Dublin, a terra de Bram Stoker

Chico Santo, pela rota do Conde Drácula
Paula Vares Valentim
jornalista responsável

Uma cidade imperada pela preservação da arte e amor a boemia. Essa, sem dúvida, é uma das melhores definições que podem ser atribuídas à fascinante capital da Irlanda. Mundialmente famosa por abrigar em seu manto personagens que conquistaram o mundo diante da própria inspiração, Dublin reúne em si algumas das grandes características que fazem do povoado de colonização viking um dos mais exuberantes centros turísticos da Europa. "É um lugar seguro e muito visitado dentro da Europa. O irlandês se orgulha por ser um povo alegre e conhecido pela hospitalidade aos turistas. Possuem uma excelente cerveja e alguns dos principais licores do mundo. Talvez por isso passem boa parte das noites trancados em pubs.? Terra natal de Abraham Stoker, a cidade apresenta às margens do Rio Liffey um pouco da modernização presente no clima de desenvolvimento europeu sem perder o romantismo colonial de suas praças e construções antigas: "Há um cuidado muito grande para fazer com que a cultura irlandesa seja preservada através das gerações. É a grande riqueza da Irlanda.? Nas ruas de Dublin, a sensação de dúvida entre o futurismo e o saudosismo prevalece na mente de quem vai a Europa em busca de um banho cultural. "Os veículos com motores possantes, designers modernos e acessórios luxuosos, na maioria das vezes acabam despercebidos diante do charme das carruagens: "As pessoas adoram esse tipo de passeios. É um dos grandes atrativos de Dublin.? A região é conhecida também por ser a terra do U2, uma das bandas mais cobiçadas da música pop: "Por uma série de razões, eles conseguiram um equilíbrio bastante difícil na música que é aliar boas composições e temas complexos, com temas de amor, coisas cotidianas, com uma musicalidade acessível e refrões marcantes, ritmos dançantes, sem soar superficial ou descartável. Vale lembrar todo o trabalho de imagem feito em torno do grupo, principalmente focando o vocalista Bono Vox, que além de conquistar o público feminino, conseguiu se destacar ainda mais quando passou a atuar em causas beneficentes e se posicionar politicamente a favor dos menos favorecidos?, diz o crítico musical e locutor da Kiss FM Rodrigo Branco. O trio irlandês tem arrastado multidões por onde quer que passe, divulgando ao mundo, através de canções bem trabalhadas e vídeos milionários, parte da cultura irlandesa: "Bem, apesar de terem flertado fortemente com a música eletrônica dez anos atrás, e ainda manter esta influência, o U2 surgiu ainda na década de 70 e manteve a maneira de compor e tocar o tradicional Rock and Roll. Cada um dos membros é bastante competente em seu instrumento solo, mas funciona ainda melhor atuando conjuntamente?, acrescenta Branco. 

Para os fãs do U2, poucos lugares na Europa chamam mais a atenção do que o Hard Rock Cafe Dublin. Indiferente ao sentido da nada publicitária placa de sinalização de trânsito de passagem proibida colocada exatamente em frente à portaria principal do pub, quem entra pela porta giratória da casa se depara com uma verdadeira coleção de relíquias do grupo irlandês: "Lá está, entre outras raridades, o carro que a banda usou durante a turnê Zoo TV?, afirma Chico Santo.  O automóvel rosa, pendurado de cabeça para baixo no teto do bar, ainda mantém os faróis acessos, a pintura queimada e os bancos originais. Apesar disso, se não fosse pela marca U2, o automóvel estaria muito próximo de ser comparado a uma lata velha qualquer: "Só existe um desse em todo mundo e ele está no Hard Rock Café de Dublin?.
Exatamente neste cenário de pós-modernidade e cultivo da arte, Abraham Stoker nasceu em 8 de novembro de 1847. O autor da obra de Drácula, influenciado pela paixão à filosofia, entrou para o Trinity College da Universidade de Dublin em 1863, três anos antes de ser convidado para trabalhar em um castelo medieval: "Tanto é verdade que ele morou em Dublin, como também que ele teria demorado quase 10 anos para concluir o livro. Bram Stoker é um cidadão irlandês e, conseqüentemente, seu romance pertence a Irlanda e não a Inglaterra?, opina Chico. 

Pela ordem cronológica dos fatos, o trabalho começou a ser escrito em 1890 e só foi concluído em 26 de maio de 1897. Durante o período em que redigiu o manuscrito original, o escritor acompanhou o crescimento do único filho, fruto do romance vivido com a esposa Florence Balcombe. Fascinado pelo projeto que consumiu quase uma década de sua vida, Bram Stoker teria atribuído ao personagem Van Helsing algumas de suas características pessoais, o que até hoje ainda é motivo de mistério. "Dizem que Van Helsing seria a personificação do autor. Nada disso foi confirmado. Muitas pessoas comentam isso. Talvez ele tenha caçado a sua própria criatura.? O sucesso conquistado ao fim do século XIX, no entanto, não se repetiu durante o início do século XX. Apesar de ter publicado outras cinco obras ? nenhuma delas com o mesmo êxito de Drácula -  o escritor sofreu um acidente cardiovascular em 1905 e, vitima do mal de Brigh, doença que tem como causa o ataque aos rins, morreu na cidade de Londres em 20 de abril de 1912. Bram Stoker não chegou a ver o seu material interpretado nas telas do cinema. Somente dez após a sua morte, a primeira adaptação de Drácula foi apresentada ao mundo.  
Então, depois de percorrer toda a Ilha da Grã-Bretanha e cruzar o Reino Unido deixando seus passos também na terra natal de Bram Stoker, o repórter Chico Santo retomou sua aventura pela Rota de Drácula e de volta a cidade de Londres embarcou em uma viagem pelos vales sombrios da Europa. "Peguei um avião e fui para Bruxelas, na Bélgica. Para mim, uma cidade fria e não muito receptiva. Não sei se o fato de ser a capital da União Europeia influencia na maneira de trabalho da polícia local. Talvez o risco de atentados faça com que as autoridades fiquem mais atentas a possíveis atos indesejados. Não tive nenhum tipo de problema do tipo, mas vi muitas turistas serem abordados nas ruas. Vários deles foram obrigados a abrir as malas e mostrar tudo o que carregavam. Também notei um pouco de falta de simpatia por parte dos belgas. Não dá para generalizar, mas, apesar de ser um país extremamente bonito, deixou muito a desejar no que diz respeito à hospitalidade. Por essa razão, quando fui informado de que o centro histórico de Atenas, do outro lado da Europa, na Grécia, estava ameaçado por um incêndio de grandes proporções, não pensei duas vezes em pegar o avião e partir. Daquela vez, a única saudade que tive em relação a Bélgica foi a cerveja. Incrivelmente saborosa".
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