Kruger National Park

O maior safari do mundo
Paula Vares Valentim
jornalista responsável
Um mundo selvagem, habitado por espécies raras e outras em extinção. Assim pode se definir o Kruger National Park, o principal cartão postal sul-africano, onde a natureza se impõe indiferente à vontade humana e ao instinto de sobrevivência animal. "É um lugar incrível. Justamente o local em que a National Geographic e a Discovery costumam gravar seus especiais sobre vida animal.? A reserva ecológica abrange 20 mil quilômetros quadrados de área e se estende pelos limites territoriais da África do Sul, Zimbábue e Moçambique. "Existe uma cidade com rede hoteleira, energia elétrica e lojas de conveniência, chamada de Skukuza. Fica dentro do parque, isolada por cercas de alta tensão. É o único local que você está realmente seguro. Se é que dá para dizer isso. Do resto, a verdade é que você está no meio da selva e se bobear se torna comida fresca?.  O paraíso selvagem faz parte de uma região inóspita e pouco povoada, comparada, em termos de grandeza, por biólogos e especialistas, com a Amazônia brasileira, em uma terra onde a expressão "matar o leão? significa, antes de qualquer outra coisa, a certeza de mais um dia de vida em meio ao clima de fuga e perseguição. "Você não pode deixar de ir. É o nosso grande tesouro?, disse-me a gerente de desenvolvimento Nomgqibelo Mdlalose, durante uma das 7 horas de voo que separam sobre Oceano Atlântico as cidades de São Paulo e Johannesburgo, ainda a caminho da Copa das Confederações. "Existem outros parques como esse, mas todos em menor dimensão. Nenhum deles tem a grandeza do Kruger. Se você for a ele, esqueça dos outros?, acrescentou a passageira africana de descendência Zulu, sentada na poltrona 71 H do vôo SA 223. Considerado o maior safári de aventura do mundo, o Kruger National Park atrai todos os dias centenas de turistas das mais distintas partes do planeta. Um ponto de encontro entre ambientalistas e caçadores de aventura em uma região onde a natureza fala a sua própria língua: "Respeite a sua vida. Em nenhum momento desça do carro. A chance de você voltar para contar história será bem maior?, orienta Nomgqibelo. 
Apesar de conhecido entre os quatro cantos do mundo, as condições de viagem ao parque não são das melhores. Doze horas de trem à bordo de um desses expressos de carga que habitualmente são vistos nas regiões metropolitanas de São Paulo e Rio de Janeiro com passageiros pendurados do lado de fora das portas, ou 5 horas de ônibus, em um veículo apertado e com poltronas não reclináveis, pelas vias de mão inglesa da África do Sul, separam o Kruger National Park da cidade de Johannesburgo, capital administrativa do país. "Nenhuma das duas opções apresenta segurança. O risco de roubo em um país marcado pela miséria é grande. Apesar disso, como habitualmente não ligo muito para essas coisas, encarei o desafio, partindo de Pretória de Trem com a volta planejada pela auto-estrada Road N-4?. 
A viagem começa na estação central de Park Station. São cerca de R$ 40,00 pela passagem. Funcionários da Shosholoza Meyl orientam a chegar meia hora mais cedo. Não há marcação de assentos. Quem sobe primeiro pega a janela. O bilhete diz pontualmente 19h40, mas o comboio só parte 40 minutos depois. "A fila se forma uma hora antes. Pelas regras, não é permitido fumar e tampouco transportar animais. Nada disso é respeitado. Na África do Sul, manda quem pode e obedece quem tem juízo.? De qualquer forma, se para ir ao Kruger National Park é preciso estar disposto a superar o perigo, então tudo bem. O importante é curtir. "Conforme o tempo passa, à noite ganha mistério do lado de fora. O frio aumenta durante a madrugada. Um grupo mais exaltado se encarrega de fazer a festa da boemia. Garrafas de uísque são comercializadas livremente entre os vagões. É impossível dormir.?
Apesar do desgaste, tudo isso vale à pena. Por volta das 6 horas da manhã o dia começa a clarear. À partir daí é possível observar pela janela a grandeza da África. O trem noturno, antes  marcado pelo clima de desconforto e insegurança, se transforma em um expresso de luxo diante da exuberância da cena. "Centenas de animais, entre elefantes e pássaros, ficam para trás entre o chacoalhar preguiçoso dos vagões. A linha ferroviária corta os limites do Kruger National Park. Uma cena incrivelmente maravilhosa.? Por volta das 8 horas da manhã o repórter chega ao povoado de Mkhuhlu, um vilarejo simples, situado exatamente no coração da África. É aí que a aventura começa. "`Bem vindo a selva`, brinca o ferroviário James Brandon. Fique tranqüilo que aqui é seguro. Nossa cidade está rodeada por cercas elétricas e estamos salvos de ataques de leões ou onças famintas. Tome cuidado, apenas com as cobras. Sempre tem uma naja por aí?, acrescenta o sul-africano, em uma rápida caminhada entre a estação local e a estrada, que mais parece uma rodovia de mão única cujo jargão popular se encarrega de ligar o nada ao lugar nenhum.
E, como na África do Sul o improvável é possível, vinte minutos depois de cruzar a região em uma lotação pouco aconselhada para turistas, o jornalista chega a portaria de entrada do Kruger National Park. Bernad Makhubele, vestido com um uniforme que reúne um pouco da moda Indiana Jones, é quem o atende: "Bom dia. Você está no maior safári do mundo. Algumas regras devem ser obedecidas. Leia essas instruções e deixe aqui os seus contatos para eventuais problemas. Esta é uma área selvagem e muito perigosa. Se não assinar aqui e não concordar com os termos acima terá de ir embora?, diz o recepcionista. Além de aceitar as regras, para ter direito a entrar no parque é preciso pagar o equivalente a R$ 35,00. Não é permitido, em nenhuma hipótese, circular a pé. O passeio obrigatoriamente tem de ser feito de carro. O único lugar onde se pode descer do automóvel com segurança fica a 20 km da portaria de entrada, no complexo hoteleiro de Skukuza, uma espécie de ponto de apoio para turistas com apartamentos de luxo, museus e lojas de conveniência.
"Temos tudo o que você imaginar por aqui. São muitas as espécies de animais que vivem nesta área. Elefantes, leões, cobras, zebras, rinocerontes, hipopótamos, crocodilos e girafas. Sempre estão por perto e se você tiver sorte terá a possibilidade de encontrar com um desses há poucos metros do carro. Não posso prometer nada, mas vamos ver o que conseguimos. Mas lembre-se, não se meta a ser o esperto?, complementa Makhubele. Sem dispor de um automóvel próprio, Chico Santo paga outros R$ 100,00 como diária para ter direito de fazer o safári. Richard Goldenwaliez é quem o leva ao selvagem mundo africano. "O veiculo de transporte é aberto, tipo um caminhão de guerra. Não possui janelas e tampouco grades. Trata-se de um truck com tração nas 4 rodas e velocidade máxima de 100 km/h?, relembra Chico.
 
Incrédulo, o repórter pergunta a Goldenwaliez se não há perigo de ser atacado por algum desses animais ferozes que habitualmente a equipe de jornalistas da National Geographic ou Discovery apresenta ao mundo em seus seriados. A resposta vem em um inglês misturado com o dialeto Sotho: "Os animais tem medo de nós. O barulho do motor ou o cheiro da gasolina, numa clara exceção aos elefantes, faz com que eles não se aproximem. A única coisa que você não pode fazer é abrir a porta e convidá-lo a entrar?. Dentro do Kruger National Park o encanto toma conta da alma diante do fascínio daquilo que poderia ser irreal. Por mais seguro que possa ser, não é sempre que alguém se depara com uma manada de elefantes irritada. Mais do que os quietos e treinados bichinhos do circo, o que se vê na África são espécies pouco amistosas e nada receptíveis: "É melhor andarmos. Quando se irritam não é um bom sinal. Se ficarmos aqui poderemos ser atacados?, acrescenta Goldenwaliez.
O Kruger National Park é composto por centenas de estradas que cortam a reserva. A maior parte delas é de terra, mas existem algumas asfaltadas. Em todo o percurso é possível se deparar com espécies de animais em extinção. São leões, leopardos, onças, girafas, jacarés, zebras, porcos e outras famílias que ao contrário de qualquer zoológico do mundo, vivem em seu habitat natural: "Veja, parece que encontramos os leões?, aguça o motorista. A cena é marcante. Pouco mais de 15 leões deitados à beira da estrada, descansando após a caça. O veículo se aproxima a uma distância de menos de 5 metros. "A adrenalina toma conta do corpo. O olhar fundo do felino se encarrega de dizer quem manda no local. Peludo, com juba grande e patas enormes, parece um gato de estimação. Todavia, quando se levanta para dar uma espiada no movimento o que se vê são turistas desencorajados pelo medo?. Goldenwaliez, tranqüiliza: "Sem problemas, ele não vai vir aqui. O mundo dele é diferente do nosso?. Relaxar, mesmo, somente ao lado das simpáticas girafas. Olhar tranqüilo, apetite aguçado e uma estatura de causar inveja. "Não é preciso ter receio de se aproximar do amistoso animal, diferentemente do que acontece junto aos pântanos onde estão os jacarés e rinocerontes, lado a lado, como se estivessem preparados para atacar ou fugir. Tudo depende do horário biológico de cada criatura. No caso das cobras, por exemplo, são vistas com mais facilidade durante à noite.?
Na visita ao maior safári do mundo, é possível ver de tudo. "São centenas de espécies livres de grades e soltas na terra. Dentro do Kruger National Park o homem ainda não se impõe diante da força da natureza. Estar em uma área tão fascinante desperta ainda mais o espírito de conscientização ambiental. Uma experiência incrível e capaz de alimentar a sede pela preservação da vida, que não por acaso, é considerada a maior riqueza de todo o planeta.? Com a matéria do Kruger Nationa Park fechada, Chico Santo retornou ao Brasil. Em São Paulo, sempre com sua agenda lotada, o repórter teve tempo, apenas, para lavar as roupas, fazer a barba e cair na estrada novamente. Começava, em agosto de 2009, a última temporada da Seleção Nacional do Brasil antes da abertura da Copa do Mundo de 2010.
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