Loftus Versfeld pede aposentadoria

Chico Santo, bastidores da Copa do Mundo-2010

Paula Vares Valentim
jornalista responsável


Chico Santo, África do Sul - Era para ser diferente. Um estádio remodelado, confortável e capaz de atender a todas as exigências da FIFA. Poderia ser assim. Isso se o Loftus Versfeld, de Pretória, seguisse à risca o Estádio Olímpico de Berlim, utilizado como campo de concentração de Hitler durante a Segunda Guerra Mundial e palco do tetracampeonato mundial de futebol da Itália, conquistado na Copa do Mundo de 2006. Entretanto, o que se vê dentro do estádio que vai abrigar, entre outras seleções, a própria África do Sul, em nada lembra a transformação de um complexo esportivo destruído pelo tempo. "Tenho muito o que fazer. Ainda preciso erguer 10 torres de televisão aqui no Estádio?, diz o operário Moris Gomani, enquanto trabalha duro pelas arquibancadas do Loftus Versfeld. Há menos de 20 dias para a abertura oficial da Copa do Mundo de 2010, este é o cenário daquele que deveria entrar para a história como exemplo a ser seguido. "Estamos trabalhando a bastante tempo. Não paramos para nada. É preciso correr para deixar tudo isso pronto?, acrescenta. Motivo que poderia aumentar o orgulho dos sul-africanos em um país tão sofrido e repleto de superações. "Estamos felizes com a Copa. Será uma grande oportunidade para mostrarmos ao mundo um pouco da nossa rotina?, diz a estudante universitária Mukovhi Melkherana. Quando a bola rolar no próximo dia 13 de junho, na partida entre Sérvia e Gana, o Loftus Versfeld vai entrar para a história das Copas como o estádio de futebol mais antigo utilizado em um mundial.  Aberto ao público a mais de um século, possui uma capacidade para 50 mil pessoas. Ao todo são 107 anos de vida. Números, no entanto, que não deveriam, mas que permanecem visíveis junto às paredes e pisos da mais antiga relíquia do futebol. "A Copa do Mundo trouxe muito emprego para cá. Está sendo importante neste aspecto?, afirma o operário Ximene Malaggi, durante a restauração com cara de maquiagem do Loftus Versfeld.

Em um giro pelo interior do estádio, que recebeu a Seleção Brasileira durante as vitórias contra os Estados Unidos e a Itália na Copa das Confederações de 2009, é possível notar a falta de sincronia entre o planejamento civil e o calendário esportivo. Há entulhos por todos os lados. Tijolos permanecem encostados ao lado da linha de fundo e transformam o local em um autêntico pátio de obras. Pelas arquibancadas, as escadas são um desafio para quem se aventura a subir. O setor de imprensa ainda não foi montado. Os banheiros estão sujos e longe da modernidade vista em campos europeus. Assentos de plástico, absolutamente desconfortáveis, apesar de novos, dão ao Loftus Versfeld a sensação de ultrapassado. Aonde quer que seja, o que implicitamente pode se ouvir, é o pedido de aposentadoria que ecoa pelo tempo. "É o estádio mais velho da África. Fico feliz de participar dessa obra?, complementa Malaggi.
Seja como for, em meio a tantos problemas de estrutura, como a falta de estacionamento e vias largas e abertas, como a FIFA claramente tem pedido ao fritado Morumbi de São Paulo, fica a exceção em relação ao gramado. Verde, bem aparado e, ainda sem jogo, atletas e comissões técnicas terão todas as condições de trabalho dentro das quatro linhas. Um único ponto positivo entre um balanço certamente reprovado diante de um olhar sincero e mais apurado.

 

Home - Bastidores da Copa do Mundo 2010
ver mais notícias

Selecione a letra para o filtro

ÚLTIMOS CRAQUES