Gilmar Fubá

Ex-volante do Corinthians

por Rogério Micheletti/colaborou Bruno Andrade

O voluntarioso Gilmar Fubá, o Gilmar de Lima Nascimento, volante do Corinthians entre 1996 e 2000, morreu em 15 de março de 2021, aos 45 anos, vítima de câncer.

Gilmar foi diagnosticado em fevereiro de 2017 com linfoma, um câncer (tumor maligno) que tem origem no sistema linfático. Em 23 de maio do mesmo ano, o Timão anunciou o retorno de Fubá ao clube, desta vez para atuar como observador técnico das categorias de base.

Nascido no dia 13 de agosto de 1975, no bairro de São Matheus, zona leste de São Paulo (SP), Gilmar superava as limitações técnicas com muito suor, o que o fez se tornar um jogador querido pela Fiel torcida.

"Eu tenho um carinho muito grande da torcida, dos Gaviões. Sei que eles me amam até hoje. E eu também sinto o mesmo por eles", diz Gilmar, que é casado e pai de dois filhos.
Titular na equipe comandada por Nelsinho Baptista no Paulistão de 1997, o volante deu sua contribuição para o título conquistado pelo alvinegro naquele estadual.

Gilmar Fubá fez um dos gols na vitória sobre o Santos na fase final. "Na verdade, eu fui lançado no time principal pelo técnico Valdyr Espinosa, depois que o Zé Elias foi embora para a Alemanha. Mas antes eu já tinha treinado muitas vezes no time profissional. Uma das primeiras vezes foi em 1995, joguei de zagueiro e marquei o Viola. Acho que fui bem", diz.

Apesar de ser alto e forte, as contusões o perseguiam. O meio-campista ficou várias vezes no departamento médico corintiano, mesmo assim foi útil no elenco bicampeão brasileiro em 1998 e 1999 e Mundial da Fifa em 2000. Deixou o clube no mesmo ano da conquista internacional para defender o Fluminense.

Não conseguiu sucesso nas Laranjeiras. Aliás, Gilmar lamenta até hoje sua passagem pelo Tricolor carioca. "O Fluminense é um grande time, mas eu tive que pagar para jogar. Foi muito ruim. O caso está na justiça", comenta o volante, que, em seguida, retornou ao futebol paulista para vestir as camisas do Rio Branco de Americana e da Portuguesa Santista. Em 2004, Gilmar Fubá assinou contrato com o Schalke 04, da Alemanha, mas não teve muitas oportunidades na equipe da Europa. Também teve meteórica passagem pelo Hyundai, da Coréia.

Voltou ao Brasil para defender o Noroeste de Bauru, onde teve como companheiro os ex-corintianos Maurício (goleiro) e Luciano Bebê (meia-atacante). Contribuiu para o Norusca retornar da Série A do Paulistão em 2006.

Depois de defender o Criciúma (SC) no segundo semestre de 2005, o raçudo meio-campista foi jogar no Al Ahli, do Catar. "Não conseguia entender nada do que falavam lá. Mesmo assim, os jogadores me respeitavam. O Oswaldo de Oliveira, que era o técnico, não entendia direito como eu me comunicava com os jogadores. Nem eu. Mas eu consegui até ensinar até algumas palavras e frases para os jogadores de lá, tipo: "Está dando Migué" ou "O bicho tá pegando", conta o alegre Gilmar Fubá.

Depois do Catar, jogou ainda no Noroeste e em 2008 foi contratado pelo Red Bull Brasil, clube recentemente fundado e que tem como sede a cidade de Vinhedo (SP).
 
O apelido:

A origem do apelido "Fubá" retrata a dificuldade que Gilmar teve na infância. O humilde garoto cresceu tomando mamadeira de fubá. "Vinha muito fubá na cesta do meu pai. O leite era mais caro. Por isso, eu tomava muita mamadeira de fubá. Hoje, fubá, só na polentinha", brinca o volante.
 
Jogos pelo Corinthians:
 
Com a camisa do Corinthians, Gilmar realizou 131 partidas (61 vitórias, 33 empates e 37 derrotas) e marcou 37 gols, conforme mostra o "Almanaque do Corinthians", de Celso Unzelte.
 
A arma:

Revoltados com a eliminação do time na Libertadores da América de 2000, alguns membros de torcidas organizadas do Corinthians invadiram o Parque São Jorge e foram cobrar de alguns jogadores, principalmente do atacante Edilson. Gilmar, que tinha um revólver em sua BMW, mostrou uma arma quando a confusão acontecia no estacionamento do clube. Sempre bem humorado, o volante tenta até hoje explicar a situação.

"O Fernandinho Fernandes (repórter) me viu chupando uma bala e perguntou se eu podia lhe dar uma. Eu, brincando, abri o meu carro e mostrei que tinha outro tipo de bala. Tinha porte de arma na época. Foi só isso. Jamais atiraria em alguém. Acho que a coisa não foi bem interpretada por um outro repórter", brinca o volante.

Em 1º de abril de 2017 o UOL publicou matéria sobre Gilmar Fubá, assinada pela repórter Luiza Oliveira, que segue abaixo, na íntegra:

Gilmar Fubá revela ajuda de R$ 1 milhão e celebra melhora: `Me deram 6 meses de vida´

Gilmar Fubá nasceu de novo. O ex-jogador do Corinthians descobriu que sofria de um câncer na medula óssea e chegou a ter um prognóstico de apenas seis meses de vida. Hoje, ele celebra a recuperação que surpreendeu até os médicos e mostra muita gratidão aos amigos que estão ajudando com uma gorda contribuição de até R$ 1 milhão pelo tratamento.

O ex-atleta já completou quatro ciclos da quimioterapia e passou pela fase mais difícil do tratamento. Hoje, duas semanas após receber alta, ele se mostra sorridente e já foi até acompanhar o futebol dos amigos. Mas a situação era extremamente grave.

"Eles ficavam com medo de falar para mim e para a minha esposa, mas os meus amigos sabiam de tudo. Eles me deram seis meses de vida porque estava muito alastrado, meus ossos estavam todos estourados. Ficaram com medo de falar para mim", conta. "Diziam: `quem vê sua tomografia e não vê você, pensa ou já morreu ou está em coma".

Hoje, os médicos se mostram surpresos com a recuperação. "Os médicos mesmo falam: `você é mutante´. Desde o começo, eu estava com o rim parado. A médica falou que eu tenho 15 anos aqui e nunca vi uma pessoa reagir na primeira quimioterapia igual você reagiu. Seus ossos estavam todos estourados".

Gilmar Fubá sofreu com a doença por dois anos sem nem mesmo perceber. Ele descobriu que tinha um linfoma após contrair uma gripe e começar a passar mal. Chegou a ficar quatro dias de cama com vômitos frequentes. O médico do Corinthians Joaquim Grava ficou preocupado e o levou ao hospital São Luis, na Zona Sul de São Paulo. Lá, viram que ele tinha dois caroços e prontamente indicaram uma biopsia. Em 15 dias, ele teve o diagnóstico assustador.

Gilmar só conseguiu a recuperação milagrosa graças a ajuda dos amigos. O tratamento particular é muito caro e os custos já passam de R$ 1 milhão. Ele teve a ajuda fundamental de um amigo que doou R$ 700 mil para o tratamento.

"O tratamento é muito caro. Porque o convenio não cobre tratamento de câncer, de ninguém, você entra na justiça para brigar. Por isso que morre, não tem como, o Beto da Kalunga já gastou, em dois meses, R$ 700 mil comigo no hospital São Luis. É meu amigo. Falou: `Gilmar, descansa, quero que você e sua esposa estejam bem. Os melhores médicos vão tratar você´. Ele chamou os medico:`oh... eu não quero saber quanto é, não quero saber de onde vem a medicação. Se for preciso, eu levo ele para os Estados Unidos, eu quero ver meu amigo bom. Não quero saber preço, não precisa me ligar, o que estiver precisando, faz´. Sempre foi meu irmão, mas agora. Tem amigo que é melhor que irmão", revelou.

"Tem medicação que eu tomo aqui, que eu tomo na barriga que é importada. Se fosse no SUS essa medicação já não vinha e é a que eu preciso para o meu tratamento. No SUS tem uma só. Existem 80 tipos de câncer, cada câncer é tratado com uma medicação. No SUS eles dão uma medicação só, única, se servir para o seu câncer, amém. Se não servir, morre. É mais um que vai morrer. Por isso que morre o povo".

Mas os custos do tratamento de Fubá não param por aí. Ele conta que ainda terá que fazer pelo menos mais dois anos de tratamento, incluindo uma cirurgia na medula.  Agora, alguns ex-jogadores do Corinthians como Dinei, Vampeta e Muller estão estudando fazer um jogo beneficente para ajuda-lo.

A ideia é fazer um jogo preliminar antes da partida entre Corinthians e Chapecoense, na estreia do Campeonato Brasileiro, na Arena Corinthians. O ingresso deve custar R$ 60 e 10% será destinado ao tratamento.

Gilmar demonstra preocupação com os custos do tratamento porque sabe que não poderá ser bancado pelos amigos durante toda a vida e não vem tendo uma situação financeira tranquila. Agora, ele e a mulher estão sem trabalho. A esposa se dedica integralmente ao marido, e Fubá não tem mais rendimentos porque vivia de presenças em eventos ligados ao futebol.

Ainda assim, ele só tem a comemorar. Além da recuperação, tem a família ao seu lado e se apegou à religião. Antes da doença, ele conta que viveu momentos difíceis por ter se perdido noite. Havia deixado a família, se afastado até dos filhos e se afundado.

"Eu estava só afundando. A primeira coisa que eu perdi foi a família, eu fui casado vinte e poucos anos e do nada eu saí de casa. Saí de casa, levei minha roupa. Minha mulher perguntou: `por que?´. `Porque eu não quero mais, não gosto mais de você´, e saí de cada. Ai perde emprego, vai perdendo as coisas, tive que vender dois apartamentos nessa fase para me manter, manter a casa da minha família. Eu já não queria mais trabalhar, a noite já não deixava mais eu trabalhar, esses compromissos assim (jogos em eventos) eu já perdia. Com mulher, com tudo, bebida. Não acordava cedo, porque chegava 8h, 9h em casa e ia só afundando, afundando e você não tem essa visão. Você está indo para o abismo e não vê", conta ele que hoje se diz agradecido.

"Teve dia no hospital orando: Senhor, muito obrigada por você ter colocado essa doença na minha vida. Porque se não fosse a doença, eu estaria perdido ainda".

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Pelo Corinthians:

Atuou em 131 jogos, sendo 61 vitórias, 33 empates e 37 derrotas.

Fonte: Almanaque do Corinthians, de Celso Unzelte

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