Jaime Madeira

Saudoso jornalista
por Marcos Júnior. Colaboroaram: Jayme Madeira Neto e Marcos Barrero

O jornalista Jaime Madeira faleceu aos 52 anos, no dia 1º de setembro de 1978, em São Paulo-SP.

Nascido em São Paulo, no dia 1º de novembro de 1925, Jaime começou no jornalismo aos 16 anos, na redação do jornal "A Gazeta Esportiva".
 
Paralelamente ao jornal, trabalhou também na Rádio Bandeirantes-AM, onde foi responsável pela redação do programa "Marcha do Esporte", integrando o histórico "Escrete do Rádio", ao lado de Fiori Giglioti, Mauro Pinheiro, Ênnio Rodrigues, Luís Augusto Maltoni, Flávio Araújo, Fernando Solera, Borghi Júnior, Alexandre Santos e José Paulo de Andrade, entre outros, permanecendo na emissora do Morumbi até 1978, ano de sua morte.

Madeira era o tipo de jornalista completo, daqueles que conhecia cada setor da redação em que trabalhava, fazendo pautas, orientando repórteres, escolhendo manchetes e até organizando a diagramação do jornal.

Jame foi casado e teve três filhos (José Luis Madeira, Maria Teresa Madeira e Jaime Madeira Filho) e avô de oito netos: Jayme Madeira Neto (jogador de futsal), Juliana Madeira, Luana Madeira, Ricardo Madeira, Luiza Madeira, Flávia Madeira, Andréia Madeira e Fernanda Madeira.

Em 07 de abril de 2011, recebemos o e-mail Marcos Barrero, com uma descrição da carreira de Jaime Madeira:

Era assim na década de 70. Silencioso, ele parecia ter amortecedores nos pés. Deslizava pelos tacos descascados da redação de A Gazeta Esportiva, no terceiro andar do edifício da Folha de S. Paulo, na Alameda Barão de Limeira, sem ser percebido. Aparecia, de repente, diante dos colegas. Debruçava nas mesas de ferro, que tinham antigas Remingtons presas por parafusos, falava baixo com os repórteres e recitava instruções com a língua meio presa. Bigodinho fino, trazia um papel - em geral, lauda com matéria - na mão esquerda. A direita, invariavelmente, era reservada para o inseparável cigarro. Envolto em fumaça, ia e voltava dezenas de vezes todos os dias, no trajeto entre sua sala, nos fundos, ao lado do reduto do diretor Olímpio da Silva e Sá, e a redação, que ficava na frente, com as janelas de vidro voltadas para a rua, das quais se via a Praça Princesa Isabel e, mais lá atrás, a antiga e colorida estação rodoviária de São Paulo.

Naquela época, este homem - o jornalista Jaime Madeira - era o responsável pela editoria do interior de A Gazeta Esportiva. Comandava um pequeno exército de redatores e repórteres que mantinham os leitores informados sobre os esportes - principalmente o futebol - do interior paulista e de outros Estados. As comunicações eram difíceis. Os correspondentes funcionavam na base do telefone e do telex, para enviar as reportagens mais urgentes. O material mais frio, que podia ser publicado qualquer dia, vinha - na forma de texto e foto - num envelope pelos Correios. O então velho Jaime Madeira brigava como um leão pelo espaço de sua editoria no jornal, num embate sem tréguas com os editores Jorge Moreira Fernandes (um lisboeta, encarregado do futebol) e Yoshihiro Watanabe (o implacável nipônico incumbido dos esportes amadores).  

O introvertido Madeira, a essa altura, podia ser chamado de profissional multimídia ? caso o termo existisse na época. A partir do final dos anos 1950, havia trabalhado em agência de notícias, jornal, revista, rádio e TV. Ele chegou de João Ramalho, cidadezinha do interior paulista, nas imediações de Rancharia (terra do locutor Ferreira Martins e do jornalista Orlando Duarte, o Eclético) e foi morar no bairro da Penha, na Zona Leste paulistana. Arranjou emprego na agência de notícias Meridional e no Diário da Noite, ambos dos Diários Associados. Ficou lado a lado com o irmão também jornalista Belmiro Madeira. Anos depois, ingressou em A Gazeta Esportiva, percorrendo três endereços do jornal: Av. Cásper Líbero, Av. Paulista e, a partir de 1970, Alameda Barão de Limeira. Em seguida, deu um salto para a mídia eletrônica. Tornou-se produtor e redator do programa "A Marcha do Esporte?, na Rádio Bandeirantes AM. Integrou o histórico "Scratch do Rádio? ao lado de Fiori Gigilioti, Mauro Pinheiro, Ennio Rodrigues, Flávio Araújo, Luis Augusto Maltoni, Fernando Solera, Borghi Júnior, Alexandre Santos e o então imberbe José Paulo de Andrade. Na mesma casa, atuou também na TV.

Madeira nunca foi da linha de frente da reportagem. Em poucos meses na Esportiva, se transformou em secretário de redação da área de futebol ? o equivalente ao atual cargo de editor chefe. "Ele era um bom comandante e muito competente?, recorda Henrique Nicolini, que também foi secretário de A Gazeta Esportiva e organizou durante muitos anos, com uma equipe minúscula, a corrida de São Silvestre. "Ele era o homem da cozinha do jornal. Fazia a pauta, orientava os repórteres, escolhia as manchetes de primeira página, entre outros afazeres?, lembra Nicolini. "E, muito importante, lia, relia e corrigia os textos originais. Afinal, muita gente ali não era nenhum Machado de Assis?.     
Inspirado por Orlando Duarte, que acabara de desembarcar na redação de A Gazeta Esportiva, procedente do jornal O Tempo, Madeira começou a diagramar em vez de apenas paginar o jornal. Diagramar significava dar uma ordem estética a cada folha, enquanto paginar consistia apenas em despejar o material na página. Na época, não havia a figura do diagramador. Textos e fotos eram colocados de qualquer jeito nas páginas, subindo e descendo colunas, alinhadas uma ao lado da outra, até o fim. Quando sobrava matéria, o editor incluía um aviso no rodapé: "continua na página seguinte?. Orlando Duarte, que aprendera a organizar texto, foto e publicidade numa página com o extraordinário Hermínio Sachetta em O Tempo, criou na GE ? entre outras inovações - a segunda página apenas com artigos assinados e a bolsa de empregos (que agrupava os pequenos anúncios então espalhados por todas as páginas). Madeira assimilou as lições e passou a diagramar o jornal, página por página, proporcionando outras feições ao veículo fundado por Cásper Líbero.?Não me recordo quem foi, mas o apelido Timão dado ao Corinthians saiu da equipe de Jorge Madeira, na década de 1960?, revela Henrique Nicolini.     
De vez em quando, Madeira também assinava artigos e reportagens em A Gazeta Esportiva Ilustrada, bela revista dos anos 1960 comandada por Orlando Duarte. "Tínhamos uma equipe fixa pequena e o Madeira era um dos nossos colaboradores?, conta Orlando. "Naquela época, nossa amizade era muito forte?. Orlando diz ainda que Madeira era quieto demais. Isso, no entanto, não significava falta de pulso na chefia do jornal. "Ele podia ser classificado como um introvertido especial. Ficava na dele, mas sabia explodir e dar uma sonora bronca. Tinha comando?.
 
Madeira permaneceu em A Gazeta Esportiva até morrer nos anos 1980. Deixou um filho publicitário. Quase toda sua geração já desapareceu: Solange Bibas, Aurélio Bellotti, Caetano Carlos Paoli, José Antoniade Inglez, Milton Motta (pai do ex-tenista Cássio Motta), Rubens Monzillo, Miguel Munhoz, Armando Títero, o Cacareco, fotógrafo palmeirense que não se continha e dava instruções aos jogadores no intervalo, dentro de campo. 

Em João Ramalho, onde nasceu, o único vestígio dos Madeira é uma rua que leva o nome do pai do jornalista, o português Antônio Madeira, ex-lavrador, um dos fundadores do lugar. A mãe, Maria Madeira, foi uma das mais afamadas parteiras locais nos anos 1940. Os pais de Jaime tiveram cinco filhos ? Antônio Filho, Arsênio, Alípio, Sílvio e Carmem. Os dois jornalistas, Jaime e Belmiro, eram filhos adotivos.    



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