ao seu falecimento, a qualquer tipo de favor que estava ao alcance delas. Elas referem-se a Dona Lalá como um exemplo de vida.
Assim como seu marido, nunca foi vista de mau humor. Nunca. Sorriso e simpatia sempre estampados no rosto, e nos momentos de dificuldade, um olhar terno que fortalecia qualquer ser humano.
Tinha uma capacidade fora do comum de lidar com situações difíceis de maneira calma, e de lidar com as pessoas. De incentivar, consolar, e reverter situações difíceis, utilizando-se de uma psicologia incrível. Até sítio arquitetou de sua cabeça, com reconhecimento de revistas especializadas.
Aos 64 anos teve a triste notícia de que estava com câncer de mama. Com dificuldade, mas muita força de vontade, teve uma história de vitória sobre essa doença. Não que a tivesse curado, a doença na verdade parecia ter afetado muito mais ao marido do que a ela própria. Cláudio dizia que não se imaginava viver sem ela. Lalá começou naquele momento a passar pelo duro processo de tratamento, quimioterapias, radioterapias e assim por diante, que só quem vive de perto sabe o que é. 8 anos após a descoberta de sua doença, já com metástase óssea, Cláudio veio a falecer.
Mesmo já tendo cumprido o seu papel de esposa, persistiu e lutou por mais 4 anos e meio, para estar perto de seu único filho Marcio.
Tempos antes de falecer, recebeu junto com seu filho a notícia de que não haveria mais forma de se tratar o câncer, pois todos os tratamentos possíveis estavam se esgotando. Sem desistir, e acreditando que a batalha só termina a hora que acaba, Lalá viveu por mais 2 anos, em uma luta diária e difícil.
Faleceu dia 5 de março de 2011, de falência múltipla dos órgãos, rins, pulmão e finalmente coração. Foram 13 anos, já idosa, de luta, enfrentando quimioterapia e outros dolorosos tratamentos. Ficou na UTI por um dia, e seu coração só parou de bater no momento em que pode se despedir de seu filho.
Disto tudo, para mim, toda a família e amigos  que conviveram e conheceram Dona Lalá, fica fincado em nossos corações valores para uma vida. Mesmo tendo sua família sido relativamente desestruturada aos 15 anos de idade com a perda da mãe, mesmo tendo lutado contra o câncer durante 13 anos, e por tudo o que construiu em vida, provou o quanto é importante se manter, perseverar, constituir uma família e lutar por aquilo que se quer e ama.
Deixa uma lição de como devemos usar o nosso discernimento, bondade, amor, bom senso, trabalho, dedicação, seja a alguém que você ama, ou a algo que você trabalhe ou acredite, em prol do bem. Deixa provado, sem entrelinhas, que ser guerreiro na vida não é só celebrar as conquistas, muito menos se deixar abater pelas dificuldades que a vida nos traz, mas sim continuar lutando e cuidando daquilo que ama e acredita, tirando daí a verdadeira lição do que realmente vale a pena.
Sei que tantos elogios a D. Lalá neste texto são um pouco duvidosos pela autoria do mesmo (no caso minha). Porém, quem teve o prazer de conhecê-la, sabe que estou sendo até que sutil na interpretação desse ser humano tão maravilhoso que tive a imensurável sorte e o prazer de ter como mãe, ao lado de meu pai.
Dona Lalá,
Lalá Guerreira,
Lalá Esposa,
Lalá Mãe,
Lalá Artista,
Lalá Amor.
Levaremos você em nossos corações, orgulhando-a por toda a minha vida.
Marcio Reis Carvalho de Luna
Clique aqui e veja a página de Cláudio de Luna, seu esposo, na seção "Que Fim Levou?"
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