Copa do Mundo de 1998

O mundial de Zinedine Zidane
Por Chico Santo
Ao voltar a França, em 1998, exatas seis décadas depois do primeiro mundial sediado no país em 1938, na terceira edição da história das Copas, a FIFA apresentou em Paris um novo formato de competição com um total de 32 seleções classificadas, oito a mais do que em 1994, quando 24 nações estiveram presentes nos Estados Unidos. Ao todo foram montados oito grupos com quatro equipes. Defensora do título, a Seleção Nacional do Brasil não precisou participar das Eliminatórias do Mundial e a França, como anfitriã, voltou a disputar o torneio depois de ter ficado de fora das Copas de 1990 e 1994.
Entre as mudanças da FIFA que visavam, sobretudo, o aumento da média de gols, destacou a inclusão da "morte súbita? renomeada depois em "gol de ouro?. Pela regra, o time que balançasse a rede primeiro durante a prorrogação garantiria a classificação de seguir adiante na Copa do Mundo como aconteceu com a própria França, em 28 de junho quando o zagueiro Laurent Blanc despachou o Paraguai de  pelas oitavas-de-final.
O alemão Lothar Matthäus, experiente, bateu o recorde de participações em mundiais. Em sua quinta Copa, completou 25 jogos pela Alemanha, incluindo as finais de 1982, 1986 e 1990. O dinamarquês Ebbe Sand também se deu bem ao anotar o gol mais rápido de um reserva ao longo de todas as edições do torneio. Sand precisou de apenas 16 segundos para marcar contra a Nigéria. Robert Prosinecki, por outro lado, entrou para o livro de estatísticas da FIFA ao balançar as redes por dois países diferentes, tendo comemorado em 1990, pela Iugoslávia, diante dos Emirados Árabes Unidos, e, em 1998, contra a Jamaica com a camisa da Croácia.
O estreante time croata, a bem da verdade, conseguiu um surpreendente terceiro lugar e igualou a marca de Portugal de Eusébio em 1966. Não por acaso, Davor Suker se tornou o artilheiro da competição com 6 gols, um a mais que Gabriel Batistuta e Cristian Vieri. O croata não balançou as redes no duelo diante da Argentina do Batigol. A Seleção Portenha, por sua vez, entrou para a história justamente com Batistuta. Na vitória por 5 a 0 diante da Jamaica, a exemplo do que já havia ocorrido em 1994 contra a Grécia, o atacante anotou 3 gols e se tornou o primeiro jogador a comemorar a tríplice marca em uma mesma partida em duas Copas distintas. Redondo e Caniggia, duas das principais estrelas da Argentina, foram cortados da lista do técnico Daniel Passarella porque usavam cabelos longos. Carlos Alberto Parreira, treinador da Arábia Saudita, também chamou atenção. O então atual campeão mundial foi demitido em plena competição após perder as partidas contra Dinamarca (1x0) e França (4x0) ainda na fase de grupos.
Falta sorte teve a Azurra. Contra a França, nas quartas-de-final, depois dos fracassos frente a Argentina em 1990 e Brasil em 1994, a Itália conseguiu ser eliminada nos pênaltis pela terceira vez seguida. Tão ruim quanto o número preferido de Mário Jorge Lobo Zagallo em Paris. Na final do Stade de France em Saint-Denis, o Brasil perdeu o seu 13º jogo na história das Copas. Duelo que ficou marcado pela convulsão de Ronaldo.
O Brasil na Copa
Até hoje, ninguém sabe ao certo o que aconteceu com Ronaldo Nazário naquela tarde 12 de julho de 1998. "Cinco horas antes de entrar em campo, Ronaldo saiu do ar. Durante 30 segundos, perdeu a consciência, ficou sem respiração, enrolou a língua, teve a sensação de que iria morrer. Surgiram muitas hipóteses. Teria sido uma reação a medicamentos? Ou então uma convulsão causada por epilepsia? Afinal o que teve o melhor jogador do mundo??, relatou na época o repórter Roberto Kovalick para o Jornal Nacional.
Oficialmente, as primeiras informações, foram descritas na bancada do principal telejornal do país na voz de Chico Pinheiro. "Os médicos franceses que examinaram Ronaldinho, pouco antes da final da Copa, confirmaram hoje que o problema do jogador foi causado por estresse. Especialistas brasileiros concordam. A tensão deixou Ronaldinho em crise no dia da final da Copa do Mundo.?
De Paris, Tino Marcos relatou o caso: "Eram quase 3 da tarde quando Roberto Carlos saiu gritando pelo corredor do hotel. Ronaldinho, companheiro de quarto dele, acabava de ter uma convulsão. Trinta segundos de terror. Os primeiros a chegar no quarto foram Edmundo e Leonardo e chegaram a pensar no pior. Puderam imaginar até que Ronaldinho tivesse morrido. Imediatamente a comissão técnica levou Ronaldinho a uma clínica e acompanhado pelo médico Lídio Toledo fez vários exames.? O ex-médico da Seleção Brasileira explicou: "Eu exigi um exame neurológico apurado como tomografia, ressonância e eletro. Depois foi para o cardiologista e fez também o eletrocardiograma. Felizmente, tudo normal. E chegou-se a conclusão que ele teve essa crise devido ao estresse emocional.?
Ronaldo Nazário também deu a sua versão da história. "Eu não lembro direito. Eu sei que eu dormi, como o doutor disse. Parece que foi uma convulsão de 30 a 40 segundos, mas nesse período eu acordei cheio de dor no corpo. Mas, com o passar do tempo estava melhorando, as dores estavam sumindo, já estava mais relaxado, quer dizer, mas precisava dos exames?. César Sampaio, o primeiro a atender Ronaldo Názario, tirando a língua do companheiro da garganta, descreveu o comenos de pavor em entrevista exclusiva concedida ao repórter Chico Santo do Terceiro Tempo. "Uma cena, assim para nós, como leigos, uma cena que choca, esse estado convulsivo. Depois, logo chegou a maioria do grupo porque o Edmundo saiu gritando. Foi como o Zagallo disse. Nós não conseguimos. Isso foi no dia do jogo, depois do almoço. Não tivemos tempo hábil para equacionar tudo isso. O Zagallo, como colocou, preparou o Edmundo e o Ronaldo chegou da clínica dizendo que iria jogar. Logo numa final de Copa do Mundo. Até empresas dizem isso, em reuniões: É como final de Copa do Mundo. Então, emocionalmente, nós não conseguimos equacionar essa situação e fizemos um primeiro tempo horrível. Muito abaixo do que estávamos fazendo.?
Tino Marcos, em um flash direto da França para o Brasil, como enviado especial da TV Globo acrescentou mais detalhes a história: "Depois do grande susto e já recuperado, Ronaldinho chegou ao estádio pouco mais de uma hora antes do início da partida. Disse que queria jogar mas a essa altura Edmundo já estava escalado. Houve alguma indecisão, mas acabou prevalecendo a opinião de Zagallo e Ronaldinho foi ao campo.
Em outro depoimento exclusivo concedido ao repórter Chico Santo do Terceiro Tempo no dia em que completou 80 anos, o Velho Lobo esclareceu o caso. "Eu não estava no quarto. Estava no meu apartamento vendo o jogo da Croácia com a França. Depois eu desliguei e dormi até cinco e pouco. Eu não vi o Ronaldo na concentração. Eu soube através do Nelson Borges, que era da imprensa, da CBF. Ele me contou que o Ronaldo teve uma convulsão. E aí eu escalei o Edmundo para jogar no lugar dele. Tive a oportunidade de falar da Copa do Mundo de 1962, que tínhamos perdido o Pelé, sendo o melhor jogador do mundo, e que no dia da final contra a França estávamos perdendo o Fenômeno. Disse que se nós havíamos vencido em 1962 no Chile, sem o Pelé, nós poderíamos ganhar em 1998 sem o Ronaldo. Só que depois houve a reviravolta e ele (Ronaldo) jogou a partida. No 2º Tempo ainda perguntei se estava tudo bem.?
Dentro do Estádio Saint-Denis, o repórter internacional da Gazeta Esportiva, posteriormente editor chefe do Arena SporTV da era Cléber Machado e coordenador de esportes da Rádio Jovem Pan, João Henrique Pugliesi, fotografou a então namorada de Ronaldo Nazário, Suzana Werner em dois momentos distintos. O registro histórico publicado com exclusividade na coluna Futebol Santo do Terceiro Tempo de 06 de abril de 2011, justamente na semana em que Ronaldo Nazário se despediu da Seleção Brasileira contra a Romênia, mostram em um primeiro momento o espanto da atual mulher do goleiro Júlio César ao ver que Ronaldo não estava relacionado para o jogo. Na sequencia, o que se observa é exatamente o oposto. Com a nova escalação em mãos e o nome do camisa 9 timbrado no papel, Suzana Werner volta a sorrir. 
"Sempre estávamos na cola do Fenômeno. Ele treinava sempre e as dores no joelho não desapareciam. Mas ele estava em campo. E resolvia. Era o grande nome da seleção e da patrocinadora oficial da seleção também. Na semana da final contra a França, tensão sobre o jogador de 21 anos. O joelho não aguentava mais. Era infiltração atrás de infiltração. Até que chegou a hora do jogo. Estádio Saint Dennis completamente lotado. Mas e Ronaldo? Ronaldo seria o contraponto. Seria. Momentos antes do início do jogo, os jornalistas tiveram acesso às duas escalações, norma Fifa em todos os jogos. No ataque, Edmundo. Cadê Ronaldo? A mesma pergunta se fazia Suzane Werner, na época namorada do craque, que estava sentada na fileira superior à minha. Correria pra lá. Correria pra cá. O jornalista Ricardo Setyon, que trabalhava pra Fifa, foi até o vestiário da seleção para obter mais informações. Para surpresa geral, outro papel foi distribuído. Agora sim. Lá estava o Fenômeno. Suzane Werner, enfim, sorriu?, relembra o jornalista internacional, chefe de algumas das principais redações de rádio, televisão e mídia impressa João Henrique Pugliesi.
Dentro de campo, antes de chegar à final da Copa do Mundo de 1998, a Seleção Brasileira fez uma campanha instável. Com um time recheado de craques, entre os quais se destacavam as presenças de Taffarel, Cafu, Aldair, Júnior Baiano, César Sampaio, Roberto Carlos, Dunga, Ronaldo, Rivaldo, Leonardo e Bebeto, o Brasil estreou com uma vitória por 2 a 1 contra a Escócia em 10 de junho em Paris. César Sampaio e Boyd, contra, garantiram a vitória da equipe verde-amarela.
Seis dias mais tarde, diante de Marrocos em Nantes, Ronaldo, Rivaldo e Bebeto balançaram as redes na goleada por 3 a 0. O primeiro tropeço, contudo, não demorou a aparecer. Contra a Noruega, na cidade de Marselha, o Brasil saiu na frente com Bebeto aos 28 minutos do 2º Tempo. Pressionado, o time escandinavo partiu para cima e conseguiu a virada aos 43 minutos da etapa complementar. Mesmo com a derrota, a Seleção Brasileira se classificou como a primeira colocação da chave.
Nas oitavas de final, o Brasil venceu o Chile por 4 a 1 com gols de César Sampaio (2) e Ronaldo (2).  De Paris, o time canarinho voltou para Nantes e passou com o apertado placar de 3 a 2 contra a Dinamarca. Bebeto e Rivaldo (2) balançaram as redes. Veio, então, o jogo tido pelo grupo como o mais difícil para o Brasil. No tempo normal, Brasil e Holanda terminaram empatados com um gol de Ronaldo aos 46 minutos do 1º tempo e outro de Kluivert aos 42 minutos da etapa complementar. A partida foi levada aos pênaltis. Ronaldo, Rivaldo, Emerson e Dunga converteram para o Brasil e colocaram a equipe de Mário Jorge Lobo Zagallo muito próxima do que poderia ter sido o pentacampeonato mundial. Mas, diante da França, o ambiente negativo da Seleção Brasileira pesaria contra as pretensões do Velho Lobo.
"Houve um problema sério do Fenômeno. O problema da convulsão. Isso abalou a nossa estrutura. Nós acabamos perdendo a Copa do Mundo. Eu escalaria ele (Ronaldo) da mesma maneira. Ele chegou da clínica, em Saint-Denis e disse que gostaria de jogar aquela final da Copa, para eu não tirá-lo de maneira nenhuma porque ele não estava sentindo mais nada. Ninguém falou nada e eu tomei a decisão de escalá-lo. Ele mesmo me disse que estava vindo de uma clínica francesa, que tinha feito todos os exames e que não tinha dado nada. Me disse para que por amor de Deus eu não o tirasse daquele jogo. Eu gostava muito dele. Era um cara muito sério, mas a apatia do time naquele dia foi qualquer coisa de importante. O batuque, o samba que todo mundo tocava..., foi um dia de um ônibus que parecia que estava indo para um cemitério. Infelizmente, perdemos?, contou Zagallo no bate-papo com Chico Santo.
Para o grupo, nada marcou tanto a partida quanto os comentários desditosos que davam conta de que a Seleção Brasileira havia vendido a Copa do Mundo para a França. "Na nossa opinião, a melhor seleção daquela Copa era a Holanda e a gente conseguiu passar. Contra a França, esperávamos fazer um jogo de igual para igual.  Mas esse estado emocional, essa apatia, como descreveu o Zagallo,prejudicou. E a França não tinha nada a ver com isso. Tinha um grupo competente, ganhou a Eurocopa depois. Mostraram que não foi por acaso. O que a gente fica mais triste é que muita gente disse que a gente vendeu a Copa, que teve interferência da Nike. Enfim, a gente ouviu cada barbaridade! E eu quero dizer que uma conquista mundial não tem preço. É um dia que ? Deus sabe todas as coisas -, que não era para ser nosso. A gente tem que entender e aceitar isso. Os brasileiros, as vezes, querem encontrar algum motivo, alguma razão para a não conquista, mas, foi o destino que pertence a Deus, infelizmente, para nós, felizmente para eles?, finalizou César Sampaio.
A França na Copa do Mundo
Em 1998, pouco se sabia em relação à equipe que entraria para a história do futebol mundial como um dos times mais entrosados e competitivos da década. A França de 98, como ficou conhecido o elenco de Aime Jacquet conquistou à partir daquela Copa a hegemonia do futebol da época e resgatou o respeito junto as demais seleções do planeta ao levantar também a Eurocopa de 2000. Das estrelas presentes, evidentemente, nenhuma chamou mais a atenção do que Zinedine Zidane.
Em alta na Juventus, o camisa 10 da Seleção Francesa foi o principal nome dos Bleus em sua primeira conquista mundial. De fora das Copas da Itália (1990) e Estados Unidos (1994), a França voltou a disputar uma partida oficial do principal torneio de futebol da FIFA na noite de 12 de junho de 1998, em Marselha, contra a África do Sul. Cerca de 55 mil pessoas assistiram a goleada francesa por 3 a 0 com gols de Dugarry, Issa e Thierry Henry. Seis dias mais tarde, em Saint-Denis, o mesmo palco da vitória contra o Brasil na final da Copa, outra goleada. Thierry Henry (2), Trézéguet e Lizarazu garantiram a convincente vitória por 4 a 0 diante da Arábia Saudita. Por fim, na tarde de 24 de junho em Lyon, o desfecho da primeira fase frente a Dinamarca, com o placar favorável de 2 a 1. Djorkaeff e Petit balançaram as redes.
Em 29 de junho, em Lens, os franceses fizeram a partida mais difícil do mundial. Em jogo válido pelas oitavas-de-final, França e Paraguai terminaram empatados em 0 a 0. A partida foi levada para a prorrogação. O Paraguai esteve perto de eliminar a dona de casa com um chute na trave durante a morte súbita?. Entretanto, aos 8 minutos da etapa complementar, quando o confronto se aproximava das penalidades, Blanc garantiu a permanência da França na Copa.
Na sequencia da competição os Bleus encararam outra pedreira. Contra a Itália, em 3 de junho, em Saint-Denis, empate no tempo normal e na prorrogação. Na disputa por pênaltis, vitória por 4 a 3. Zidane, Trézéguet, Henry e Blanc convertam as cobranças francesas, enquanto Lizarazu (França), Albertini (Itália) e Biagio (Itália) passaram batidos. Diante da Croácia, na semifinal em 8 de junho, vitória por 2 a 1 contra a Croácia com dois tentos assinalados por Thuram. A França estava classificada para a final da Copa.
Em 12 de julho de 1998, o mundo acompanhou o drama de Ronaldo Nazário. Duas escalações foram entregues antes do jogo. Edmundo questionou Zagallo. Surgiram os boatos jamais comprovados de que a Nike teria colocado Ronaldo em campo e a Seleção Brasileira vendido a Copa do Mundo para a França. Até que se prove o contrário, desculpa de perdedores. Mesmo porque, a partir daquela data, os brasileiros descobririam que Zinedine Zidane era muito mais do que um grande jogador. Zizou foi quem abriu o placar para os franceses. Marcou os dois primeiros gols da goleada de 3 a 0 fechada por Petit. Passeou em campo. Depois, oito anos mais tarde, nas quartas-de-final no mundial da Alemanha, entrou para o livro de estatísticas da CBF como o maior carrasco brasileiro em Copas ao eliminar o time canarinho com uma atuação de gala descrita pelo jornalista Flavio Prado como "mágica?. Se em 1998 havia a dúvida em relação a superioridade dos Bleus em relação ao Brasil, ao fim da primeira década do Século XXI o cenário era outro com Zidane superando Michel Platini.
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