Copa do Mundo de 1990

O tricampeonato da Alemanha
Por Chico Santo

Em 1990 a Copa do Mundo voltou à Itália. Pela segunda vez, ao longo da história dos mundiais, o torneio foi disputado em solo italiano. Na décima quarta edição do torneio, entretanto, a FIFA não cometeu o mesmo equívoco de 1934 quando entregou a competição ao fascismo de Benito Mussolini durante a eminência da 2ª Guerra Mundial. Cinquenta e seis anos depois, o que se viu na Europa superou os interesses individuais dos regimes autoritários bem como as divergências entre socialistas e capitalistas que marcaram a Guerra Fria. Prova disso, Tchecoslováquia, União Soviética e Alemanha Ocidental se despediram dos gramados naquele ano, o primeiro a reunir todos os campeões mundiais.

O título da seleção germânica, ainda sem a unificação esportiva com sua porção Oriental, deu à história, através das páginas do futebol, a sensação do que poderia ser considerado uma espécie de ajuste de contas com o tempo. Com a queda do Muro de Berlim, em 9 de novembro de 1989, o torneio foi disputado na Europa com a certeza de que a bola, se não estivesse voltada em 100% às práticas desportivas, ao menos, finalmente, foi jogada no Velho Continente fora do foco dos olhares desafiadores de Estados Unidos, Rússia e seus respectivos aliados. Em outras palavras, a FIFA conseguiu fazer com que, simplesmente, a Copa do Mundo fosse disputada no campeonato de futebol mais charmoso do planeta, o único que tinha Diego Armando Maradona, meia do Napoli e maior nome do futebol da época. 

Caçado pelos adversários, Maradona recebeu um total de 53 faltas ao longo da competição. Entretanto a Argentina terminou o campeonato como o time mais indisciplinado do mundo. Ao todo, a equipe portenha cometeu 177 infrações, dentre as quais, 23 resultaram em cartões amarelos e três em expulsões.

Além de Maradona outros atletas também incorporaram a Seleção da Copa. As principais estrelas eram Lothar Matthaus, Jürgen Klinsmann, Caniggia, Basualdo, Van Basten, Ruud Gullit, Franklin Rijkaard, Donadoni, Baresi, Roberto Baggio, Francescoli, Valderrama, Freddy Rincón, René Higuita e Roger Milla. No gol Walter Zenga entrou para o livro dos recordes como o goleiro que mais tempo ficou sem tomar um gol em uma Copa. Foram exatos 517 minutos. O arqueiro só teve a meta vazada aos 22 minutos do 2º Tempo com um gol do argentino Caniggia, na semifinal entre Itália x Argentina, em Nápoles. Pela primeira vez as equipes da Costa Rica, Irlanda e Emirados Árabes participaram da competição. O time árabe foi dirigido por Carlos Alberto Parreira, estreante na função.

A Campeã

O ano de 1990 marcou a última participação da Alemanha Ocidental na história das Copas. Mais do que o título levantado após o duplo vice-campeonato de 1982 e 1986, a conquista representou o importante momento de unificação do país um ano depois da queda do muro de Berlim, o símbolo máximo da separação do país. Basta dizer que tanto a parte ocidental quanto a porção oriental do território germânico vibrou com a campanha da equipe que, apesar de dividida, representou a mesma nação.

Para o mundial, Franz Beckenbauer, campeão como jogador em 1974 ? o único a repetir a façanha de Mário Jorge Lobo Zagallo - reuniu um grupo formado pela experiência de Lothar Matthaüs e a promessa da dupla de ataque Rudi Voeller e Jürgen Klinsmann. Três das estrelas do time, responsáveis diretos pelos gols da vitória por 4 a 1 diante da Iugoslávia na partida de estreia no estádio Giuseppe Meazza, em Milão, na noite de 10 de junho de 1990. Matthaüs foi o autor de dois gols.

O trio voltou a marcar contra os Emirados Árabes Unidos. Desta vez, Rudi Völler foi quem balançou as redes por duas vezes. Uwe Bein anotou o outro tento da goleada por 5 a 1. Contra a Colômbia, o ataque alemão passou batido e Pierre Littbarski só conseguiu abrir o placar aos 44 minutos do 2º Tempo. Partida em que a defesa germânica pecou no final, ao deixar o colombiano, ídolo do Corinthians, Freddy Rincón empatar aos 45 minutos da etapa complementar.

Mesmo, assim, a Alemanha Ocidental se classificou na liderança do Grupo D com um ponto a mais que a Iugoslávia. Nas oitavas-de-final, reencontrou a Holanda, com quem fez a final de 1974. Mais uma vez, os holandeses se deram mal. Placar de 2 a 1 para os alemães com gols de Jürgen Klinsmann e Andreas Brehme. Na sequencia da competição, os comandados de Franz Beckenbauer derrotaram a Tchecoslováquia por 1 a 0 com outro gol de Lothar Matthaüs e, contra a Inglaterra, através das cobranças de pênaltis depois do empate em 1 a 1, chegaram a final do mundial.

A última partida da Copa foi disputada no Estádio Olímpico de Roma. Mais de 70 mil pessoas assistiram ao encontro de Matthaüs e Diego Armando Maradona. Nenhum dos dois marcou. Andreas Brehme, de pênalti, foi o autor do único gol da partida. Na Itália, a Alemanha Ocidental se despediu dos gramados com a taça de campeã do mundo.

O Brasil na Copa do Mundo

Em 1990, a Seleção Nacional do Brasil chamou mais atenção pelo clima de deselegância extra-campo do que propriamente pelo bom futebol. Apesar do precioso momento brasileiro, ao menos no que diz respeito ao ponto de vista técnico, Sebastião Lazaroni não soube extrair o melhor aproveitamento da diferenciada safra de atletas nacionais. Tido como um técnico teimoso, o treinador tentou em vão implantar um esquema tático europeu, com cinco jogadores com funções mais defensivas do que construtivas no meio de campo, dois alas, um líbero e outros dois atacantes isolados no comando ofensivo.

Um esquema tático, acima de tudo, prejudicial às características de cada uma das peças do grupo. Seleção Brasileira que poderia ter encantado o mundo se tivesse dependido mais do talento individual de um time unido. Mesmo porque, na ponta do papel, a equipe que estreou em campo com Taffarel, Jorginho, Mozer, Mauro Galvão, Ricardo Gomes, Branco, Alemão, Dunga, Valdo (Silas), Careca e Muller poderia ter ganho qualquer jogo. Romário, Aldair, Bebeto, Renato Gaúcho, Mazinho, Ricardo Rocha, Tita, Acácio e Zé Carlos também estavam na pedra. Enquanto Bismarck foi o único a viajar para fazer turismo e Neto, o Xodó da Fiel, ficou de fora da lista.

Em duas de suas declarações, Sebastião Lazaroni demonstrou a antítese de seu trabalho. Na primeira delas, esperançoso, reconheceu o poder de seus convocados: "Se esse time brigar pela bola e acertar os ataques nós vamos retomar a liderança do futebol mundial.? Depois usou da arrogância para responder pela própria incompetência. "Se você quiser escalar três atacantes, faça o curso de treinador e venha treinar o time.

Por outro lado, o treinador não foi o único culpado pelo fracasso do Brasil na vexatória campanha da Copa do Mundo da Itália. Nos bastidores, o time de 1990 ficou conhecido pelos escândalos internos que marcaram as rinchas, brigas, desentendimentos e cobranças de bicho em pleno mundial. Falta de comprometimento com a camisa verde-amarela que fez com que o elenco canarinho se voltasse contra a imprensa para boicotar o trabalho dos jornalistas presentes na Europa. Fato que contribuiu com que os torcedores no Brasil tivessem poucas informações sobre a Seleção Brasileira no mundial.
Em diferentes momentos, foram muitos os relatos que algo estava errado. "Falta tesão para muito jogador. Eu não sou um acomodado. O dia em que eu encostar o corpo, eu me aposento?, disse Renato Gaúcho. "Lazaroni foi desonesto comigo?, disparou Bebeto. Romário pediu para sair: "Pode anotar: foi a minha primeira e última Copa do Mundo.? Aldair cobrou a falta de oportunidade: "Vim disputar a Copa e o máximo que consegui foram promessas?.

A bem da verdade, o único e expressivo resultado da equipe de Sebastião Lazaroni foi visto na Copa América de 1989 quando o Brasil voltou a vencer após 40 anos de jejum. O mesmo não se observou nas Eliminatórias Sul-Americanas. A Seleção Brasileira esteve próxima da eliminação, mas teve a fraca atuação no torneio minimizada por Roberto Rojas. O goleiro chileno, banido do futebol, ganhou as páginas dos principais jornais do mundo depois de cortar o próprio rosto com uma gilete levada dos vestiários para o gramado. A cena foi montada no momento em que a torcedora Rosenery Mello disparou um rojão das arquibancadas para o campo. O foguete não acertou o chileno.

No mundial, o Brasil não convenceu nem diante da fragilidade dos adversários que encontrou na primeira fase. O placar mais elástico foi contra a Suécia, na estreia da competição em 10 de junho de 1990. Careca fez os dois gols da vitória por 2 a 1. Na sequencia, o time canarinho não conseguiu nada além de um magro 1 a 0 frente a Costa Rica e a Escócia. Mulher foi o salvador da pátria e garantiu a classificação da Seleção Brasileira para as oitavas de final.

Em 24 de junho, também em Turim, Argentina e Brasil fizeram um jogo memorável. Uma partida em que a falta de pontaria e a sorte estiveram ao lado do time portenho diante da coletânea de gols perdidos pela Seleção Brasileira. Dunga, Careca e Alemão acertaram a trave. Muller teve outras duas chances claras de gol. Entretanto, a genialidade de Maradona não foi parada. O craque argentino se livrou de exatos 7 brasileiros antes de fazer a assistência na jogada que resultou o gol de Claudio Caniggia. Um golaço que acabou com os sonhos do desunido time brasileiro de conquistar a Copa do Mundo.
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