Laércio Pires de Arruda, o Lalá

Jornalista
Laécio Pires de Arruda, o Lalá, jornalista com passagem pelo Diário Popular, hoje Diário de São Paulo, que faleceu em 2012, mereceu uma emocionada homenagem do jornalista Rogério Micheletti, que segue abaixo, na íntegra:
por Rogério Micheletti
"Confesso que faltava coragem. Escrever sobre um amigo tão querido que partiu não é uma missão das mais fáceis. Laércio Pires de Arruda, o Laércio Arruda no meio jornalístico, o Lalá para os amigos nunca combinou com tristeza, morte.
Lembro-me de sua alegria contagiante quando entrava na antiga redação do Dipo (Diário Popular, hoje Diário de São Paulo), em 1997 e 1998. Costumava brincar de pega-pega, como uma criança, com o Antônio Leria, o Toninho Português, outra referência no meio. A cena era divertida. Quebrava um pouco o clima tão pesado que ronda a editoria policial.
 
Nunca pensei em escrever sobre crimes. Laércio, que tinha feito história também como repórter esportivo, foi um dos meus professores. Tinha habilidade para apurar informações e escrever sobre casos horrorosos com leveza, sensibilidade e coração.
O jornalista Laércio Arruda, o querido Lalá
Laércio era humano. Por isso, conseguia tirar leite de pedra. Até em velórios ele arrumava grandes depoimentos. Quem trabalha no meio sabe como é difícil extrair algo de pessoas em momento de dor. Lalá era carismático, bondoso. Nunca frio como a maioria. Eu sentia que ele ficava arrasado muitas vezes. Dizia: "É triste ver uma família sofrendo pela morte de alguém. E quando é criança então? Aí, machuca mais?, contava.
 
Mas Lalá tentava driblar todas as situações. E conseguia. Talvez pelo fato de ter sido um grande jogador na juventude (como diziam os amigos) isso se tornava mais fácil na vida.
 
Quando ele se demitiu do jornal, em 1998, chorei. Mas sabia que tinha feito a coisa certa. Lalá era muito alegre, cheio de vida. Os textos pesados da editoria policial não casava com o seu estilo bem humorado. Dedicou-se a dar aulas e fazer trabalhos em alguns outros jornais. Merecia ter sido mais famoso do que foi. Tinha muito talento.
Ficamos amigos. O tempo não nos separou. Ele sempre me ligava, brincando, tirando sarro de que tinha ouvido o meu nome na televisão e tal. Convidou-me diversas vezes para palestrar nas universidades em que lecionava. Enchia a minha bola nas apresentações. Mas eu sempre o chamava de mestre. E era mesmo.
Nos últimos meses, eu notei a ausência de Lalá. Minha vida estava conturbada. Cheia de mudanças radicais. Achei estranho a gente não se falar mais por telefone e nem por e-mails. O último, ele tinha me chamado para comer uma pizza, na Mooca, um de seus bairros preferidos.
 
Mudei de cidade, mudei de emprego, mudei de vida. Tudo rapidamente. E nesse mesmo período Lalá descobriu a grave doença, um tumor na cabeça. Não deu tempo de nada. Não deu tempo da pizza. Não deu tempo de se despedir. Não deu tempo de agradecer tudo o que ele fez por mim.
Mas tenho certeza de que Lalá não morreu. Como enfatizou o frei durante a missa de sétimo dia do grande amigo: "Ninguém morreu quando vive no coração de alguém?. Lalá vive no coração de muitos. No meu viverá sempre. Até eu parar na estação e reencontrá-lo feliz. Aí, comeremos aquela pizza."
Abaixo, republico um texto com assinatura de Laércio Arruda em homenagem ao amigo dele, Zezinho, em 2010. Foi no "Histórias do Pari?. Emocionante!
 
PREZADO AMIGO ZEZINHO
É preciso dar tempo ao tempo
E é o que se deve fazer, mesmo não querendo
O destino surpreende e não ilude
Conta com o tempo ao seu lado
O Milton Nascimento fala muito bem dos amigos.
Mas, ele não conheceu o Zé
Ele falava do Clube da Esquina
Mas o Zé reuniu os amigos de todas as esquinas
 
Como diz o Milton
Amigo é coisa para se guardar?
E o Zé está guardado na lembrança
Nos corações dos amigos de todas as esquinas
A lembrança do Zé vem fácil
De gravata, alinhado
Cabelo ajeitado, estilo britânico
Um cumprimento cordial
 
Assim era a figura do Zé
Na porta do cartório?
Sempre pronto para um papo
Um abraço sincero
Parecia um guardião, unindo casais
Testemunha ocular de caminhos traçados
Não esquecia os amigos
Alimentava as lembranças
O danado escolheu o nome certo
Doce Pari? com açúcar e com afeto
Foi um chute bem dado na bola do tempo
E nos times de rua com os amigos
 
Esse Zé era mesmo danado
Não esperou o tempo passar
Assim que o trem parou
Sem avisar, desceu na estação
A vida é uma viagem
E um dia desceremos em uma estação
Cada um no seu tempo, na sua missão
E com o Zé, no lado esquerdo do peito
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