Copa do Mundo de 1982

O show de Rossi na Seleção de Telê
No dia 5 de julho de 2017, o portal UOL publicou a seguinte matéria sobre a Copa do Mundo de 1982:

Craques da seleção de 82: onde Brasil errou e o que Tite não deve fazer?

Marcello De Vico e Vanderlei Lima

Do UOL, em Santos e São Paulo

Trinta e cinco anos se passaram desde o fatídico 5 de julho de 1982. O dia em que até mesmo brasileiros que pouco ligavam para futebol caíram aos prantos após ouvirem soar o apito final de Itália 3 x 2 Brasil, resultado que eliminou a seleção da Copa do Mundo e ficou conhecido como a Tragédia de Sarriá, estádio onde foi disputada a partida.

Apesar da derrota, o time comandado por Telê Santana ainda é lembrado como um dos que jogou o futebol mais bonito da história. E desta forma, chega a ser natural, mesmo após tanto tempo, ainda tentar encontrar – ou ao menos discutir – os motivos que fizeram a seleção brasileira ficar sem a taça.

E ninguém melhor do que os próprios personagens da seleção de 1982 – além de jornalista que acompanham o Brasil passo a passo – para buscar as respostas para o que se tornou uma das maiores tristeza da história do futebol brasileiro. Waldir Peres, Toninho Cerezo, Zico, Falcão, Serginho Chulapa e Oscar, além dos jornalistas Juarez Soares (então repórter de campo da TV Globo) e Márcio Gudes (então comentarista da TV Globo), conversaram com o UOL Esporte e deram suas versões sobre o que aconteceu.

Erros táticos, salto alto e a falta do "DNA ofensivo" foram alguns dos motivos apontados para o revés ao longo das entrevistas, que destacam também o que o técnico Tite não deve fazer para que a história de 1982 não volte a se repetir na Copa do Mundo Rússia, em 2018.

ONDE O BRASIL ERROU NO JOGO CONTRA A ITÁLIA?

Zico: ele, Falcão, Cerezo ou Sócrates precisavam ficar no banco

Entre eu, Falcão, Cerezo e Sócrates, tinha que ter deixado um no banco, porque a gente não teve tempo para treinar com este homem protegendo o lado direito. Se a gente tivesse tempo para treinar a partir do jogo contra a Escócia, que foi o segundo jogo e a primeira vez que a gente jogou juntos na seleção com o Telê... Esse lado direito a gente tentava uma hora eu, outra hora o Cerezo, outra hora o Sócrates, outra hora o Falcão, só que não era a mesma coisa que um Paulo Isidoro, que era um especialista ali, e de um Tita, que antes jogava ali também e depois não foi mais. Tanto é que o Telê colocou o Dirceu no primeiro jogo para tapar este buraco e não deu certo. Eu acho que a gente errou porque não tinha ninguém para dar apoio ao Leandro pelo lado direito. A partir do segundo jogo, a gente jogou com Falcão, Cerezo, Sócrates e eu, e não tinha ninguém que fazia aquele lado direito ali tão bem como os outros faziam. Eu, analisando como técnico, acho que a gente tentou suprir com a qualidade técnica, mas a parte tática... O Leandro ficou muito sobrecarregado e, coitado, às vezes ele teve que não subir tanto porque sabia que não tinha essa proteção, e nosso time ficou meio torto.

Chulapa: Brasil menosprezou a Itália e foi geração perdedora

Nós menosprezamos a Itália, essa é a verdade. Nego não tem coragem de falar. Tem um monte de cara aí que dá desculpa, não tem desculpa coisíssima nenhuma. O time deles [Itália] era bom pra caramba, meu, mas a gente ganhava quando queria, essa é a minha opinião. O time era bom? Bom pra caramba, merecia o título pelos jogadores que tinham, mas foi uma geração perdedora, infelizmente. Zico, Sócrates, Falcão, Cerezo, pô, nunca foram campeões mundiais, isso foi um absurdo. Eu não, mas esses caras mereciam o título mundial. Pô, o empate era nosso... Custava alguém chegar e falar: Ó, vamos ficar aqui atrás, não vamos jogar pra frente. Ora, tira eu ou o Éder e coloca um zagueiro, o Edinho, aquele vagabundo que estava lá... Foi uma geração perdedora, essa é a verdade, infelizmente. A gente parecia índio, só queria atacar [risos].

Cerezo: não houve erro, e Telê fez o que tinha que fazer

Ali todo mundo tinha um só pensamento, que era o bem da seleção. O Telê colocou, escalou quem ele achava melhor, quem estava melhor naquele momento. Eu não entendo que o Telê errou em nada, não. Se errou, todos nós erramos. Como a gente ia jogar pelo empate [Brasil jogava pelo empate para ser campeão] se você tem um time que só joga para frente, só joga em função do adversário? O Telê explorava o melhor da equipe, e o melhor daquela equipe era o quê? Era o toque de bola, jogar em direção ao gol adversário, a criatividade... A não ser que se colocassem sete jogadores só para defender e pronto. Não era a nossa filosofia.

Falcão: Brasil sabia se defender e não esqueceu que empate o classificava

Naquele dia, quis o destino que a Itália ganhasse, porque o Brasil era o melhor time. O futebol não é uma questão de justiça, foi a situação do jogo. Se fosse uma questão de justiça a gente tinha ganhado a Copa, como outras grandes seleções e times teriam sido campeões se fosse uma questão de justiça, mas não tem a justiça no futebol, o que o futebol tem é só um jogo. Essa seleção era irretocável em termos de críticas, em termos de consistência. Ninguém conseguiu até hoje... Talvez tenha sido a única seleção do Brasil que perdeu e não tinha alguma crítica a se fazer, porque toda imprensa entendia que jogavam os melhores. O Brasil fez, até jogar com a Itália, 13 gols, e tínhamos sofrido três. Não dá para se dizer que não era um time que se defendia bem.

Segundo: se a gente computar mesmo os três gols que tomamos contra a Itália, foram seis, e fizemos 15, então não dá para dizer que era um time que não sabia marcar, que não sabia se defender. Não tem nenhuma tese contrária que justifique que aquela seleção perdeu por esse ou por aquele motivo, perdeu porque naquele dia a Itália jogou muito bem. Nós também jogamos bem, e eu aprendi quando eu comecei a fazer jornalismo a contextualizar as coisas; poucas pessoas fazem a contextualização, ela leva à justiça na crítica. E não houve nenhuma crítica consistente que pudesse dizer assim: esse foi o motivo que perdeu. Não. A Itália estava num grande dia, o Brasil também estava num grande dia. O Zoff [goleiro da Itália] fez dois milagres e terminou o jogo. Foi um jogo só, né. Por justiça, a última frase que o Telê falou [na preleção] foi: Gente, nós vamos jogar como sempre jogamos, vamos jogar para ganhar porque essa é a nossa característica, não vamos fugir da nossa característica, mas não vamos esquecer que o empate nos classifica, e nós não esquecemos, tanto é que no terceiro gol [da Itália] nós tínhamos dez jogadores dentro da área.

Oscar: Tite não se arriscaria tanto quanto Telê se arriscou

Eu não vou dizer que tenha sido um erro porque aquele time, naquela época, não sabia jogar diferente, jogava ofensivamente, tanto é que o meio de campo era muito técnico, com Cerezo, Falcão, Zico e Sócrates, ou seja, não tinha nenhum homem que pegava firme ali, que funga no cangote, que nem o Batista, que era o cara mais marcador - ele estava poupado para poder jogar [na sequência do Mundial], contra a Argentina ele se machucou -,então o Brasil achava que passaria, mas também foi um erro de cálculo. Não que o Batista ia resolver a situação, mas era um cara marcador. Por exemplo: hoje o Tite com certeza não faria aquilo lá. Ele tem a seleção de 82 como referência, mas eu garanto que, contra a Itália, ele jogaria em cima do resultado, em cima do regulamento. Eu penso que hoje, com o Tite, seria diferente, mas eu não quero aqui crucificar a comissão técnica de 82, mesmo porque não tem o que falar de Telê Santana. Quando estava 2 a 2, a gente podia ter fechado, mas o problema é que o nosso time não sabia jogar defendendo, não tinha essa característica.

Waldir Peres: Brasil não errou. A Itália que soube marcar

Não erramos. É que a Itália soube marcar a nossa equipe. A Itália tem uma marcação muito grande, o futebol na Itália é assim. Fez, com isso, que a equipe [brasileira] não jogasse da maneira que vinha jogando, e as oportunidades de gols foram aproveitadas. Nós tivemos oportunidade também, inclusive um pênalti no Zico que não foi dado. Em termos de tática e técnica foi um time importante, totalmente habilidoso, que jogava ofensivamente, que era o Brasil, e o esquema tático da Itália, de se fechar num momento certo, embora o Brasil tenha tido muito mais oportunidades de fazer gol do que a própria Itália.

Márcio Guedes: seleção brasileira deveria ter sido mais cautelosa

Eu acho que o Brasil entrou em campo achando que a vitória já estava garantida, porque no time havia aquela sensação de uma superioridade incrível em função das goleadas iniciais. Houve até advertência do Zezé Moreira [espião de Telê Santana na Espanha] de que a Itália tinha bons jogadores, mas isso parece que não foi ouvido e o Brasil entrou em campo, em minha opinião, com o sistema defensivo quase sempre vulnerável a contra-ataques italianos: a Itália jogando futebol tradicional, de cautela e com jogadores muito bons, de toque de bola, de velocidade na hora da passagem da defesa para o ataque, e o Brasil não se preparou pra isso. O Leandro e o Junior, os dois laterais do Brasil, eram grandes jogadores com a bola nos pés, mas não eram marcadores, especialmente o Junior, e o Telê gostava daquele miolo ali, de jogadores muito leves. E o Brasil, mesmo assim, estava melhor no jogo, mas acabou não resistindo aos contra-ataques fatais do time italiano e esqueceu que poderia ter tido um esquema de jogo muito mais cauteloso. Foi um resultado, em minha opinião, que não foi injusto, não. Talvez o empate seria o ideal. Foi consequência de certa soberba do Brasil e do bom time italiano também, basicamente isso.

Juarez Soares: Brasil precisava de um jogador de mais marcação

O Telê fazia questão de ganhar o jogo com o time jogando bem. Ele falava que preferia perder um jogo com o time jogando bem do que ganhar com o time jogando mal, porque ele achava que, com o time jogando bem, a chance de ganhar era muito maior do que se o time se preocupasse em se defender. Ele gostava do futebol espetáculo. E na escalação do Brasil contra a Itália, o Brasil tinha dois meias, o Zico de um lado e o Sócrates do outro, e os dois volantes, que eram Falcão e Toninho Cerezo, e um ponta esquerda que voltava para ajudar, que era o Éder Aleixo. Não tinha um ponta do lado direito. O que me parece é que, num determinado momento, precisaria de um jogador de maior marcação no meio-campo, que fosse correr pelo Falcão, pelo Zico e pelo Sócrates. E esse jogador não teve na Copa de 82. O Brasil teve três vezes pra continuar na Copa: primeiro quando o jogo estava 0 a 0, depois 1 a 1 e depois 2 a 2. Nessa hora faltou esse jogador, tipo o Gérson, o canhota de 70, que era outro jogador espetacular, que falava para os caras: agora, moçada, acabou o jogo bonito, vamos garantir esse resultado aqui, você vem pra cá, você vai pra lá, como ele fez em 70, como o Cruijff sabia fazer, como o Xavi, que jogou no Barcelona, sabia fazer, como o Zidane sabia fazer. O Brasil tinha craques: o Zico era um artilheiro, o Sócrates tinha visão de jogo, mas faltou esse jogador que abrisse mais a boca pra falar. Contra a Itália, o Brasil só continuou jogando, e aí, os lances que o Paolo Rossi fez os gols, foram lances pontuais, não lances trabalhados.

O QUE TITE TEM DE FAZER PARA QUE BRASIL NÃO REPITA 82?

Chulapa: Brasil tem de jogar com seriedade e de acordo com regulamento

Jogar com seriedade, lá [na Espanha] nós não tivemos, e jogar de acordo com o regulamento. Hoje é outra história, a seleção está classificada, entrosada, então hoje o Brasil volta a ser um dos candidatos, mas nunca querer mudar a maneira de jogar, dizer que já está bom, isso não dá. Tem que ganhar a Copa do Mundo para poder ter a identidade do Tite.

Zico: Tite não deve mudar esquema sem treinar antes

Não mudar o esquema que deu certo durante três anos. Por mais que os jogadores estejam prontos para serem colocados no time, treinar os jogadores. Hoje, a maioria joga em diversas posições, mas naquela época jogavam os jogadores fixos na posição, então hoje tem mais essa rotatividade, e naquela época não tinha.

Nós jogamos durante três anos de uma forma e, quando chegou na Copa do Mundo, foi mudada essa forma de jogar. Mesmo com a grande qualidade dos jogadores... Mas tem hora que o adversário pode aproveitar isso. Foi igual à seleção de 70, que jogou com jogadores fora da posição; tinham cinco jogadores da mesma posição jogando no time, só que ele [Zagallo] teve um mês para treinar isso. Eles jogaram várias partidas amistosas, treinaram, e a gente, eu, Falcão, Cerezo e Sócrates, nunca tinha jogado junto com o Telê. Sempre tinha um homem do lado direito com o Leandro ou com o Edevaldo [lateral direito reserva], mas a maioria das vezes foi o Paulo Isidoro e o Tita. Aí chegou a Copa do Mundo de 82 e não foi assim depois do segundo jogo, e isso fez diferença.

Oscar: seleção deve ficar mais próxima da torcida

O Brasil tem que estar mais junto com a torcida, ou seja, os jogadores têm que ficar mais próximos da torcida. Como? O Tite tem que arrumar uma forma de ficar aqui no Brasil treinando mais tempo. Nós ficamos treinando quase três meses na Toca da Raposa... Senão fica aquele negócio, parece um time europeu com a camisa do Brasil... É uma sugestão, eu não sei se dá para fazer, mas é uma coisa positiva.

Cerezo: Tite saberá aproveitar jogadores da melhor maneira

O Tite tem uma filosofia que, normalmente, o time dele jogando da maneira que joga, tem sempre dois volantes que chegam na área, o Paulinho e o Renato Augusto, então são dois jogadores que, além de marcar, sabem chegar na área adversária, e estão fazendo isso muito bem. E ainda tem alguns meninos que estão vindo fortes com esta característica de chegar também. O Tite vai saber aproveitar os seus atletas da melhor forma possível.

Waldir Peres: seleção precisa estar preparada para qualquer tática rival

Hoje é completamente diferente, mudou muito de 82 para cá: os esquemas táticos, a maneira das equipes jogarem... Então tem que acertar os jogadores que têm dentro da seleção para poder fazer uma seleção vencedora. O Tite tem que procurar formar uma equipe sólida e uma equipe que supere todos os obstáculos táticos das outras equipes.

FALCÃO TERIA FEITO ALERTA AO BRASIL. ELE MESMO EXPLICA...

De acordo com o zagueiro Oscar, o meio-campista Paulo Roberto Falcão teria alertado, ainda nos vestiários, que o Brasil podia se complicar diante da Itália caso mantivesse a postura extremamente ofensiva e não se preocupasse tanto com a defesa. Zico confirma a versão, mas o "Rei de Roma" nega e esclarece qual foi o tom da conversa antes do apito inicial.

Oscar

Nós até comentamos e o Zico pode falar isso para você, mas o Falcão comentou ao longo da preleção antes do jogo contra a Itália que a gente tinha que atacar menos porque os nossos atletas eram muitos ofensivos... E o Falcão, na época, jogava na Itália e sabia que eles jogavam no contra-ataque, principalmente contra um time ofensivo como era o nosso, e a Itália nos surpreendeu: fizeram um gol rápido e viram que podiam eliminar a gente.

Zico

Ele [Falcão] falou em tom de preocupação, que o time italiano não era um time que estava morto, como muita gente imaginava. Era um time competitivo e que, mesmo indo mal na primeira fase [três empates: 0 a 0 com a Polônia, 1 a 1 com o Peru e 1 a 1 com Camarões), poderia e ia jogar nos nossos erros, e foi o que aconteceu. A gente errou mais do que o normal e eles aproveitaram muito bem.

Falcão

Quando o Telê, depois de ter dado a palestra, me perguntou se eu tinha alguma coisa a acrescentar, na medida que eu jogava no futebol italiano... Porque a gente sabia que o Gentile ia marcar o Zico homem a homem, porque foi assim que o Gentile marcou o Maradona [Itália 2x1 Argentina, antes de Brasil x Itália], nós tínhamos visto o jogo, e tinha ainda o Cabrini, o lateral esquerdo que era um jogador de muita qualidade não só defensivo, mas de apoio, e eu sugeri que o Galo [Zico] fosse para cima do Cabrini de modo que ele levasse o Gentile também para cima do Cabrini, para que ficassem dois marcando o Zico... O Cabrini não ia apoiar com o Zico ali, e ia tirar o Gentile também, nós íamos tirar dois jogadores e ficar com o meio mais aberto, menos congestionado; mas não foi isso que levou a mudança, eu acho que o resultado teria sido o mesmo. Mas a única coisa que eu disse foi isso, e sinceramente, eu não credito que teria mudado na questão do destino. Mas foi o que eu falei quando o Telê me perguntou se eu queria falar alguma coisa, porque eu jogava lá [na Itália] e conhecia os caras. Foi isso.

Foto: Getty Images (retirada do portal UOL)

Em julho de 2012 foi criada a página da Copa do Mundo de 1982, contando os detalhes daquele mundial, confira:

Por Chico Santo

Das touradas à Copa do Mundo. Em 1982 as arenas espanholas perderam espaço para os estádios de futebol. Diego Armando Maradona, Falcão, Paolo Rossi e Michel Platini foram alguns dos gladiadores da bola. Um ano em que o mundial de futebol da FIFA recuperou a credibilidade do jogo, junto aos fãs e patrocinadores, com a exuberância plástica apresentada sobretudo da Seleção Nacional do Brasil, após a catastrófica edição da Argentina, onde os interesses políticos sobrepujaram as regras do esporte.

Das 105 nações que participaram das eliminatórias, vinte e quatro seleções estiveram presentes. O maior número de equipes, até, então. O torneio, montado com 6 grupos de 4 times cada na primeira fase, mais uma vez, não foi disputado pelo sistema de mata-mata, sendo formado, posteriormente, por outros 4 grupos de 3 países. Os melhores pontuados garantiram, dentro de campo, o direito de disputar as semifinais.

Argélia, Camarões, Honduras, Nova Zelândia e Kuwait estrearam na competição. Carlos Alberto Parreira, preparador físico da Seleção Nacional do Brasil campeã de 1970, fez a sua primeira participação como treinador. Com o Kuwait, o futuro tetracampeão empatou com a Tchecoslováquia e perdeu para Inglaterra e França. No duelo frente aos franceses, Parreira viu O príncipe do Kuwait, Fahad Al-Ahmed Al-Jaber Al-Sabah, invadir o gramado após o gol de Girèsse ter sido validado em condição ilegal. Oito anos depois o árabe teria um final ainda mais trágica ao ser assassinado, em 1990, junto com outros membros do Comitê Olímpico Kuwaitiano, o qual pertencia. Situação parecida, dentro dos campos, sem bons resultados, viveu o também brasileiro Tim. Com o Peru, empatou com a Itália e Camarões, antes de deixar o mundial eliminado na goleada sofrida por 5 a 1 diante da Polônia.

Questões de âmbito político, sempre presentes nos mundiais de futebol da FIFA, por pouco não deixaram de fora as seleções britânicas. Além do English Team, a Escócia e a Irlanda do Norte tiveram a presença ameaçada pela Guerra das Malvinas, iniciada 2 meses antes, contra a Argentina. Durante a batalha pela reconquista da ilha localizada entre a Terra do Fogo, Antártica e Atlântico Sul ? no confronto que deixou um saldo de 649 soldados argentinos, 255 inglês e 3 civis ? a autorização para a disputada do mundial saiu apenas dias antes do início da Copa. Afim de incentivar o espírito nacionalista, a primeira ministra inglesa, Margaret Thatcher convenceu o parlamento de que o futebol serviria para ajudar moralmente as tropas e povo britânico.

Foi a primeira Copa de Diego Armando Maradona, expulso na derrota por 3 a 1 contra o Brasil. Competição que teve a maior goleada da história com o placar de 10 a 1 assinalado pela Hungria em cima de El Savador e a inédita decisão de pênaltis na semifinal vencida pela Alemanha Ocidental contra a França. O time germânico, entretanto, saiu derrotado para a Azzurra na grande final.

A campeã

Em 1982, a Itália chegou desacreditada para a disputa da Copa do Mundo. Além da péssima campanha apresentada durante o período de preparação, a Azzurra desembarcou na Espanha sem o atacante Bettega, a principal estrela do time. Oportunidade que a então promessa italiana, Paolo Rossi não desperdiçou. Afastado dos gramados por 2 anos, junto a outros 26 atletas condenados por manipulação de resultados, como ficou conhecido o caso Totonero, o centroavante foi crucial para a conquista do tricampeonato.

Taça que, se dependesse do futebol apresentado na primeira fase, jamais teria sido erguida. Basta dizer que a Azzurra empatou os três jogos disputados. Placar de 0 a 0 com a Polônia em 14 de junho, 1 a 1 com o Peru e 1 a 1 contra Camarões. Se não fosse pelo saldo de gols, com um a mais que a seleção africana, o time italiano, classificado como vice da chave atrás da Polônia, teria caído logo de cara.

Na sequencia, com um grupo formado pelos poderosos Brasil e Argentina, entretanto, o mundial foi outro para a Itália. A Azzurra venceu a Argentina por 2 a 1 e derrotou o Brasil por 3 a 2 com três gols de Paolo Rossi na Tragédia do Sarriá. Depois disso, já com o status de equipe a ser batida, sobretudo após a eliminação da forte equipe de Telê Santana, os italianos venceram na semifinal, novamente com dois gols de Rossi a Polônia por 2 a 0.

A final, disputada no Estádio Santiago Bernabéu, em Madrid, contra a Alemanha Ocidental foi apitada pelo brasileiro Arnaldo César Coelho. Paolo Rossi, o substituto de Bettega, foi quem abriu o caminho para a vitória por 3 a 1. O título igualou os italianos em número de títulos com o Brasil. Cada uma, na época, com três conquistas cada.

O Brasil na Copa

Um time com a cara de Telê Santana. Em 1982, a Seleção Nacional do Brasil desembarcou na Europa para a disputa do mundial como favorita ao título. Mais do que resultados convincentes, a equipe canarinho se tornou respeitada acima de tudo pela maneira como se comportou dentro de campo. Toques de efeito, lances plásticos e uma coesão técnica entre os atletas. Para muitos, um time melhor do que tricampeão em 1970. Versão, entretanto, contestada pelo maior ganhador da história das Copas, conforme declarou Mário Jorge Lobo Zagallo ao Terceiro Tempo no dia em que completou 71 anos de idade.

"Não fico triste quando dizem que a Seleção de 1982 foi melhor do que a de 1970 porque eu sei que não é. Não foi. Ela foi uma grande seleção que teve a infelicidade de não ganhar um título. Ela não chegou nem em 4º lugar. Agora, que a Seleção de 1970 foi melhor, ainda digo mais, a de 1958 ela também foi muito boa. Não vou desmerecer quem jogou em 1982, mas eu não aceito dizer que a de 1982 foi melhor do que a de 1970 e de 1958?, opinou o Velho Lobo.

Para conquistar o direito de disputar o mundial da Espanha, o Brasil teve de passar pela Bolívia e Venezuela durante as eliminatórias sul-americanas da Copas. Foram quatro vitórias em quatro jogos. Classificada, cruzou o Oceano Atlântico e enquanto se preparava para a estreia do torneio, enfreou a Inglaterra em uma partida amistosa em Wembley. A vitória por 1 a 0 com gol de Zico foi a primeira da história do Brasil no famoso templo do futebol. Na sequencia, sem medo, derrotou a Alemanha Ocidental em Frankfurt por 2 a 1 e a França em Paris com o placar de 3 a 1.

Só, então, fez a estreia em 18 de junho de 1982. Em Sevilla, começou mal. Poderia ter perdido o jogo se, após a falha de Valdir Peres que resultou no gol da União Soviética, o árbitro  espanhol Augusto Lamo Castillo tivesse anotado os dois pênaltis cometidos pela defesa brasileira. Depois de terminar o primeiro tempo atrás do placar, Sócrates desequilibrou aos 29 minutos da etapa complementar. Driblou dois adversários e chutou forte para empatar o jogo. O Brasil começava a retomar o caminho do gol. Aos 43 minutos, Paulo Isidoro cruzou da esquerda, Falcão abriu as pernas para a bola passar e Éder Aleixo emendou. Os três pontos estavam garantidos.

Contra a Escócia, quatro dias mais tarde, a Seleção Brasileira, novamente, saiu atrás no placar. David Narey, aos 18 minutos abriu o marcador. O Brasil empatou com Zico em uma cobrança de pênalti perfeita. No 2º tempo, Oscar de Cabeça, Éder de cobertura e Falcão de fora da área deram números finais a partida. No último duelo da primeira fase, o time de Telê Santana sequer tomou conhecimento da Nova Zelândia. Zico (2), Falcão e Serginho Chulapa colocaram o Brasil na segunda fase com seis pontos a mais que segunda colocada União Soviética. O título parecia ser uma questão de tempo...

Em 2 de julho de 1978, Maradona fazia parte da equipe portenha derrotada pelo Brasil. Naquela vez, entretanto, diferente do golpe mortal de 1990, na Itália, tudo o que o craque argentino conseguiu foi arrumar uma expulsão em um lance violento contra Batista. O Brasil venceu por 3 a 1 com gols de Zico, Serginho e Júnior. O resultado dava à equipe verde-amarela o direito de empatar com a Itália para seguir às semifinais. Não foi o que aconteceu.

O desastre do Sarriá, como foi batizado o duelo, entrou para a história das Copas como uma das mais disputadas partidas de todos os tempos. Paolo Rossi foi o nome do jogo com três gols anotados pela Azzurra. Para ser mais exato, precisou, na realidade, de apenas 5 minutos para abrir o placar. Sócrates empatou aos 12 minutos. Rossi colocou a Itália novamente a frente aos 25 minutos. Falcão, persistente, deixou tudo igual aos 23 do segundo tempo. O golpe fatal veio aos 29 minutos. Paolo Rossi desclassificou o Brasil e a Itália levantou a taça duas partidas depois. Na coletiva de imprensa, Telê Santana foi aplaudido de pé por todos os jornalistas. O Estádio do Sarriá, como se fosse um ajuste de contas da história, foi derrubado. Em seu lugar foi erguido um complexo residencial.
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