Edir Alves

Ex-zagueiro e amigo de Pelé

Sobre o ex-zagueiro Edir Alves, leia o trabalho do competente jornalista Fernando Alécio, repórter em Itajaí-SC e correspondente da revista Don Balón (Espanha) no Brasil. O texto originalmente foi publicadono jornal "Diário do Litoral".
Edir Alves, o amigo do Pelé, ex-zagueiro do Marcílio Dias e do Barroso fala sobre sua carreira e sua amizade com o Atleta do Século. Todo mundo sabe que Pelé iniciou a carreira no interior de São Paulo, precisamente na equipe juvenil do Bauru Athletic Club, o Baquinho.
O que pouca gente sabe, porém, é que o craque daquele time não era o negrinho que viria a se tornar o Rei do Futebol, mas sim um volante alto, forte, que jogava com raça e ao mesmo tempo com classe. E que fez história no futebol de Itajaí, onde reside até hoje.
Edir Alves, 66 anos, tem muita coisa para contar. Filho de Crizanto Alves, jogador do Noroeste de Bauru, Edir nasceu naquela cidade em 9 de abril de 1939. Depois de passar pelo juvenil do Baquinho, foi para o Noroeste, onde conquistou uma vaga no time titular aos 17 anos e não tardou para despertar o interesse de grandes equipes: teve passagens pelo Santos, Portuguesa de Desportos e Palmeiras.
Nos anos 60, Edir resolveu provar a sorte no Sul do país. Jogou no Londrina e depois no Coritiba, ambos do Paraná. Mas o seu destino estava traçado com Santa Catarina. Certo dia, dirigentes do Marcílio Dias visitaram o Coxa em busca de reforços para o Marinheiro. "Eles precisavam de um zagueiro. Eu não era zagueiro, era volante, mas o então treinador do Coritiba disse que eu jogava em qualquer posição e o Marcílio Dias me contratou", recorda.
Era o ano de 1964. Edir Alves chegou a Itajaí e logo se transformou num ídolo da torcida marcilista, graças ao seu bom futebol e ao seu bom caráter, que não foi abalado nem quando trocou o Marcílio pelo seu maior rival, o Clube Náutico Almirante Barroso. Edir explica como aconteceu. "Era a semana do início do campeonato e eu estava me preparando com meus companheiros do Marcílio. Depois do treino, fui procurado por um homem. Ele disse que o diretor do Barroso, seu Hélio Caldas, queria falar comigo". Edir conta que, mesmo ressabiado, foi ao encontro do cartola do clube rival, num restaurante onde hoje funciona o hotel Caiçaras. "Seu Hélio Caldas me fez uma proposta irrecusável. No princípio não acreditei que ele pagaria o que prometeu, mas ele colocou o dinheiro vivo em cima da mesa". Edir não teve outra opção. "Conversei com os diretores do Marcílio e eles entenderam, pois não tinham como cobrir aquela oferta e eu era um profissional", diz. "O curioso é que treinei a semana toda com o Marcílio e no domingo joguei pelo Barroso".
Mesmo tendo deixado o Marinheiro para jogar pelo rival, Edir continuou sendo respeitado pela torcida rubro-anil, sentimento conservado até os dias de hoje. "As pessoas me paravam na rua, mas eu explicava e elas compreendiam. Afinal, sabiam que eu era um profissional. Nunca tive nenhum problema com a torcida, seja no Marcílio ou no Barroso".
No Almirante Barroso, Edir Alves jogou dois anos (1965 e 1966), antes de ir para o Palmeiras de Blumenau e encerrar a sua carreira profissional no Flamengo de Caxias do Sul (RS), o atual Caxias. Depois de pendurar as chuteiras, Edir Alves continuou jogando futebol nas peladas da cidade. Só parou neste ano, por culpa do joelho. "Levei uma pancada forte no joelho direito e ele começou a doer sempre que eu jogava, por isso resolvi parar de brincar. Afinal, já tenho 66 anos". Por outro lado, ele não quis mais saber de se envolver profissionalmente com o esporte. Teve uma rápida experiência como treinador do Barroso, ainda em 1970, mas depois não se interessou em seguir a carreira de técnico.
Amigos de infância, Edir Alves e Pelé não se desgrudavam. Aprontavam sempre juntos as traquinagens pelas ruas de Bauru. "Fazíamos tudo juntos. Desde jogar bola até roubar laranja no terreno dos outros. Eu não comia nada sem dividir com ele e vice-versa", lembra Edir. Considerado o melhor jogador do Baquinho, onde jogava com Pelé na categoria juvenil, Edir lembra que foi levado para o Santos antes mesmo que o amigo. Porém, sua passagem pela Vila Belmiro foi curta. "Fiquei poucos meses lá, porque só treinava e não jogava. Preferi voltar para Bauru", justifica. A prova da amizade entre os dois está imortalizada no filme Pelé Eterno, que retrata a trajetória do Rei.
Lançado em 2004, além de mostrar 400 gols do ex-jogador do Santos, o filme também apresenta depoimentos de amigos. As palavras de Edir, falando sobre fatos engraçados da infância de Pelé, são as que mais aparece. "Um dia estava na minha livraria e o telefone tocou, Era o pessoal da produção do filme. Me procuraram porque em Bauru, o Aniel Chaves, que também foi meu amigo de infância, disse que para falar sobre o Pelé teria que ser comigo". Ele foi para São Paulo, com tudo pago pela produção, e gravou seu depoimento. "Fiquei surpreso, pois não imaginava que iriam usar tanto a entrevista que fizeram comigo". Apesar da dificuldade em entrar em contato com Pelé, Edir não faz críticas ao amigo. "Sempre quando vou a Bauru participar de encontros com os amigos antigos, o pessoal reclama do Pelé porque ele não vai. Mas ele é um cidadão do mundo, tem muitos compromissos. Acredito que ele até tenha vontade de rever as pessoas, mas a agenda dele é complicada", defende. O coração bateu mais forte por "Itajaí"
A razão pela qual Edir decidiu se estabelecer definitivamente em Itajaí atende pelo nome de Sônia. Ele a conheceu quando jogava no Marcílio Dias e depois que encerrou a carreira em Caxias do Sul, voltou a Itajaí para casar. Pai de três filhos, Edir continua apaixonado por futebol, mas lamenta as diferenças entre a modernidade de hoje e o romantismo de sua época. "Atualmente, o treinador arma o time para não perder". Segundo ele, na época jogador de futebol ganhava bem em Itajaí, mas não levava uma vida de luxo. Ele morava nas dependências do próprio estádio Hercílio Luz, mas era um dos homens mais elegantes da cidade. "Jogador de futebol tinha status na cidade, ganhávamos mais que os bancários, os funcionários do porto, das madeireiras".
Ao contrário de muitos jogadores de sua época que hoje passam dificuldades financeiras, Edir soube aproveitar o dinheiro que ganhou no mundo da bola. Ele é dono de duas livrarias em Itajaí, uma na avenida Sete de Setembro e outra na Univali. Ele fica triste ao saber da situação de alguns ex-companheiros e procura preservar as amizades. "É o que eu mais prezo nesta vida. Amizade não tem preço".

E no dia 6 de janeiro de 2007, recebemos pelo correio as fotos aqui publicadas. No envelope, observamos também as linhas abaixo, escritas pelo próprio Edir Alves:
"Nasci em Bauru (SP), no dia 9 de abril de 1939, e hoje moro em Itajaí (SC).
Tive o privilégio de viver a minha infância ao lado do "Rei Pelé?, envergando as camisas dos mesmos times que ele jogava em Bauru. Jogamos no América do Pico, no Radium do Frangão, no Bauro Atlético Clube (o Baquinho) de Valdemar de Brito e, finalmente, no Esporte Clube Noroeste.
Também tive a honra de ser convidado a participar do filme "Pelé Eterno?, onde prestei depoimentos sobre a infância do Rei em Bauru. Uma grande honra!"

ver mais notícias

Selecione a letra para o filtro

ÚLTIMOS CRAQUES